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EUA dão recado a Maduro e reforçam oposição a conflito entre Venezuela e Guiana

Chanceleres dos países em crise conversam pela 1ª vez para manter 'canais de comunicações abertos', segundo Caracas

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São Paulo

O governo dos Estados Unidos reiterou nesta quarta (6) sua oposição a um conflito militar e a episódios de violência na crise entre Venezuela e Guiana. A mensagem soa como recado ao ditador Nicolás Maduro, que na véspera anunciou medidas iniciais para anexação e exploração do território de Essequibo.

"[A crise] é preocupante. Estamos acompanhando a situação de muito, muito, muito perto", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, acrescentando que Washington está em contato com aliados para discutir a disputa.

Maduro mostra o mapa da Venezuela com a inclusão ilegal da região de Essequibo, na Guiana
Maduro mostra o mapa da Venezuela com a inclusão ilegal da região de Essequibo, na Guiana - Zurimar Campos - 5.dez.2023/Presidência da Venezuela/AFP

Numa tentativa de arrefecer a crise, os chanceleres venezuelano, Yván Gil, e guianense, Hugh Todd, conversaram por telefone sobre Essequibo, território rico em recursos naturais reivindicado por Caracas. Foi o primeiro diálogo entre as partes desde o agravamento da disputa. As partes teriam concordado em "manter os canais de comunicação abertos" e manifestado a "necessidade de deter as ações que possam agravar a controvérsia", segundo comunicado do regime venezuelano.

Autoridades vêm manifestando o temor de que o plebiscito organizado pelo regime venezuelano no domingo (3) dê a Maduro o ímpeto de invadir o vizinho, ainda que especialistas afirmem que essa possibilidade é pequena. Na votação, 96% dos eleitores do país se manifestaram a favor da criação de uma nova província em Essequibo e da concessão de nacionalidade aos 125 mil habitantes da região.

Embora tenha feito acenos ao governo vizinho, o regime venezuelano reafirmou seu posicionamento sobre Essequibo. "[Na conversa] a parte venezuelana aproveitou para atualizar a Guiana sobre a participação avassaladora que a consulta popular teve, gerando um mandato inapelável", acrescentou a nota divulgada por Caracas após o presidente guianense, Irfaan Ali, questionar a real participação do eleitorado.

Os resultados da consulta foram usados como justificativa para Maduro dar o passo inicial à exploração do território em disputa. Na terça (3), o ditador ordenou que a petroleira estatal PDVSA conceda licenças para a "extração imediata" de petróleo na região. "Que procedamos imediatamente à concessão de licenças operacionais", disse ele em discurso na Assembleia Nacional.

Maduro também anunciou um projeto de lei que permitiria a anexação de Essequibo a despeito da recomendação feita pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, para que o regime venezuelano se abstenha de "qualquer ação que modifique a situação vigente".

Irfaan Ali descreveu as medidas como "uma ameaça direta" e advertiu que recorrerá ao Conselho de Segurança da ONU para denunciar a situação. Também disse que as Forças Armadas do país estão em "alerta" e em contato com "parceiros" internacionais, incluindo autoridades dos Estados Unidos.

Maduro disse na segunda que Washington deveria se manter "longe" da crise. Nesta quarta, o procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, disse que um homem americano foi detido no final de outubro, na Venezuela, acusado de conspirar junto a representantes da petrolífera ExxonMobil, dos EUA, para organizar um movimento de boicote ao plebiscito de domingo.

Segundo o procurador, Savoi Jadon Wright usou criptomoedas e "grandes quantias de dinheiro para escapar dos controles financeiros e mascarar a origem e o destino dos fundos" usados na conspiração. "Ele já está detido", disse Saab, sem dar mais detalhes ou especificar a data da detenção, embora os meios de comunicação americanos indiquem que a prisão ocorreu em 24 de outubro.

Saab afirmou que um segundo americano, Damián Merlo, identificado como conselheiro do ex-presidente Donald Trump, também esteve envolvido na conspiração". Merlo está livre.

O procurador solicitou ainda mandados de prisão contra 13 líderes da oposição venezuelana acusados de tentar interferir no plebiscito. Eles podem responder aos crimes de traição à pátria, conspiração com potência estrangeira, lavagem de dinheiro, entre outros.

Entre os alvos da decisão está Juan Guaidó, que chegou a ser reconhecido como presidente interino por mais de 50 países e atualmente está em autoexílio nos EUA, e membros do gabinete de María Corina Machado, hoje considerada a principal candidata opositora

Caracas argumenta que a fronteira venezuelana deve ser estabelecida com base no rio Essequibo, como foi no século 18. Também menciona o acordo de Genebra, assinado em 1966, antes da independência da Guiana, que estabelecia as bases para uma solução negociada e anulava um laudo de 1899 que fixou os limites atuais.

A Guiana defende o laudo de 1899 e pede que o texto seja ratificado pela Corte Internacional de Justiça, cuja jurisdição Caracas não reconhece.

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