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China: Xi renova ordem de Covid zero e breca flexibilizações

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Igor Patrick

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Se havia dúvidas quanto ao compromisso da China com a política de tolerância zero à Covid, o líder Xi Jinping fez questão de responder. Viajando a Wuhan na quarta (29), ele afirmou que o país "não pode se dar ao luxo de buscar a imunidade de rebanho e viver com o vírus", dado o tamanho da população e a possibilidade de "um cenário catastrófico".

Ele também demonstrou que está disposto a sacrificar o crescimento econômico em nome do controle da pandemia e defendeu que as medidas tomadas até o momento ajudaram a salvar a vida e a saúde das pessoas. Disse tambem:

  • "Mesmo que haja alguns impactos temporários na economia, não colocaremos a vida e a saúde das pessoas em risco e devemos proteger os idosos e as crianças em particular";
  • "Se fizermos uma avaliação geral, nossas medidas de resposta ao coronavírus são as mais econômicas e eficazes."

Segundo a agência de notícias oficial Xinhua, Xi afirmou estar confiante de que a China conseguirá manter a política de Covid zero "até que a vitória esteja garantida".

O líder chinês, Xi Jinping, visita centro de pesquisa em ciência e tecnologia em Hong Kong, nesta quinta-feira (30) - Liu Bin/Xinhua

Na terça (28), o chefe da Comissão Nacional de Saúde da China, Ma Xiaowei, disse ao embaixador dos EUA, Nicholas Burns, que o país seguiria implementando a política de zero Covid e estabeleceria medidas de controle e prevenção à pandemia de maneira "científica e direcionada".

O posicionamento dos oficiais e do líder chinês está em linha com o que vinha reportando a imprensa.

  • O jornal nipo-britânico Financial Times, por exemplo, informou em abril que Xi estava orgulhoso do controle inicial da circulação do coronavírus e se recusava a adaptar a estratégia após o surgimento de variantes mais contagiosas.
  • O South China Morning Post reforçou que o controle de casos é visto internamente como um sucesso político do PC Chinês e do próprio Xi, motivo pelo qual não há um caminho definido para alívio das restrições.

Por que importa: O sistema chinês é complexo e cheio de burocracia, mas poucas coisas provocam reação tão imediata quanto um pedido direto do líder nacional (especialmente na era Xi).

Oficiais com menor poder hierárquico vinham tomando decisões que flexibilizaram até o limite a política de Covid zero. Após o pedido de Xi, boa parte deles se sentirá desencorajada a continuar esse caminho ou mesmo instada a reverter algumas medidas que derrubaram restrições.

Visitantes chegam ao parque da Disney em Xangai, reaberto nesta quinta-feira (30) após três meses fechado devido à política chinesa de combate à Covid-19 - Ren Long/Xinhua

o que também importa

Líderes do G7 vão destinar US$ 600 bilhões para investimentos em infraestrutura pública e privada a países em desenvolvimento. O projeto é visto como uma resposta à Iniciativa de Cinturão e Rota, promovida pela China principalmente na Ásia e na África.

Nomeada "Parceria para Infraestrutura e Investimentos Globais", a iniciativa deve ser financiada por meio de bancos multilaterais e instituições financeiras de desenvolvimento, fundos soberanos e contribuições diretas. Os EUA contribuirão com cerca de US$ 200 bilhões, e a Europa espera mobilizar US$ 300 bilhões.

Presente no encontro sediado na Alemanha, o presidente Joe Biden fez questão de destacar que o dinheiro "não é ajuda ou caridade", mas um investimento que permita aos países agraciados "ver os benefícios concretos da parceria com democracias".

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também comentou o plano, dizendo que espera oferecer uma "alternativa sustentável" à proposta de Xi Jinping.

Respondendo aos avanços chineses na região do Pacífico, a Austrália anunciou que vai estabelecer uma "escola de defesa" para treinar militares de ilhas vizinhas. O anúncio da ideia, que tenta dissuadir os países insulares de se aproximarem da China, ocorre a poucas semanas do Fórum das Ilhas do Pacífico.

O evento, nas ilhas Fiji, em julho, vai reunir líderes de dez países e discutir o acordo comercial e de segurança oferecido por Pequim no mês passado. Diplomatas chineses vão participar por videoconferência e esperam fechar um pacto multilateral até o próximo dia 14 (último dia do fórum).

O porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijan, afirmou em entrevista coletiva que "a China e as nações insulares do pacífico desfrutam de estreito intercâmbio e cooperação". Ele disse esperar que o países permaneçam em "contato próximo" nos próximos meses.

fique de olho

A Comissão Nacional de Saúde da China anunciou que vai cortar de 14 para 7 o número de dias em quarentena fechada para visitantes vindos do exterior e residentes chineses que estiveram em áreas de risco. O período de observação médica domiciliar caiu de 7 para 3 dias.

A decisão segue uma rodada de flexibilizações anunciadas no início do mês, como o retorno de estudantes internacionais presos fora da China desde 2020 e o relaxamento nas regras de concessão de vistos de trabalho.

Por que importa: após o longo lockdown em Xangai e as restrições de circulação severas em várias outras grandes cidades, o país registrou grande êxodo de talentos estrangeiros. Embora ainda não possa se dar ao luxo de reabrir totalmente o país, dada a baixa eficácia das vacinas domésticas e o alto número de idosos não imunizados, as medidas indicam uma tentativa de equilibrar o controle da Covid e as preocupações com a economia.

para ir a fundo

  • Irã se candidatou na última segunda (27) para se tornar um membro do Brics. No blog na Folha, conto como a diplomacia chinesa reagiu ao assunto (paywall poroso, em português)
  • O Radii China traz uma história incrível de uma mulher sino-brasileira que embarcou em uma jornada em busca das raízes na China e encontrou 15 primos na província de Hunan, centro-sul da China. (gratuito, em inglês)
  • ​O podcast de literatura chinesa BiYiNiao do Livro discorre sobre uma série de poemas escritos pelo lendário Lu Xun, traduzidos e narrados em português pelo linguista Calebe Guerra. (gratuito, em português)
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