Descrição de chapéu eleições na Índia China

China tenta ver eleição na Índia como oportunidade de reaproximação

Efeito, porém, pode ser o oposto, de fortalecimento do jingoísmo, segundo a dividida opinião pública, também surpresa

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Pequim

A resposta oficial deve vir só nesta quarta-feira (5), mas as primeiras reações chinesas às eleições na Índia, em mídia social e por analistas acadêmicos, são de uma vitória para a China com a votação abaixo das expectativas para os nacionalistas de Narendra Modi.

Uma vitória econômica, antes de mais nada. Qian Feng, da Universidade Tsinghua, credita o resultado em grande parte ao desemprego elevado, sem que a economia real conseguisse refletir o crescimento indiano, saudado mais no exterior do que internamente.

O líder chinês, Xi Jinping, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, durante a cúpula do grupo Brics na África do Sul - 27.jul.18/Reuters

Modi e seus ministros devem se voltar agora mais para essa e outras questões domésticas, eventualmente com políticas de renda, por exemplo. Na mesma linha, sem maioria para reformas liberalizantes, a Índia já começou no fim da apuração a perder atração para investidores estrangeiros.

Hu Xijin, hoje mais influenciador de Weibo do que jornalista, avaliou de bate-pronto que o resultado pode levar à revisão da aposta em Modi, inclusive de investimentos, feita por aliados ocidentais como os Estados Unidos, pelo fato de ele estar perdendo força para as reformas fiscal e trabalhista.

Politicamente, há maior divisão entre analistas chineses sobre o que a votação pode trazer. Qian vê a surpresa eleitoral como reflexo também do próprio nacionalismo dos partidários de Modi, que assustaram o eleitorado. Assim, poderia levar o governo Modi à moderação e a buscar a estabilidade na política externa.

Hu também fala em política externa sem grandes mudanças. Já Lin Minwang, da Universidade Fudan, acredita que as dificuldades crescentes de Modi podem acabar fortalecendo o nacionalismo, em vez de moderá-lo, com efeito sobre as relações internacionais afinal negativo para Pequim.

Para Hu Zhiyong, da Academia de Ciências Sociais de Xangai, falando ao estridente Global Times, Modi pode estar saindo das urnas ainda mais falcão. Seja como for, já não se espera que melhorem facilmente os vínculos entre os dois gigantes asiáticos.

O quadro era outro até pouco antes, quando Modi se mantinha favorito com larga margem. Deu entrevista afirmando que Índia e China deveriam buscar o quanto antes uma solução para a disputa de fronteira.

Segundo veículos indianos, estava prevista até mesmo uma viagem de Modi, um mês após a esperada reeleição consagradora, para a cúpula da Organização para a Cooperação de Xangai no Cazaquistão, para se encontrar com o líder chinês, Xi Jinping.

De sua parte, Pequim enviou um novo embaixador, quatro dias antes de sair o resultado da eleição, depois de um ano e meio sem representante em Nova Déli. A mensagem que ele levou foi de que China e Índia deveriam tentar conviver bem, como vizinhos.

O enfraquecimento de Modi pode abortar a aparente aproximação ou ter efeito oposto, precipitar uma solução para o conflito de fronteira de décadas, exacerbado desde um combate recente com mortos dos dois lados.

O jornal mais identificado com a chancelaria chinesa, China Daily, parece apostar na segunda opção. Em editorial publicado na noite de terça, após se evidenciar a votação desfavorável a Modi, diz até ser uma oportunidade.

"Com o resultado das eleições parlamentares da Índia esperançosamente reduzindo o jingoísmo na Índia, não há necessidade de se permitir que a disputa territorial entre os dois vizinhos defina os laços bilaterais", afirma.

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