Descrição de chapéu Partido Republicano

Trump usa doações para bancar advogados e deixa campanha sob pressão

Quase 70% dos gastos do comitê Save America, vinculado ao ex-presidente, foram com despesas legais

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Washington

As consequências políticas dos processos na Justiça contra o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump ainda são incertas, mas as financeiras já estão pesando no bolso do republicano.

Só no primeiro semestre deste ano, foram gastos US$ 21 milhões (cerca de R$ 100 milhões) com despesas legais por um dos comitês de ação política (PAC, na sigla em inglês) vinculados ao republicano, o Save America, segundo relatório apresentado na noite desta segunda (31) à Comissão Eleitoral Federal.

O valor é menor do que o que vinha circulando na imprensa americana nos últimos dias —reportagens falavam em US$ 40 milhões—, mas já é mais do que o dobro do que foi gasto com advogados pelo grupo no ano passado inteiro. Em 2022, a rubrica representou 14,4% do total desembolsado. Já no primeiro semestre deste ano, esse percentual disparou para quase 70%.

Trump faz comício em Erie, na Pensilvânia, no sábado (29) - Jeff Swensen/Getty Images/AFP

A pressão seria tamanha que o grupo teria pedido o reembolso de doações feitas no ano passado a outro PAC, o Make America Great Again, também vinculado a Trump, de US$ 60 milhões (R$ 284 milhões). O relatório apresentado nesta quarta mostra que foram devolvidos US$ 12,2 milhões (R$ 58 milhões).

Rivais do empresário já estão usando os pagamentos para criticá-lo.

"Trump gastou mais de US$ 60 milhões em duas coisas: atacar falsamente [Ron] DeSantis e pagar sua própria defesa, nenhum centavo em derrotar [Joe] Biden. Em contraste, o único foco de DeSantis tem sido fazer campanha pelo futuro desse país, derrotar Biden e reverter o declínio dos EUA", disse Andrew Romeo, porta-voz do governador da Flórida, neste domingo nas redes sociais.

Esse uso do dinheiro não é crime pela legislação americana, porque o Save America é um tipo específico de grupo chamado de "PAC de liderança", não um comitê oficial de campanha –que não pode fazer pagamentos que beneficiem pessoalmente um candidato.

Ainda há dúvidas sobre em que categoria a defesa de Trump se enquadraria, o que levou o republicano a direcionar mais doações ao Save America, segundo o New York Times. Se inicialmente de cada US$ 1 recebido, US$ 0,99 iam para a campanha e US$ 0,01 para o PAC, agora US$ 0,10 vão para o PAC.

O Save America foi criado por Trump logo após a derrota nas eleições de 2020. Em 2021 e 2022, foram arrecadados US$ 108 milhões (R$ 510 milhões), especialmente de pequenos doadores –a maior parte, aposentados–, e gastos US$ 121,6 milhões (R$ 575 milhões). Além do pagamento a advogados, o PAC também banca o salário de funcionários e comícios.

O próprio PAC já foi alvo do Departamento de Justiça dos EUA por supostamente usar afirmações falsas sobre a eleição, como a de que Trump teria vencido em estados em que ele foi derrotado, para pedir doações. Nenhuma denúncia foi apresentada até agora, porém.

"Para combater essas ações odiosas dos comparsas de Joe Biden e proteger essas pessoas inocentes da ruína financeira, evitando que suas vidas sejam completamente destruídas, o comitê de ação política liderado por Trump contribuiu com suas despesas legais para garantir que tenham representação contra assédio ilegal", disse o porta-voz da campanha de Trump, Steven Cheung, à rede CNN.

Com a pressão crescente dos processos legais sobre suas finanças, o republicano deve criar um novo fundo voltado especificamente para o pagamento da defesa de pessoas ligadas a ele —mas não a dele próprio, já que Trump diz há anos que só culpados têm fundos de defesa, segundo o New York Times.

O novo fundo deve se chamar Patriot Legal Defense (defesa legal patriota), a ser comandado por Michael Glassner, conselheiro de Trump. Além do ex-presidente, também foram indiciados em casos ligados a ele o seu assessor Walt Nauta e o português Carlos de Oliveira, responsável pela manutenção do resort de Mar-a-Lago. Ambos se tornaram corréus de Trump no caso dos documentos secretos guardados após o republicano deixar a Casa Branca.

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