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Filho de Petro é preso em investigação de lavagem de dinheiro na Colômbia

Acusação pode estar relacionada à campanha presidencial; episódio engrossa escândalos envolvendo líder do país

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Bogotá | Reuters e AFP

Nicolás Petro, 37, filho mais velho do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, foi preso como parte de uma investigação sobre enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro que pode estar relacionada à campanha presidencial, afirmou em comunicado o escritório do procurador-geral do país neste sábado (29).

Ex-deputado pelo departamento de Atlântico, no norte do país, Nicolás havia elogiado a apuração quando ela começou, em março, e já havia afirmado que eram infundadas as acusações de que recebeu dinheiro de traficantes em troca da inclusão deles em acordos de paz que Gustavo Petro vem tentando promover.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, então prefeito de Bogotá, ao lado do filho Nicolás, na varanda da prefeitura
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, então prefeito de Bogotá, ao lado do filho Nicolás, na varanda da prefeitura - Eitan Abramovich - 13.jan.14/AFP

Assim como o filho do presidente, a ex-mulher de Nicolás, Daysuris Vásquez, foi presa pela manhã, também devido a acusações de lavagem de dinheiro, além de violação de dados pessoais. Em março, ela disse à imprensa local que duas pessoas acusadas de envolvimento com o tráfico de drogas deram dinheiro a Nicolás para alimentar a campanha de seu pai. Vásquez, que deu as declarações à revista Semana, afirmou ainda que o ex-marido levava uma vida de luxos em Barranquilla com esse dinheiro.

Na plataforma X, como o Twitter foi recentemente rebatizado, Petro afirmou que é doloroso ver um de seus filhos ser preso, mas que o procurador-geral deve proceder de acordo com a lei. "Para o meu filho, desejo sorte e força. Que essas ocorrências forjem seu caráter e que ele reflita sobre seus erros", disse o presidente. "Como afirmei, não vou intervir nem fazer pressão. Que a lei guie livremente o processo."

No departamento de Atlântico e na área da costa do Caribe colombiano, Nicolás virou figura-chave nas aspirações do pai à Presidência. A região, historicamente resistente à esquerda, acabou impulsionando Petro ao cargo, em 2022. Até as declarações de Vásquez, ele era deputado pela coalizão Pacto Histórico. Segundo veículos locais que afirmam ter tido acesso aos dados bancários do filho do presidente, ele tinha gastos incompatíveis com o salário recebido pelo cargo que ocupava, incluindo joias e roupas de luxo.

Na denúncia que fez à imprensa, a ex-mulher de Nicolás afirmou que o narcotraficante e ex-senador Samuel Santander Lopesierra, do departamento de La Guajira, entregou a ele o equivalente a US$ 124 mil (R$ 586 mil). Conhecido pelo apelido de "El Hombre Marlboro", Lopesierra cumpriu 18 anos de prisão nos EUA por tráfico de drogas. Segundo Vásquez, o presidente, no entanto, não sabia dessas movimentações.

Desde que assumiu a Presidência da Colômbia, em agosto do ano passado, Petro vem trabalhando em acordos de paz que buscam encerrar o conflito entre Estado e guerrilhas que já dura 60 anos e matou 450 mil pessoas. Alguns desses esforços apresentaram avanços, como as negociações com o Exército de Libertação Nacional (ELN) que levaram a um cessar-fogo programado para começar em agosto. Já os diálogos com o grupo Clan del Golfo, por exemplo, falharam devido à violência contínua.

A proposta de lei para regular a rendição desses grupos criminosos, dando a eles sentenças mais brandas em troca de informações e da restauração da paz no país, atraiu críticas, inclusive do procurador-geral.

Petro, primeiro candidato de esquerda a ser eleito para o comando da Colômbia, se viu, em junho, no centro de um escândalo em que vieram à tona áudios supostamente enviados pelo coordenador de sua campanha eleitoral, Armando Benedetti, a Laura Sarabia, à época chefe de gabinete da Presidência. Ele, que após a eleição se tornou embaixador na Venezuela, teria ameaçado revelar um financiamento ilegal na campanha de 15 bilhões de pesos (cerca de R$ 17 milhões) caso suas demandas não fossem atendidas.

Petro afirma que sua campanha foi legal, e Benedetti, assim como Sarabia, perdeu o cargo no país vizinho.

Em conversas vazadas à imprensa colombiana, o ex-aliado indica haver envolvimento de Nicolás nas supostas irregularidades. "Tenho indícios por causa de Nicolás. Quando saiu a denúncia contra ele, comecei a montar o quebra-cabeça, viajei para Cartagena na semana seguinte e perguntei o que foi que aconteceu, e eles me contaram algumas histórias", disse o ex-diplomata à revista Semana em junho.

Em meados de julho, Sarabia compareceu perante o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e negou ter conhecimento de dinheiro ilegal na campanha. Benedetti foi intimado pelo órgão, mas não compareceu.

Petro iniciou seu governo com apoio da esquerda e de alguns partidos tradicionais no Congresso, mas a ampla coalizão governista foi se desmanchando. Agora, a base se distancia cada vez mais de suas reformas, que incluem reduzir a participação privada na saúde e reformar a Previdência e o Judiciário.

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