Pais antivacina perdem custódia de bebê doente na Nova Zelândia

Casal não aceitava que criança recebesse doação de sangue de vacinados contra Covid-19

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São Paulo

Um bebê neozelandês de seis meses com problemas cardíacos precisava ser operado para continuar vivo. O sistema de saúde do país da Oceania já havia aprovado e organizado o procedimento, mas um empecilho travava a realização da cirurgia: os pais da criança. Eles não aceitavam que ela recebesse sangue de doadores vacinados contra a Covid-19.

Na quarta-feira (7), porém, a Justiça contestou a exigência do casal e assumiu a custódia temporária do bebê até que a cirurgia seja realizada, e sua recuperação, finalizada.

O recém-nascido tem um caso grave de Estenose Pulmonar Valvar (EPV), o que significa que sua válvula pulmonar é estreita demais para permitir que o sangue flua do coração para os pulmões normalmente.

Profissional de saúde prepara dose da vacina da Pfizer contra a Covid-19 em Nice, na França
Profissional de saúde prepara dose da vacina da Pfizer contra a Covid-19 em Nice, na França - Eric Gaillard - 7.dez.22/Reuters

Seus pais, porém, alegam que as proteínas no sangue de pessoas que receberam imunizantes com a tecnologia de RNA mensageiro estariam causando mortes inesperadas ligadas a transfusões –teoria sem comprovação.

A tecnologia é um dos principais alvos das teorias da conspiração antivacina, que alegam erroneamente que imunizantes do tipo podem modificar o DNA, causar inúmeras doenças ou provocar as enfermidades que deveriam combater, entre outros supostos problemas.

"É muito maior do que nós. É muito maior que o bebê. Deus não quer que isso seja perpetrado na humanidade. Ele não quer que isso seja perpetrado no bebê", disse o pai, segundo o Washington Post.

Coube, então, à Justiça a decisão sobre a vida do bebê. No final de novembro, o serviço de saúde pública do Estado entrou com uma ação pedindo a guarda temporária da criança para a realização da cirurgia e, na quarta, o tribunal de Auckland concluiu que o tratamento proposto "é do melhor interesse" da criança.

"Ela continua precisando urgentemente da operação, e todos os dias que ela é adiada seu coração fica sob tensão", disse o magistrado responsável pela ação. A cirurgia foi agendada para esta sexta (9) e deve durar 48 horas. Assim, o bebê ficará sob tutela parcial ao menos até janeiro, quando o período pós-cirúrgico deve acabar. A Justiça também decidiu que os pais seguirão como tutores "para todos os outros propósitos" e serão informados sobre o estado e o progresso da condição e do tratamento do bebê.

A origem do imbróglio remete a outubro, quando a criança teria sido submetida a uma cirurgia e, posteriormente, recebido sangue de um doador vacinado contra a Covid. Ao saber da transfusão, os pais ficaram nervosos e pediram aos médicos que tal procedimento não fosse mais realizado.

Ao surgir a necessidade de uma segunda cirurgia, os profissionais de saúde avisaramo casal, em novembro, que não seria possível fazer a transfusão sem usar o banco de sangue do país –e que o procedimento era essencial. A Nova Zelândia afirma não fazer distinção entre materiais de doadores vacinados e não vacinados.

A informação, porém, foi mal recebida pelos pais, que teriam ficado "extremamente chateados", segundo a ordem judicial. A mãe do bebê acusou os médicos de "encurralá-la sem qualquer apoio presente".

Segundo o juiz do caso, o casal também teria obstruído os esforços da equipe médica para preparar o bebê para a cirurgia. "Toque em nosso filho e vamos apresentar uma queixa criminal", disseram eles à equipe, de acordo com o processo.

Esse caso tem sido apontado por especialistas como particularmente ilustrativo dos perigos do movimento antivax. Segundo eles, os argumentos pseudocientíficos usados pela família exemplificam o alcance das narrativas conspiracionistas e dos fluxos contínuos de desinformação.

Neste mês, um homem de 62 anos foi preso por planejar a derrubada do sistema de energia elétrica da Nova Zelândia para chamar a atenção para suas convicções antivacina, naquela que foi a primeira condenação judicial por sabotagem da história do país.

Com AFP

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