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Mudança climática cria tempestade perfeita de fogo na Califórnia

As razões que tornam a temporada outonal de incêndios uma das piores já registradas

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São Paulo

Dos dez incêndios florestais mais destrutivos a assolar a Califórnia, nove ocorreram nos últimos 15 anos. A exceção foi Tunnel, de 1991, o terceiro pior da história com 2.900 edificações consumidas nas chamas.

No topo dessa lista lúgubre está Camp, ainda em curso no norte californiano, que já destruiu 6.700 instalações. Camp riscou a cidade de Paradise do mapa, com seus 27 mil habitantes evacuados.

As mortes que causou devem ultrapassar três dezenas. Só 25% do fogo havia sido controlado até a tarde de segunda-feira (12) no condado Butte.

Outra tormenta de fogo, Woolsey, ruge bem mais ao sul, batizado com o nome do cânion onde começou. A célebre localidade de Malibu foi alcançada por ele.

Esta temporada deve entrar para a crônica dos sinistros como a pior de todos os tempos. Tornados de fogo se repetem e assombram as redes sociais com memes tenebrosos.

Os habituais céticos da mudança do clima poderão mais uma vez argumentar que a concentração de incêndios na última década e meia, ou mesmo neste ano, é coincidência. A estação incomumente seca e quente seria fruto da variabilidade natural do clima, dos ciclos solares, de um castigo divino, ou algo assim.

Outra variante de explicação destinada a excluir a mudança climática da equação foi oferecida pelo presidente republicano, Donald Trump: deficiência no manejo florestal.

Ou seja, tudo culpa do governador democrata Jerry Brown. Não por acaso, Brown lidera o estado mais avançado dos EUA em políticas de combate ao aquecimento global. Coisa que Trump nega, já tendo anunciado que deixará o Acordo de Paris (2015), no que foi imitado pelo presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL).

A repetição de padrões, entretanto, vai aos poucos revelando essas alegações como o que de fato são: uma forma temerária de negacionismo, que rejeita por razões ideológicas tudo que a ciência da climatologia vem há muito prevendo e registrando.

A Califórnia teve neste ano o verão mais quente (julho a setembro) desde que a agência de oceanos e atmosfera dos EUA, Noaa, iniciou registros em 1895. A seca estival se prolongou –em outubro, a devastada Paradise recebeu só 3% da precipitação média.

O outono do hemisfério Norte traz os incêndios californianos mais difíceis de controlar porque no verão se acumula matéria seca no solo e os ventos que sopram do oceano –os temidos Santa Ana e Diablo– alimentam as labaredas e fazem as fagulhas de qualquer fogueira saltarem até mais de 1 km.

No ano passado, encerraram-se cinco anos seguidos de seca incomum na Califórnia, que provocou grande mortandade de árvores. Aí veio uma estação de chuvas copiosas, que ocasionaram enchentes e deslizamentos, mas também um surto de crescimento de gramíneas.

O capim secou no verão e garantiu enorme quantidade de combustível sobre o solo, ao lado dos galhos e troncos caídos das árvores castigadas nos anos anteriores. Estavam reunidas as condições para uma tempestade perfeita –de fogo.

Parafraseando a constatação de que a mudança climática, como previsto, está criando um “novo normal” de eventos extremos, o governador Jerry Brown afirmou: “Isto não é o novo normal, é o novo anormal”. Para ele, coisas assim, ou piores, já fazem parte do nosso futuro.

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