A Marinha venezuelana interceptou um navio explorando petróleo para a americana Exxon Mobil em águas territoriais da Guiana no final de semana, segundo um comunicado divulgado pelo Ministério de Relações Exteriores guianense neste sábado (22). Já autoridades venezuelanas afirmaram que o incidente ocorreu dentro de seu território.
Trata-se do último capítulo de uma disputa de mais de cem anos entre os dois países, acirrada após uma série de descobertas de petróleo em alto mar, que podem transformar a Guiana em um dos maiores produtores do combustível na América Latina.
Já a produção de petróleo da Venezuela, que é membro da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), caiu para o menor nível dos últimos 70 anos em meio à crise econômica que afeta o país.
O navio Ramform Tethys, que pertence à empresa norueguesa Petroleum Geo-Services (PGS), estava fazendo pesquisas sobre atividades sísmicas a serviço da Exxon. Após ser abordado pela Marinha venezuelana, o navio suspendeu a exploração e mudou de rota, segundo comunicado do porta-voz da PGS, Bard Stenberg.
"A Guiana repudia esse ato hostil, agressivo e ilegal”, afirmou a Chancelaria guianense no fim da noite de sábado (22). “Esse ato demonstra uma ameaça real do país vizinho ao desenvolvimento econômico da Guiana” e “viola a soberania e integridade territorial de nosso país.”
O ministério afirmou que iria reportar o incidente às Nações Unidas e enviar um comunicado oficial ao governo da Venezuela. Também disse que iria informar os países de origem dos 70 tripulantes do navio sobre “a ameaça à sua segurança”.
Uma porta-voz da Exxon Mobil afirmou que os levantamentos de atividade sísmica no campo de Stabroek, na Guiana, foram “suspensos e serão retomados quando houver segurança”, além de dizer que a embarcação operava na zona exclusiva econômica da Guiana.
No domingo (23), o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela disse, em comunicado, que a Marinha do país, em patrulha de rotina, encontrou duas embarcações a serviço da Exxon em uma área “de soberania inquestionável da Venezuela” e “seguiu os protocolos internacionais apropriados”.
A Chancelaria afirmou que os capitães das embarcações disseram ter permissão do governo guianense para explorar a área, e que os navios mudaram de rota após serem informados de que a Guiana não tinha jurisdição sobre a área.
O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, já havia criticado a decisão da Guiana de permitir exploração de campos de petróleo na costa na região de Essequibo, uma área de selva equivalente a dois terços do território guianense que é reivindicada pela Venezuela.
A Guiana afirma que a Venezuela concordou em abrir mão do território após uma decisão de um tribunal internacional, em 1899. Mas, posteriormente, Caracas voltou atrás.
No começo do ano, a ONU determinou que o Tribunal Internacional de Justiça deveria mediar a disputa, medida que foi apoiada pela Guiana, mas repudiada por Caracas.
A briga esquentou após a Exxon anunciar, nos últimos anos, a descoberta de mais de 5 bilhões de barris de petróleo na costa da Guiana, país de 750 mil habitantes que nunca teve histórico de exploração petrolífera.
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