Drogas ficaram mais caras e menos puras devido à pandemia, indica relatório da ONU

Preço e qualidade podem levar usuários a usos mais nocivos dessas substâncias

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São Paulo

A recessão econômica, o fechamento de fronteiras, a interrupção do transporte aéreo e as medidas de isolamento têm provocado escassez de vários tipos de drogas em países de todas as regiões do mundo, aumentando assim preços e reduzindo a pureza das substâncias.

Segundo relatório do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC), lançado nesta quinta (25), esses são apenas alguns dos efeitos da pandemia de coronavírus no mercado de drogas ilícitas.

Em março, por exemplo, os preços da anfetamina nos EUA e no México aumentaram devido à dificuldade de produtores mexicanos em conseguir matéria-prima proveniente do leste asiático.

Membro da divisão de investigação criminal da Alemanha exibe cristais de metanfetamina durante entrevista coletiva em Wiesbaden
Membro da divisão de investigação criminal da Alemanha exibe cristais de metanfetamina durante entrevista coletiva em Wiesbaden - Ralph Orlowski - 13.nov.14/Reuters

Esses produtores passam então a utilizar químicos alternativos ou menos regulados e a produzir drogas menos puras. As mudanças levam usuários a modificar seus padrões de uso para comportamentos mais nocivos, um movimento perigoso.

O estudo aponta que a situação remete a outros momentos de tensão global. Durante a crise financeira de 2008, por exemplo, usuários passaram a buscar substâncias sintéticas mais baratas e mudaram seus padrões de consumo para drogas injetáveis.

O UNODC também alerta que, assim como em 2008, a capacidade dos governos de responderem aos problemas relacionados a drogas, seja na contenção da distribuição, no desmantelamento de redes criminosas ou no fornecimento de tratamentos a usuários, pode ser prejudicada por cortes de verbas.

Os efeitos da desigualdade social pelo mundo, escancarados pela pandemia, também esbarram no universo das drogas ilícitas.

Ainda que exista maior prevalência no uso de drogas em países desenvolvidos e em classes sociais mais altas, pessoas social e economicamente mais vulneráveis são mais propensas a desenvolver distúrbios devido ao consumo dessas substâncias.

“O desemprego crescente e a falta de oportunidades torna provável que pessoas pobres e em desvantagem desenvolvam padrões prejudiciais de uso de drogas, sofram de distúrbios relacionados ao uso e apelem para atividades ilegais relacionadas a produção e ao tráfico”, diz o estudo.

Além disso, pessoas vulneráveis podem ser convencidas a entrar em redes criminosas, e agricultores podem ampliar ou começar a se dedicar à produção de substâncias ilícitas, tanto pela falta de alternativas quanto pela falta de fiscalização.

No tráfico internacional, o maior impacto deve ocorrer em países onde grandes quantidades de drogas são levadas em voos comerciais.

Isso deve afetar principalmente o mercado de drogas sintéticas, como metanfetamina e ecstasy, por exemplo, geralmente traficadas em bagagens pessoais de mulas ou em pacotes pelo corpo.

A redução nas rotas aéreas, por sua vez, deve gerar aumento no tráfico por transporte marítimo.

Outra alternativa utilizada por traficantes agora é a darknet —área não rastreável da internet— e o envio de drogas por correio, apesar das rotas de correspondência internacional terem sido rompidas.

Segundo a UNODC, desde a segunda metade de 2017 grandes mercados de drogas na darkweb foram fechados, mas em 2020 foi identificado um aumento nas compras de drogas por esse meio, geralmente feitas por usuários com maior dificuldade de encontrar traficantes nas ruas.

“Há indícios de que a atividade em alguns mercados europeus de droga na darknet cresceram durante o primeiro trimestre de 2020”, diz o relatório.

O relatório aponta ainda que o mundo está usando "mais drogas do que nunca". Estima-se que 269 milhões de pessoas consumiram substâncias ilícitas em 2018 em todo o globo.

Isso representa um aumento de 30% em relação a 2009.

No período, houve aumento na população mundial, mas, ainda assim, o número de usuários aumentou proporcionalmente, de 4,8% para 5,4% da população adulta, quase 1 a cada 19 pessoas.

A pesquisa reforça, entretanto, que a comparação entre anos devem ser vistos com cautela, já que as estimativas representam os melhores dados disponíveis à época.

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