Quando o líder zimbabuano Robert Mugabe, 93, destituiu seu vice-presidente diante de gritos de aprovação da parte de 12 mil membros de seu partido, em 2014, Emmerson Mnangagwa, 75, sentado discretamente em meio aos espectadores e usando com um boné de beisebol com a aba puxada para baixo, manteve a reserva.
O homem que mais tinha a ganhar com a destituição não deixou que aquilo que sentia transparecesse, e se limitou a aplaudir gentilmente, mantendo uma expressão neutra —uma tática de sobrevivência aperfeiçoada ao longo de suas cinco décadas de serviços ao temperamental ditador. Mas o boné que ele usava revelava muita coisa.
Inscritas na parte frontal, ao lado de uma efígie de Mugabe, havia quatro palavras: "Indigenizar, Empoderar, Desenvolver, Empregar" —um slogan da União Nacional Africana Zimbabuana (ZANU-PF), o partido governante do Zimbábue. Naquele dia, ele se tornou o vice.
Mnangagwa, cuja destituição do posto este mês causou a explosão da crise política no Zimbábue, agora está se preparando para assumir a presidência, depois da renúncia de Mugabe na terça-feira, que pôs fim a quase quatro décadas de poder.
Mnangagwa deve ser empossado até quinta (23), disse Patrick Chinamasa, secretário legal do ZANU-PF, à Reuters. Chinamasa, que lidera a bancada do partido no Legislativo, disse que o vice completaria o mandato de Mugabe até a eleição presidencial de setembro de 2018.
Mas há questões sobre a maneira pela qual Mnangagwa governará o país, liderado por Mugabe desde a independência, em 1980.
Em uma declaração divulgada de seu local de esconderijo, na terça-feira (21), Mnangagwa afirmou que os zimbabuanos de todas as áreas precisam trabalhar juntos para reconstruir a economia dilapidada e uma sociedade profundamente polarizada.
"Meu desejo é unir todo os zimbabuanos em uma nova era, na qual corrupção, incompetência, descumprimento do dever e indolência, e decadência social e cultural, não sejam tolerados", ele afirmou.
"Nesse novo Zimbábue, é importante que todos se deem as mãos para que possamos reconstruir a nação em sua plena glória. Esse não é uma tarefa apenas para o ZANU-PF, mas para todo o povo do Zimbábue".
Hosni Mubarak - Egito (1981-2011)
Era vice do presidente Anwar Sadat, assassinado em 1981. Assumiu o poder e implementou uma ditadura militar marcada pela corrupção e pela repressão aos opositores. Foi forçado a renunciar em 2011, em meio aos protestos da Primavera Árabe que tomaram o Cairo
Idi Amin - Uganda (1971-1979)
Assumiu após um golpe militar e liderou a mais sangrenta ditadura do continente. Estima-se que os mortos por seu regime cheguem a 500 mil. Fugiu do país durante a guerra com a Tanzânia, buscou refúgio na Líbia e depois na Arábia Saudita, onde morreu em 2003
Hissène Habré - Chade (1982-1990)
Depôs o recém-eleito presidente Oueddei em 1982 e liderou um regime acusado de matar 40 mil opositores e torturar 200 mil pessoas em oito anos. Foi deposto pelo seu ex-comandante das Forças Armadas, Idriss Déby, que governa o Chade até hoje
Francisco Macías Nguema - Guiné Equatorial (1968-1979)
Primeiro presidente do país, executou membros da própria família, ordenou a morte de vilarejos inteiros e proibiu que os cidadãos deixassem o país. Foi deposto pelo próprio sobrinho, Teodoro Obiang Nguema, que condenou o tio ao fuzilamento por genocídio
Sani Abacha - Nigéria (1993-1998)
Chegou ao poder depois que a eleição de 1993 foi anulada. Derrubou a inflação e aumentou as reservas do país, mas violou direitos humanos e aprisionou grande parte dos opositores. Morreu em 1998 no palácio presidencial em circunstâncias não esclarecidas
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