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Coronavírus em Wuhan: como 1º epicentro da pandemia foi de ruas desertas a raves em piscinas

Cidadea não registra casos de Covid-19 desde maio e retirou medidas de distanciamento

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Milhares de pessoas amontoadas sem máscaras boiando em piscinas e cantando juntas em um festival de música.

Não é uma imagem que condiz muito com o mundo de 2020, mas foi o que aconteceu no fim de semana passado na cidade chinesa de Wuhan, onde a Covid-19 surgiu, no final de 2019.

Festa em parque aquático reuniu milhares de pessoas em Wuhan no sábado (15) - AFP

Fotos de pessoas fazendo festas no parque aquático de uma praia em Wuhan foram compartilhadas no mundo todo, enquanto a maior parte do resto do planeta ainda luta para conter a pandemia.

A imagem parece ter sido feita em outra cidade —e não naquela que em janeiro deste ano estava sob estrita quarentena, sem pessoas ou carros nas ruas.

A quarentena foi encerrada em abril e não houve mais casos de transmissão doméstica em Wuhan ou na província de Hubei desde maio.

Lenta volta ao normal

Wuhan fez uma quarentena estrita a partir de 23 de janeiro, quando o vírus havia matado 17 pessoas e infectado mais de 400.

Isso aconteceu uma semana depois de a China confirmar que havia registrado transmissão do vírus entre humanos, algo que ainda não havia sido comprovado.

A cidade de 11 milhões de pessoas ficou totalmente isolada do resto da China, com milhares de pessoas sendo testadas e colocadas sob quarentena ao longo dos meses. Todas as grandes aglomerações foram canceladas, e as pessoas receberam ordens para evitar multidões.

Em março, a quarentena começou a ser aliviada lentamente. Apenas um morador de cada casa tinha permissão para deixar a residência ou condomínio por um máximo de duas horas.

Shoppings reabriram, o transporte público começou a funcionar e as pessoas lentamente voltaram para as ruas —apesar de ainda haver distanciamento social e uso de máscaras.

No dia 8 de abril, a quarentena de Wuhan finalmente foi encerrada.

Imediatamente veio uma onda de casamentos, com noivos finalmente concretizando os planos de se casar —adiados por vários meses.

Por um tempo, parecia que a vida estava voltando ao normal, com escolas reabrindo e empresas e o transporte público retomando suas atividades.

Mas no dia 12 de maio foram registrados seis novos casos de coronavírus. A cidade rapidamente passou a testar 11 milhões de pessoas, e o surto foi contido.

Em junho, mercados noturnos —com camelôs ao longo de ruas estreitas— foram reabertos.

E no mês seguinte, em julho, a vida realmente voltou ao normal na maior parte da China. Cinemas reabriram; alguns parques, bibliotecas, museus e outros estabelecimentos puderam abrir com metade da capacidade. Grandes aglomerações voltaram a ser permitidas.

Hoje, parece que a vida voltou ao normal em Wuhan. As imagens de pessoas fazendo festa e participando do festival de música no fim de semana provou isso. Organizadores ofereceram descontos para mulheres, em uma tentativa de atrair mais visitantes.

Festa em parque aquático de Wuhan, no sábado (15) - Reuters

O Wuhan Happy Valley —o parque temático onde foi realizado o festival— havia sido reaberto em 25 de junho, mas os diretores dizem que o fluxo de visitantes só voltou a ser grande em agosto.

O parque recebe 15 mil visitantes por fim de semana, o que ainda é metade do número do ano passado.

Nas mídias sociais chinesas, algumas pessoas expressaram surpresa com um evento tão grande sendo realizado em Wuhan. Também houve espanto no Twitter e no Facebook.

Mas Wuhan não registra nenhum caso novo de coronavírus desde maio. Cerca de 9,9 milhões de pessoas na cidade foram testadas para o vírus. E não há restrições para multidões.

No entanto, Sanjaya Senanayake, professor associado de doenças infecciosas da Universidade Nacional da Austrália, diz que, enquanto a maioria dos residentes da cidade foram testados, ainda há o risco de o vírus voltar para a Wuhan vindo de fora.

"O problema é que não erradicamos a Covid-19, e isso significa que enquanto a doença não for erradicada ainda há o risco de introduzi-la por meio do exterior ou de outro lugar", disse o especialista à BBC.

Ele cita o exemplo da Nova Zelândia, que deixou de registrar casos de contágio doméstico por três meses, mas que agora está vendo a volta da Covid-19.

"Um estudo de Londres sugere que 10 a 20% das pessoas com Covid-19 são responsáveis por 80% dos casos", diz ele.

"Então se você está juntando grandes grupos de pessoas, você tem que ter cuidado. Mesmo que uma pessoa tenha o vírus, você tem que se preparar para dias difíceis."

Enquanto isso, o vírus segue fazendo estragos em outras partes do mundo. Há mais de 21 milhões de casos. Países com a Coreia do Sul —que pareciam ter sido bem-sucedidos na luta contra o coronavírus— estão enfrentando novas ondas.

Ainda pode levar muito tempo para que muitos países se sintam seguros o suficiente a ponto de permitir aglomerações como a que ocorreu em Wuhan.

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