Grupos de vigilância montam barricadas de madrugada para se proteger em La Paz

Conflitos após renúncia de Evo Morales assustam bairros de classe média

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La Paz

Já era a madrugada desta terça-feira (12), e o termômetro marcava 6ºC.

No bairro de Sopocachi, conhecido pela vida boêmia e pelos bares disputados por turistas e bolivianos de classe média e alta, o cenário era muito diferente do habitual. 

O comércio e os restaurantes permaneceram fechados, assim como os supermercados pela manhã. Nas esquinas, há barricadas armadas por moradores, montadas com cordas, arame, tecidos e até mesmo sofás ou móveis velhos.

No centro de cada posto montado pelos grupos de vigilância, uma fogueira para aplacar o frio. Um dos moradores, que não quis se identificar, diz que estava nas ruas para barrar ataques de evistas da cidade de El Alto.

Por isso, é possível encontrar pessoas carregando pedaços de madeira e usando capacetes.

O assunto predominante é o comunicado das Forças Armadas, divulgado na noite desta segunda-feira (11), de que os militares fariam a vigilância da cidade junto à polícia. O tema divide opiniões.

Para um advogado, cujos dois filhos, de seis e oito anos, estão "trancados em casa há dias", a decisão é correta até que se decidam quem manda no país. Ele diz que alguém precisa proteger a população para que as crianças possam ir à escola.

Lixo revirado após protestos ocorridos na noite de segunda (11) em Laz Paz após o ex-presidente Evo Morales deixar o país
Lixo revirado após protestos ocorridos na noite de segunda (11) em Laz Paz após o ex-presidente Evo Morales deixar o país - Marco Bello/Reuters

Com a renúncia de Evo Morales, seguida pela saída do vice-presidente e dos presidentes do Senado e da Câmara, que também decidiram deixar seus cargos, o país ficou acéfalo e caiu num limbo institucional.

Outras pessoas discordam sobre a decisão dos militares. Uma professora universitária opina que o agora ex-presidente abusou do poder, mas afirma que o país não pode ser comandado por soldados, o que, para ela, seria um retrocesso. 

Outra mulher, mais jovem, arquiteta, chamou a atenção para o histórico boliviano, de enfrentamentos entre os indígenas de El Alto com a população de La Paz.

Para ela, é patético que o país não tenha aprendido com os eventos passados e discorda da ideia de que apenas Evo seja capaz de conter esse conflito. "Precisamos de modo urgente refletir sobre uma convivência pacífica”, afirmou.

Logo pela manhã, os grupos de vigilância seguiam nas esquinas do bairro de Sopocachi. Alguns foram para casa comer algo e voltavam com chá de coca e café para os que ficaram ali.

Também traziam celulares, levados para serem carregados nas casas. Sem informação e contato com moradores de outros bairros, é impossível monitorar uma possível nova investida dos habitantes de El Alto para La Paz.

A maioria usa aplicativos como o WhatsApp e compartilha vídeos. O dono de um restaurante disse que espera que as coisas se normalizem logo, “porque um dia fechado já é um rombo nas minhas contas”.

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