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Com 'prosperidade comum', China sinaliza mais gastos com políticas sociais

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Igor Patrick

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A "prosperidade comum" (do chinês, gòng tóng fù yù 共同富裕) voltará à agenda do Partido Comunista e deve ser estabelecida como objetivo estratégico no congresso que reconduzirá Xi Jinping a um terceiro mandato, informou o jornal South China Morning Post.

  • O termo, que começou a ser usado com mais frequência por Xi em 2021 e estava esquecido frente às dificuldades causadas pela pandemia, fazia parte do léxico de Mao Tse-tung desde 1950 e se refere às políticas de combate à desigualdade.
Conselho de Estado em comemoração do 73º aniversário da fundação da República Popular da China - Huang Jingwen - 30.set.22/Xinhua

Segundo o jornal, citando falas do diretor de economia da Escola Central do Partido em Pequim, Han Baojiang, a nova liderança chinesa vai se ocupar em produzir "um roteiro mais claro e detalhado para impulsionar a prosperidade comum antes de o Congresso começar no dia 16 de outubro."

Dando sinais de que o tema será de fato ressuscitado, o presidente da Associação de Seguridade Social e membro do Comitê Permanente da Assembleia Popular Nacional da China, Zheng Gongcheng, participou na última semana de um seminário e discursou sobre o assunto.

  • "Uma economia de mercado não pode resolver automaticamente o problema da equidade social e, se o sistema de distribuição não for justo, o resultado será a polarização. [...] A China aprendeu com as lições da economia planejada e insistiu em se opor ao igualitarismo, o que estimulou uma vitalidade sem precedentes, mas também formou um padrão de grande disparidade [...]. Chegou a hora de incentivar todos a enriquecerem legalmente, construindo um sistema de distribuição justo", afirmou, conforme compilado divulgado pela newsletter americana Sinocism.

O vice-presidente da Academia Chinesa de Ciências Sociais —principal instituição de pesquisa no país e responsável pela base teórica de várias políticas públicas—, Gao Peiyong, esteve presente no mesmo evento e complementou dizendo ser necessário "dar pleno destaque ao papel dos grupos e empresários de alta renda, incentivando-os a retribuir mais à sociedade, o que não é, de forma alguma, ‘tirar dos ricos para dar aos mas pobres’."

Por que importa: Ninguém sabe exatamente o que Xi Jinping entende como "promoção da prosperidade comum", o que leva a especulações sobre a forma como a política será implementada. Os sinais indicam para uma taxação maior de fortunas, regulação contra monópolios, regras mais específicas quanto ao direito de uso da terra, transferência de renda e desembolso de subsídios às famílias. Em resumo: uma China mais intervencionista e disposta a gastar mais com despesas sociais.

Empresas locais não vão esperar e já se apressam para causar boa impressão com os reguladores: Tencent e Alibaba, por exemplo, anunciaram fundos bilionários para sustentar iniciativas de prosperidade comum. Como serão usados? Talvez a resposta esteja mais clara depois do Congresso Nacional, marcado para o dia 16.

Dica da semana: Em maio, a Asia Society publicou um relatório em que avalia o que "prosperidade comum" significa na prática e como o conceito deve moldar várias políticas públicas chinesas. A seu favor, o think tank conta com o ex-premiê australiano Kevin Rudd na presidência, conhecido por ter vários contatos na alta roda do poder na China e ser um entusiasta do tópico. Disponível aqui (em inglês).

o que também importa

Naufragaram as negociações para liberação da vacina contra a Covid-19 produzida pela farmacêutica Moderna na China.

Segundo o jornal britânico Financial Times, Pequim exigiu que a empresa cedesse a propriedade intelectual por trás da fórmula baseada na tecnologia de mRNA. A Moderna recusou o pedido citando "preocupações comerciais e de segurança" e desistiu de entrar no mercado chinês por ora.

Há duas semanas, a CEO da companhia, Stephane Bancel, confirmou que tentava receber a luz verde dos reguladores chineses para a vacina. Se as conversas tivessem avançado, o imunizante seria o primeiro estrangeiro autorizado para uso na China continental.

Taiwan está estocando "suprimentos críticos" em preparação para possíveis bloqueios ou um conflito com a China continental, informou à imprensa o vice-ministro da Economia da ilha, Chern-Chyi Chen.

Segundo ele, os preparativos se concentram em torno de suprimentos essenciais como minerais, produtos químicos, alimentos e energia. "Temos um sistema e estamos fazendo um inventário todo mês. Queremos garantir que tenhamos o suficiente para um determinado período de tempo", afirmou o representante.

A preocupação se justifica pelo cerco promovido por Pequim à ilha em agosto. Na ocasião, a China continental disparou mísseis reais sobre Taiwan e bloqueou algumas rotas de navegação com exercícios militares que duraram vários dias. A iniciativa foi uma retaliação à visita da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taipé.

fique de olho

As Ilhas Salomão decidiram chancelar um acordo das nações insulares do Pacífico com os Estados Unidos que prevê cooperação em mais de 11 áreas, entre elas desenvolvimento sustentável, combate às mudanças climáticas e segurança regional.

A assinatura, porém, só veio depois dos americanos concordarem em remover todos os trechos interpretados pelos salomônicos como ataques velados à China. O ministro das Relações Exteriores do país, Jeremiah Manele, disse à imprensa que o texto anterior forçava seu povo a "escolher lados". O acordo original não se referia à China em nenhum momento, embora condenasse a invasão russa na Ucrânia e pedisse proatividade internacional para resolver o problema.

Por que importa: O pacote estabelecido por este acordo —algo na casa dos US$ 800 milhões (R$ 4,57 bilhões)— é uma tentativa americana de "voltar ao jogo" e tentar conter a influência chinesa no Pacífico.

  • Washington se assustou em maio, quando as Ilhas Salomão anunciaram um amplo acordo de segurança com os chineses que permitia até mesmo o deslocamento de forças militares e de policiamento até o país. O movimento abriria passagem para aproximação chinesa da costa australiana, localizada a cerca de 2.000 quilômetros de distância;
  • A resistência inicial das Ilhas Salomão talvez seja um indicativo de que as nações insulares na região podem não ser facilmente convencidas. Tão geograficamente próxima de duas potências militares, a maioria pode optar por fazer vista grossa à expansão chinesa ou mesmo buscar lucrar com isso.

para ir a fundo

O South China Morning Post conta nesta excelente reportagem como a língua chinesa sobreviveu a séculos de reformas fracassadas, diferentes métodos de transliteração e previsões de extinção. (paywall poroso, em inglês)

Outro portal a trazer boa reportagem nesta semana é o Sixth Tone, que escreve sobre a dificuldade de jovens chinesas para encontrar pretendentes na zona rural (e como elas são estigmatizadas por estarem solteiras). (gratuito, em inglês)

A Universidade Harvard vai realizar uma mesa de discussão no dia 8 de novembro sobre as transformações na China após o Congresso Nacional do Partido Comunista. O evento será híbrido e quem quiser assistir online deve se inscrever aqui. (gratuito, em inglês)

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