Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Reitora de Harvard renuncia após fala sobre antissemitismo e acusações de plágio

Primeira mulher negra a ocupar posto, Claudine Gay foi criticada por declaração durante audiência no Congresso dos EUA

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Washington

Reitora da prestigiosa Universidade Harvard, Claudine Gay renunciou nesta terça-feira (2) ao cargo. A acadêmica estava sob pressão para deixar o posto há semanas, após reações negativas a declarações suas sobre antissemitismo em uma audiência no Congresso em dezembro se somarem a acusações de plágio em sua carreira.

A reitora de Harvard, Claudine Gay, durante depoimento a comissão do Congresso dos EUA, em Washington
A reitora de Harvard, Claudine Gay, durante depoimento a comissão do Congresso dos EUA, em Washington - Ken Cedeno - 5.dez.23/Reuters

Em uma carta publicada no site da universidade, Gay diz que foi uma honra presidi-la, mas que, depois de conversas com colegas, "ficou claro que é do interesse de Harvard que eu renuncie para que nossa comunidade possa navegar esse momento de desafios extraordinários com foco na instituição, em vez de no indivíduo".

O mandato de Gay, primeira mulher negra a ocupar esse posto, durou cerca de seis meses. Na carta, ela afirma que vai retornar ao corpo docente, retomando as atividades de ensino e pesquisa. Alan M. Garber assumirá como presidente interino até que um novo reitor seja escolhido.

A renúncia ocorre em um momento em que as universidades americanas enfrentam um momento difícil, decorrente da repercussão do conflito Israel-Hamas nos Estados Unidos. Críticos afirmam que a burocracia universitária não deu uma resposta adequada ao aumento de denúncias de antissemitismo nos campi desde a eclosão da guerra. Ao mesmo tempo, manifestações estudantis pró-Palestina geraram controvérsia, acusadas por alguns —muitos deles doadores— de antissemitismo e defendidas por outros como demonstrações de liberdade de expressão.

O Congresso reagiu à controvérsia, e um comitê foi criado para investigar a atuação das universidades nesse cenário. Foi após uma audiência desse grupo, realizada em 5 de dezembro com Gay e outras duas reitoras —Liz Magill, da Universidade da Pensilvânia, e Sally Kornbluth, do MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachussets—, que a pressão pela renúncia das docentes tornou-se praticamente insustentável.

Isso porque, durante o testemunho, as reitoras se recusaram a responder "sim" ou "não" à pergunta de uma congressista republicana sobre se pedir o genocídio de judeus violaria ou não códigos de conduta das universidades. O vídeo do trecho viralizou nas redes sociais.

"Em Harvard, pedir o genocídio de judeus viola as regras sobre bullying e assédio? Sim ou não?", perguntou a deputada Elise Stefanik a Gay, que respondeu: "Pode ser, dependendo do contexto".

Em seguida, a então reitora complementou que a "retórica antissemita, quando se transforma em conduta que constitui bullying, assédio e intimidação, é uma conduta passível de ação [por parte da universidade], e tomamos medidas".

Uma semana após a audiência, a permanência de Gay no posto foi debatida pelo conselho de Harvard, que decidiu mantê-la no cargo. "Nossas extensas deliberações confirmam nossa confiança de que Gay é a líder certa para ajudar nossa comunidade a se curar e enfrentar os sérios problemas sociais pelos quais estamos passando", disse o órgão em comunicado.

A acadêmica recebeu ainda o apoio de cerca de 700 membros do corpo docente de Harvard e de centenas de ex-alunos por meio de cartas abertas. Um texto assinado por professores negros da instituição classificou as críticas a Gay como "espúrias e politicamente motivadas".

Nesta terça, o conselho de Harvard disse que aceitou a renúncia "com tristeza" e agradeceu o que chamou de "contribuições extraordinárias" feitas pela acadêmica.

Gay é a segunda reitora a renunciar após a audiência no Congresso. No mês passado, Magill deixou o comando da Universidade da Pensilvânia.

Além das críticas sobre a resposta de Harvard às denúncias de antissemitismo, Gay ainda vem enfrentando um escrutínio sobre seu trabalho acadêmico após artigos assinados por ela serem alvos de acusações de plágio.

Uma investigação independente foi solicitada pela ex-reitora em resposta às alegações. A conclusão foi de que não houve má conduta, mas que eram necessárias correções para incluir referências e citações ausentes. Uma análise posterior sobre sua dissertação teve desfecho semelhante.

"Harvard sabe que essa renúncia forçada, há muito tempo aguardada, da presidente plagiadora antissemita é apenas o começo do que será o maior escândalo de qualquer faculdade ou universidade na história", disse a deputada Stefanik no X nesta terça.

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