Israel pode ter cometido crime de guerra ao matar civis para resgatar reféns, diz ONU

Organização também critica Hamas por manter sequestrados em cativeiro; Tel Aviv diz que entidade a difama

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Genebra | AFP e Reuters

O custo civil da operação de Israel que libertou quatro reféns na Faixa de Gaza no fim de semana pode configurar crime de guerra, assim como a própria manutenção das pessoas em cativeiros do Hamas, afirmou a ONU nesta terça-feira (11).

"Estamos profundamente chocados com o impacto nos civis da operação das forças israelenses em Nuseirat no fim de semana para garantir o resgate de quatro reféns", afirmou o porta-voz do Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Jeremy Laurence.

A imagem mostra um cenário de devastação após um evento destrutivo, com pessoas caminhando entre os escombros de edifícios severamente danificados. Estruturas de concreto estão parcialmente desmoronadas, e detritos estão espalhados por toda a área. A presença de civis sugere uma busca por sobreviventes ou pertences, evidenciando a resiliência humana em face da adversidade.
Palestinos inspecionam os danos e destroços um dia após operação das Forças Especiais Israelenses no campo de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza - Eyad Baba - 9.jun.24/AFP

"Centenas de palestinos, muitos deles civis, foram supostamente mortos e feridos", disse ele. "A forma como a operação foi conduzida, em uma área tão densamente povoada, coloca em questão se as forças israelenses respeitaram os princípios de distinção, proporcionalidade e precaução estabelecidos nas leis de guerra."

O Ministério da Saúde do governo de Gaza, ligado ao grupo terrorista, afirmou que a operação no centro de Gaza matou 274 palestinos e feriu quase 700.

Os dados não puderam ser verificados de forma independente, mas Israel reconheceu ter matado civis palestinos durante os combates. Na ocasião, o Exército disse que tinha conhecimento de menos de cem vítimas, sem distinção entre combatentes e civis.

Questionado sobre a credibilidade dos números de Gaza, Laurence disse que, antes do atual conflito, a ONU sempre confiou nas informações do Ministério da Saúde palestino, que eram "muito próximas de 100% de precisão". Com a guerra, há menos acesso para verificar esses dados, mas o porta-voz diz que a organização ainda tem contatos confiáveis no território.

Ainda sobre a operação de sábado (8), a ONU afirmou também estar "profundamente consternada" com a manutenção dos sequestrados nos ataques terroristas.

"Ao manter reféns em áreas tão densamente povoadas, os grupos armados estão colocando em risco as vidas de civis palestinos, bem como dos próprios reféns, devido às hostilidades. Todas essas ações, de ambas as partes, podem constituir crimes de guerra", afirmou Laurence. No sábado, um porta-voz da facção afirmou que alguns sequestrados israelenses foram mortos durante os combates.

Laurence pediu que os reféns não sejam mantidos em áreas civis porque isso seria usar os palestinos "como escudos humanos" e configuraria uma "uma violação grave".

A delegação de Israel nas Nações Unidas em Genebra reagiu e acusou a entidade de "difamar Israel". "O saldo dessa guerra sobre os civis é, em primeiro lugar, resultado da estratégia deliberada do Hamas de maximizar o dano aos civis", disse a missão.

Tel Aviv afirmou, porém, que a ONU "finalmente percebeu que o Hamas usa os palestinos como escudos humanos". "No entanto, em vez de adotar uma posição clara e coerente contra essa estratégia odiosa, ela tem o hábito de difamar Israel, desta vez por ter salvo reféns."

Os quatro resgatados, três homens e uma mulher, haviam sido sequestrados pelo Hamas em um festival de música no sul de Israel, em 7 de outubro.

Essa foi a terceira vez que as forças de segurança conseguiram resgatar reféns com vida na Faixa de Gaza —a maioria das libertações aconteceu durante um cessar-fogo de uma semana em novembro, quando cem deles foram devolvidos em troca de cerca de 240 palestinos detidos em prisões israelenses.

Após oito meses de guerra em Gaza, 116 dos cerca de 250 reféns sequestrados por milita ntes ainda estão no território palestino, de acordo com contagens de Israel —pelo menos 50 dos quais foram declarados mortos à revelia pelas autoridades.

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