Vencedor da eleição no Equador, Lenín Moreno se apresenta como conciliador

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A QUITO

"Comigo dá para dialogar", insistiu Lenín Moreno, 64, na campanha eleitoral, na tentativa de se diferenciar do padrinho político, o presidente Rafael Correa, cujo desgaste da imagem nos últimos tempos tem muito a ver com seu perfil personalista, centralizador e, para seus críticos, autoritário.

A estratégia de campanha de Moreno para chegar à Presidência foi desde o início apoiar-se nos avanços da gestão Correa na redução da pobreza, na área social e na estabilização política do país, mas diferenciar-se no estilo.

Moreno de fato é mais contemporizador que o antecessor e, em vez de discursos inflamados, prefere falar de modo suave e pausado, contar anedotas e até cantar.

Sua campanha mencionou apenas por alto as acusações de corrupção da gestão atual —só no caso Odebrecht, há a denúncia de que funcionários do governo Correa tenham recebido US$ 33 milhões.

Também negou serem necessárias, na economia, ajustes que afetem os gastos sociais. Mais do que isso, prometeu casas para famílias de baixa renda e plano de saúde para todos os equatorianos.

A principal questão que enfrentará em seus primeiros meses de governo é como manterá as promessas num país que passou de crescer 7% nos anos do "boom das commodities" para encolher 1,7% em 2016 e está endividado.

Mas, se há uma característica considerada positiva tanto por seus eleitores como por alguns desafetos, é que Moreno não se deixa abalar por dificuldades. Isso porque, como reforça, aprendeu com elas ao longo da vida.

Nascido em Nuevo Rocafuerte, na Amazônia equatoriana, de família de origem humilde, foi chamado de Lenín porque seu pai, professor de escola pública, era fã do líder revolucionário soviético.

Homenagear os ícones da esquerda, aliás, era moda no Equador nos anos 1950 e 1960. Segundo dados do registro nacional, há hoje no país 18.464 pessoas que se chamam Lenín e outras 18.728 cujo nome é Stálin.

NA CIDADE GRANDE

Moreno deixou a região amazônica ainda adolescente, para estudar administração em Quito. Formou-se com dificuldades, pois sua família não tinha recursos. Formado, montou uma pequena empresa de turismo e casou.

Sua vida mudaria completamente em 1998, quando voltava para casa de uma padaria e sofreu uma tentativa de assalto. Tentou resistir e levou um tiro nas costas, que atingiu sua coluna. Desde então, perdeu o movimento das pernas e passou a se deslocar com uma cadeira de rodas. Num vídeo que está nas redes sociais conta: "As dores eram horríveis. Em vários momentos, preferi morrer".

Com o tempo, porém, transformou a deficiência em algo a seu favor. Começou a dar palestras motivacionais sobre superação pessoal por meio da alegria e do humor. Sobre esse último tema, aliás, escreveu mais de dez livros.

A atividade o projetou politicamente e foi, então, escolhido por Correa para ser seu vice nos dois primeiros mandatos. No cargo, ficou famoso por percorrer bairros pobres distribuindo roupas e cobertores para crianças.

Em 2013, foi convidado por Ban Ki-moon para assumir o cargo de enviado especial das Nações Unidas para temas de portadores de deficiência e acessibilidade. Por sua atividade nesse posto internacional, em Genebra, chegou a ser cotado para o Prêmio Nobel da Paz.

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