Descrição de chapéu Governo Trump

Secretário de Defesa renuncia e diz que 'visões não estão alinhadas' com Trump

Jim Mattis anuncia saída do governo um dia após decisão do presidente de retirar tropas da Síria

Jim Mattis, secretário de Defesa, durante cerimônia no Pentágono, em Washington - Susan Walsh - 21.set.2018/AP
Danielle Brant
Nova York

​O secretário de Defesa americano, Jim Mattis, 68, apresentou sua renúncia nesta quinta-feira (20) ao presidente Donald Trump, afirmando que suas visões não estão alinhadas com as do republicano.

Segundo funcionários da Casa Branca ouvidos pela agência Reuters, a renúncia foi apresentada por Mattis durante uma reunião nesta quinta-feira com o presidente. Ele ocupava o cargo desde o início da administração Trump, em janeiro de 2017.

O anúncio ocorre um dia depois de os Estados Unidos anunciarem a retirada dos cerca de 2.000 soldados americanos da Síria, em decisão que teria contado com a objeção de Mattis e de outras autoridades de segurança.

A saída de Mattis traz incerteza ao curso que a administração Trump vai seguir em relação a países como Irã e Coreia do Norte, além de jogar dúvidas sobre a possível retirada de tropas americanas do Afeganistão, além da já anunciada saída da Síria.

Washington pretende retirar cerca de 7.000 soldados americanos do Afeganistão —metade do efetivo dos EUA no país— nos próximos meses, segundo o jornal The Wall Street Journal, citando autoridades de defesa na noita desta quinta-feira.

O general enviou ao presidente uma carta apresentando sua renúncia. “Uma crença central que eu sempre carreguei é que nossa força como nação está inextrincavelmente ligada à força de nosso sistema único e amplo de alianças e parcerias”, escreveu Mattis.

“Enquanto os Estados Unidos continuam a nação indispensável ao mundo livre, nós não podemos proteger nossos interesses ou servir esse papel efetivamente sem manter alianças fortes e mostrar respeito a esses aliados”, acrescentou.

Na mensagem, Mattis afirma que suas visões sobre tratar aliados com respeito e também manter os olhos abertos a agentes malignos e competidores estratégicos são firmes e baseadas em quatro décadas de imersão no assunto.

“Porque você tem direito de ter um secretário de Defesa cujas visões são melhor alinhadas com as suas nesses assuntos e em outros, eu acredito que é certo para mim deixar minha posição”, escreveu.

Em uma rede social, o presidente disse que Mattis vai se aposentar, com distinção, no final de fevereiro. “Durante o mandato de Jim, um progresso tremendo foi feito, especialmente no que diz respeito à aquisição de novo equipamento de combate."

“O general Mattis foi de grande ajuda para mim para fazer com que aliados e outros países pagassem sua parcela de obrigações militares”, acrescentou Trump.

Segundo o republicano, o novo secretário de Defesa será nomeado em breve. “Eu agradeço imensamente a Jim por seu serviço!”

Mattis passava uma imagem de estabilidade em meio a uma Casa Branca que, muitas vezes, parecia caótica.

Mas especulações de que ele poderia deixar o cargo começaram a ganhar força em outubro, depois que o presidente, em entrevista à emissora CBS, afirmou que o general era “uma espécie de democrata” e poderia estar de saída.

Além disso, o presidente tomou decisões que desconsideraram os conselhos de Mattis, como a retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irã, a transferência da embaixada americana em Israel para Jerusalém e o lançamento de uma força espacial que muitos líderes militares viram como desnecessária.

As mensagens de Trump em uma rede social anunciando a saída do secretário pegaram de surpresa oficiais do Pentágono, segundo o jornal The New York Times.

Mattis dizia a amigos próximos que continuaria no cargo, apesar da piora do relacionamento com Trump. Ele via seu compromisso de proteger o Departamento de Defesa e seus 1,3 milhão de membros em atividade como primordial.

Alguns dos nomes potenciais para substituir Mattis criticaram, nesta semana, a decisão de Trump de retirar as tropas da Síria.

O general aposentado Jack Keane qualificou a movimentação de “erro estratégico” em uma mensagem em rede social.

Os senadores republicanos Lindsey Graham e Tom Cotton assinaram uma carta exigindo que o presidente reconsiderasse a decisão e advertindo de que a saída fortaleceria o Irã e a Rússia.

Levantamento do centro de estudos Brookings Institution mostra que a Casa Branca de Trump tem a maior rotatividade em cargos de alto nível dos últimos cinco presidentes americanos.

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