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Criança sobrevivente na Colômbia relatou ao pai que mãe ficou 4 dias viva

Manuel Ranoque detalhou como foram os dias seguintes ao acidente aéreo na floresta amazônica

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Bogotá (Colômbia) | AFP

A mãe das quatro crianças indígenas resgatadas após uma incrível jornada de sobrevivência de 40 dias na selva colombiana teria permanecido viva por quatro dias depois do acidente de avião, ocorrido em 1º de maio, de acordo com o relato de seu marido neste domingo (11).

"A única coisa que ela [Lesly] esclareceu é que sua mãe ficou viva por quatro dias. Então, antes de morrer, talvez a mãe tenha dito a eles: 'Vão embora que vocês vão encontrar o pai de vocês' (...)", disse Manuel Miller Ranoque, no hospital militar em Bogotá, onde as crianças da comunidade huitoto se recuperam.

O indígena Manuel Ranoque, pai das quatro crianças que sobreviveram a um acidente aéreo na Colômbia
O indígena Manuel Ranoque, pai das quatro crianças que sobreviveram a um acidente aéreo na Colômbia - 11.jun.23/AFP

Lesly, 13, Soleiny, 9, Tien Noriel, 5, e Cristin, 1, foram encontrados vivos na sexta-feira no meio da floresta amazônica no sul da Colômbia, a 5 km do local do acidente, no qual três adultos morreram.

Em 16 de maio, uma equipe militar localizou no departamento de Caquetá o piloto morto na cabine da aeronave, presa entre árvores e com a parte frontal destruída. Magdalena Mucutuy, mãe das crianças, e um líder indígena também morreram, embora os militares não tenham detalhado onde estavam os corpos.

Mais de cem soldados e indígenas da região, junto a cães farejadores, seguiram o rastro das crianças, enquanto elas caminhavam ao longo de 2.656 km. A busca foi complexa devido à densa vegetação, à presença de jaguares e cobras e à chuva constante, que dificulta ouvir possíveis chamados de socorro.

Lesly, que tem uma natureza "guerreira" e é muito "inteligente", como definiram e relataram seus avós em entrevista à agência de notícias AFP, manteve seus irmãos mais novos em segurança.

Ameaças

A Amazônia colombiana é uma zona grande, de difícil acesso por rios e sem estradas, onde os habitantes costumam viajar em voos privados. Além da vegetação hostil e dos animais selvagens, há a presença de dissidentes do acordo entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo, em 2016.

Os menores embarcaram no avião junto com sua mãe para fugir desses rebeldes das Farc, que recrutam e aterrorizam os moradores da região. O pai já havia escapado e aguardava o reencontro com a família.

Ranoque, que participou das buscas, afirmou que teme pela vida das crianças. "É o que me assusta mais, porque sei que essas pessoas sem escrúpulos podem começar a me pressionar usando meus filhos, e isso eu nunca vou permitir enquanto estiver vivo", acrescentou.

A notícia das crianças perdidas correu o mundo todo, com vídeos e fotos do Exército mostrando o dia a dia das operações, durante as quais foram encontrados abrigos improvisados com galhos, tesouras, elásticos de cabelo, sapatos, roupas, uma mamadeira, frutas mordidas e pegadas.

Frágeis

Embora debilitados, os irmãos estão fora de perigo, de acordo com os primeiros relatórios médicos. Eles recebem tratamento com alimentos leves, atendimento psicológico e cuidados tradicionais indígenas.

"Estão muito acabadinhos, têm seus machucados, seus arranhões (...) Saíram com doenças da selva (...) Mas estão bem, em boas mãos", disse o avô das crianças, Fidencio Valencia, à imprensa neste domingo.

Em fotos divulgadas na mídia, eles aparecem muito magros, e a mais velha tem um ferimento na testa.

Os indígenas realizaram rituais tradicionais e utilizaram seus conhecimentos da floresta para encontrarem as crianças. Segundo o governo, foram eles os primeiros a avistarem os sobreviventes. "Acreditamos muito na selva, que é nossa mãe. Sempre tive fé e dizia que a natureza nunca me traiu", afirmou Ranoque.

Embora a operação de resgate tenha terminado, soldados continuam procurando Wilson, um cão farejador que foi fundamental para encontrar pistas das crianças na selva, mas que está desaparecido.

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