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Por que crescimento chinês surpreende e preocupa o mundo

País registrou crescimento de 5,3% no 1º trimestre; leia edição da newsletter China, terra do meio

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Igor Patrick
Washington

Esta é a edição da newsletter China, terra do meio, desta terça-feira (23). Quer recebê-la toda semana no seu email? Inscreva-se abaixo

A economia chinesa está de volta, comemoraram as autoridades governamentais comemoram após o país registrar crescimento de 5,3% no primeiro trimestre deste ano. O dado surpreendeu, já que as previsões mais otimistas apontavam para 4,6% de alta na atividade.

Com o resultado, analistas passaram a questionar se o risco de crise econômica tinha sido exagerado nos últimos meses. Será?

Os números reportados apontam para uma recuperação impulsionada por aumento de investimento fabril e consequente crescimento da produção industrial chinesa. O governo está novamente colocando dinheiro nos setores produtivos de exportação, o que fez aumentar a contribuição chinesa no bolo do comércio global.

A estratégia tem motivação clara. A economia dá sinais de fraqueza no consumo doméstico, parte central da política de dupla circulação introduzida há vários anos por Xi Jinping.

Famílias chinesas ainda parecem reticentes ao risco, e outros microdados divulgados pelo Gabinete Nacional de Economia mostram que o mercado imobiliário segue em baixa. Com consumidores domésticos comprando menos, há clara motivação para que as empresas locais invistam no mercado externo.

Sim, mas… Embora os números gerais tenham sido positivos, há motivos para preocupação. A despeito do forte aquecimento da economia em janeiro e fevereiro, março teve desaceleração.

A taxa de utilização da capacidade industrial da China ficou em 73,6%, queda de 0,7 ponto percentual em relação ao mesmo período do ano passado. Foi a pior taxa desde 2015 (com exceção dos primeiros meses da pandemia em 2020).

O aumento da produção fabril e das exportações tem gerado alarmes em todo o mundo quanto ao risco de excesso de capacidade de produção da China. Enquanto o país usa sua poupança para turbinar as indústrias, o mercado global é inundado com bens com valores abaixo dos costumeiros.

Por que importa: o aumento da produção fabril e das exportações tem gerado alarmes em todo o mundo quanto ao risco de excesso de capacidade de produção da China. Enquanto o país usa sua poupança para turbinar as indústrias, o mercado global é inundado com bens com valores abaixo dos costumeiros.

Analistas apontam para o risco de um novo "choque chinês", como ficou conhecido o fenômeno registrado após a entrada da China na OMC, em 2001, quando o aumento das exportações chinesas levou à destruição de milhares de empregos industriais nos EUA e Europa.

Pequim tem rejeitado o argumento de excesso de capacidade de produção e afirma se tratar de "protecionismo ocidental".

Pare para ver

Aquarela de Soong Mei-ling, conhecida como Madame Chiang Kai-Shek
Courtesy of Swann Auction Galler/Reprodução

Aquarela de Soong Mei-ling, conhecida como Madame Chiang Kai-Shek. A esposa do ex-líder nacionalista chinês começou a pintar já em idade avançada e realizou a primeira exposição quando tinha 102 anos, em 2000. Soong falava bem inglês e foi uma das primeiras mulheres na história a discursarem no Congresso dos EUA. Quando morreu em Nova York, em 2003, suas pinturas foram doadas para diferentes museus nos EUA. Leia mais sobre os trabalhos dela aqui.

O que também importa

★ Taiwan anunciou que vai remover todas as estátuas em espaços públicos do ex-presidente Chiang Kai-shek. Ele liderou a ilha por quase 30 anos. Chiang desembarcou em Taiwan após perder a guerra civil na China em 1949, estabeleceu um governo interino e impôs uma lei marcial que durou décadas. Taiwaneses só começaram a discutir sobre o período após a democratização na década de 1990. Desde então, foram descobertos milhares de casos de violações aos direitos humanos praticados com a anuência de Chiang, incluindo prisões ilegais e execuções de opositores. Segundo o governo local, restam 760 estátuas em toda a ilha do ex-líder.

Estátuas do falecido líder nacionalista Chiang Kai-shek no Cihu Memorial Sculpture Park, em Taiwan - Sam Yeh/AFP

★ A Polícia Metropolitana de Londres acusou dois homens de espionagem para a China. A dupla tem 29 e 32 anos e teria fornecido "artigos, notas, documentos ou informações" aos chineses. Os crimes teriam ocorrido de 2021 a 2023. Um dos acusados trabalhou como pesquisador do parlamento britânico e teve contatos com parlamentares do Partido Conservador, incluindo o atual secretário de segurança Tom Tugendhat. A embaixada chinesa em Londres reagiu dizendo em nota que as alegações eram "completamente fabricadas".

★ Um estudante chinês foi rejeitado por uma famosa universidade local após denúncias de seu histórico de crueldade com gatos surgirem na internet. O aluno identificado apenas pelo sobrenome Xu tinha como hábito publicar vídeos abusando e matando gatos. Ele tirou a maior nota no exame de admissão ao programa de física nuclear da Universidade de Nanquim, mas teve a matrícula negada com base em suas "qualificações morais e políticas". O caso explodiu nas redes chinesas, com milhões de acessos e comentários de indignação no Weibo (rede semelhante ao X, antigo Twitter).

Fique de olho

A província de Cantão está enfrentando uma temporada de inundações mais cedo do que o normal, com chuvas intensas e contínuas desde a última quinta-feira (18).

As cidades de Shaoguan, Qingyuan, Zhaoqing e Jiangmen estão parcialmente submersas. Vários voos para a província precisaram ser cancelados em virtude do mau tempo. Onze pessoas estavam desaparecidas após serem arrastadas pela água e não havia registro de mortes até segunda (22).

Autoridades locais relataram que vários rios estão acima dos níveis de segurança, após o volume de chuvas ultrapassar duas e três vezes a média esperada para esta época do ano.

Meteorologistas explicaram que o aumento nas precipitações foi causado por temperaturas acima do normal que atraíram umidade do mar do Sul da China.

Por que importa: Cantão é conhecida popularmente como o "chão de fábrica da China" dado o fato de abrigar a maioria dos grandes centros manufatureiros do país. Disrupções no funcionamento destas fábricas pode causar significativos prejuízos não só para a economia chinesa, mas para os vários mercados alimentados pela indústria cantonesa.

Oficiais governamentais disseram que as perdas diretas estimadas ultrapassam os 140 milhões yuan chinês (cerca de R$100 milhões) e a tendência é que o prejuízo aumente com a chegada da temporada de monções no verão.

Para ir a fundo

  • O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) realizou em Brasília na última semana um grande evento para celebrar os 50 anos das relações Brasil-China. O encontro contou com autoridades como vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o embaixador da China, Zhu Qingqiao, e discutiu as prioridades nas agendas de ambos os países. Assista a gravação aqui. (gratuito, em português).
  • A Associação de Estudos Brasileiros de Macau publicou um artigo sobre investimentos chineses no triângulo do lítio e implicações para o mercado de carros elétricos. O texto, assinado pelo pesquisador Carlos Ungaretti, pode ser acessado aqui. (gratuito, em português).
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