Descrição de chapéu BBC News Brasil Guerra da Ucrânia Rússia

O crescente 'exército de drones' usado pela Ucrânia em conflito com a Rússia

País aumenta produção de drones à medida que população arrecada dinheiro para indústria por meio de doações

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Joe Tidy
BBC News Brasil

A Ucrânia diz que está aumentando rapidamente sua produção de drones à medida que a demanda cresce na linha de frente de combate. O governo relaxou as leis de importação e aboliu os impostos sobre peças e equipamentos de drones.

A expansão está sendo financiada por uma campanha de arrecadação de fundos bem-sucedida chamada Exército de Drones. Mais de US$ 108 milhões (cerca de R$ 546 milhões) foram arrecadados com a ajuda de celebridades como o ator Mark Hamill, de "Star Wars".

O DJI Mavic é um dos drones mais populares do mundo, sendo usado para filmagens
O DJI Mavic é um dos drones mais populares do mundo, sendo usado para filmagens - BBC

Além de comprar e montar drones para a guerra, o dinheiro está sendo gasto no treinamento de novos pilotos para a linha de frente. A BBC foi convidada para a sessão de treinamento do mais recente grupo de pilotos de drones em um local secreto nos arredores de Kiev.

Uma dúzia de equipes formadas por duplas pilotou pequenos drones por um campo, à procura de marcações semelhantes a alvos militares. O instrutor Slava observava a técnica deles e dava dicas sobre como se esconder melhor em suas "tocas" improvisadas na floresta. "Os drones são os nossos olhos, podemos ver muito bem o invasor do alto, então podemos ajustar a artilharia, encontrar e neutralizá-lo."

Soldados de ambos os lados do conflito dependem cada vez mais de drones menores e relativamente baratos que são tradicionalmente usados para filmagem. O drone mais comum visto na linha de frente é o DJI Mavic, que custa menos de US$ 2.000 (cerca de R$ 10 mil).

No ano passado, seu fabricante chinês proibiu as exportações para a Ucrânia e a Rússia, insistindo que seus produtos são "apenas para uso civil". Slava conta que a proibição tornou mais difícil obter os drones, mas a Ucrânia ainda conseguiu importar milhares.

Ele admite, no entanto, que eles precisam de mais —e também precisam desenvolver novos tipos, pois são frequentemente abatidos ou bloqueados por armas eletrônicas. Os organizadores da campanha Exército de Drones dizem ter montado ou comprado 3.300 drones adicionais. Cerca de 400 pessoas chegaram a enviar seus próprios drones, que pilotavam como hobby, pelo correio.

A arrecadação de fundos começou em julho do ano passado para ajudar a reforçar a frota do país e treinar pilotos. O projeto ganhou destaque nas redes sociais, com o ator Mark Hamill apresentando vídeos promocionais e compartilhando mensagens com os fãs.

Os pilotos de drones são treinados em duplas de navegadores e spotters (observadores)
Os pilotos de drones são treinados em duplas de navegadores e spotters (observadores) - BBC

Drone 'kamikaze'

Outros projetos de drones estão sendo anunciados em várias lojas e postos de gasolina pela Ucrânia, à medida que o governo insiste que os drones oferecem aos seus militares uma vantagem competitiva.

No mês passado, dez drones de reconhecimento RQ-35 Heidrun supostamente custando US$ 16 mil (R$ 81 mil) cada um foram comprados e enviados para a linha de frente pela campanha Exército de Drones.

Na última segunda-feira (24), cem drones "kamikaze" de fabricação ucraniana projetados para colidir com alvos inimigos foram enviados a Bakhmut na remessa mais recente.

Em março, o Ministério da Transformação Digital anunciou o que chamou de "um passo importante para o desenvolvimento do mercado Vant [veículo aéreo não tripulado] ucraniano", relaxando e simplificando o processo de importação de componentes para drones. Anteriormente, as regras determinavam que o recebimento de peças, como módulos de GPS ou câmeras térmicas, poderia levar 15 dias.

A Ucrânia também alterou as regras do código fiscal para que os importadores de drones não paguem taxa de importação e IVA (imposto sobre o valor agregado) pelos drones e seus componentes. "Hoje, os drones são uma tecnologia fundamental em termos de importância", disse o ministro da Transformação Digital, Mikhailo Fedorov, ao anunciar as mudanças.

Fedorov lidera a arrecadação de fundos da campanha Exército de Drones. Em seu gabinete, ele exibe com orgulho o protótipo de um novo drone "kamikaze" secreto que está sendo construído na Ucrânia.

Ele não faz nenhuma tentativa de esconder a natureza mortal desses drones, projetados para atingir alvos como soldados ou tanques. Mas, assim como o restante do governo, recusa-se a falar sobre os recentes ataques de drones em território russo. No mês passado, um drone caiu na cidade de Kireievsk, a cerca de 400 km da fronteira com a Ucrânia, ferindo ao menos três pessoas em uma explosão após ser derrubado, informou a imprensa estatal russa.

Em fevereiro, a mídia russa noticiou que um drone de fabricação ucraniana caiu na região de Moscou —e autoridades acusaram a Ucrânia de ter como alvo uma instalação de energia.

A Rússia usou centenas de drones contra a Ucrânia, sobretudo drones "kamikaze" Shahed, de fabricação iraniana. Mas a Ucrânia nunca admitiu partir para o ataque dentro do território russo.

Questionado se aprovaria ataques de drones contra a Rússia, Fedorov afirmou: "Apoio tudo o que nos trará a vitória e deterá a Rússia." Em sua conta no Telegram, ele também se gabou de um drone ucraniano R18 que "pode voar de Kiev a Moscou e voltar". O ministro negou, no entanto, que estivesse sugerindo ataques em Moscou. "Temos forças de defesa que planejam as operações, e nossa tarefa é fazer tudo o que pudermos para que o país tenha Vants suficientes para serem usados para todos os fins militares."

A Defesa ucraniana não respondeu a pedidos de comentário sobre ataques de drones em território russo.


Esse texto foi publicado originalmente aqui.

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