Descrição de chapéu Itália The New York Times

Meloni diz que não há espaço para racismo em seu partido após saudações fascistas de correligionários

Primeira-ministra disse estar 'irritada e entristecida' com reportagem sobre grupo jovem do Irmãos da Itália

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Emma Bubola
Roma | The New York Times

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, pediu aos líderes de seu partido para rejeitar o antissemitismo, o racismo e a nostalgia por regimes totalitários depois que um veículo de notícias italiano flagrou, com uma câmera escondida, membros da juventude da sigla glorificando o fascismo.

"Fico irritada e entristecida com a forma como fomos representados pelo comportamento de alguns jovens de nosso movimento", escreveu Meloni em um email, visto pelo jornal americano The New York Times, para os diretores de seu partido, o Irmãos da Itália.

Membros do Giovent Nazionale, a ala jovem do Irmãos da Itália, durante comício em Roma - Gianni Cipriano - 22.set.2022/The New York Times

"Não há espaço no Irmãos da Itália para o racismo ou antissemitismo, nem há espaço para aqueles que são nostálgicos dos regimes totalitários do século 20", escreveu ela, segundo a Reuters. "Nossa tarefa é muito grande para permitir que aqueles que não entenderam sua abrangência a arruínem."

A reportagem, que veio a público no mês passado, foi feita por um jornalista do site Fanpage.it que se passou por um ativista da Juventude Nacional, o braço jovem do Irmãos da Itália.

A câmera escondida mostrou membros do movimento fazendo saudações fascistas, elogiando o ditador fascista italiano Benito Mussolini, instruindo outros a espalhar adesivos com slogans fascistas e se definindo como fascistas.

Algumas pessoas identificadas pela reportagem como membros do grupo foram filmadas gritando "Sieg heil", uma expressão adotada pelos nazistas. Outras foram filmadas fazendo comentários racistas e antissemitas.

A matéria foi um golpe para Meloni, que, apesar de ter raízes em um partido nascido dos destroços do fascismo, apresenta-se como uma líder moderna e pragmática e diz repetidamente que o fascismo pertence à história.

Apesar de ter tentado minimizar o caso, o fato é que a primeira-ministra teve que falar novamente para essa herança ficar para trás após quase dois anos à frente do governo. O escândalo mostra que a suposta transformação não está completa e que a nostalgia por elementos do passado mais sombrio da Itália persiste, pelo menos em algumas partes de um partido que passou de um movimento marginal para a maior força governante da Itália.

"Na minha idade, terei que ver isso de novo?" perguntou a senadora italiana e sobrevivente do Holocausto Liliana Segre, 93, na televisão italiana após ver as reportagens do Fanpage. "Terei que ser expulsa do meu país como já fui expulsa?"

Políticos de esquerda se manifestaram. Michela Di Biase, por exemplo, uma parlamentar do Partido Democrático da Itália, acusou a juventude do Irmãos da Itália de idealizar aqueles que "mancharam a história de nosso país com o sangue da perseguição".

Meloni e parlamentares de seu partido criticaram os métodos do jornalista e disseram que o texto não representava a verdadeira identidade da sigla ou de seu movimento jovem, mas sim de uma pequena minoria. Luca Ciriani, por exemplo, um parlamentar dos Irmãos da Itália, disse que a reportagem foi construída com base em imagens fragmentadas e fora de contexto. Já outros membros da sigla reconheceram e condenaram o comportamento.

Mas Meloni também sentiu a necessidade de se manifestar.

"Não há espaço em nossas fileiras para aqueles que desempenham um papel caricato que só serve à narrativa que nossos oponentes querem criar sobre nós", escreveu na mensagem. "Não temos tempo a perder com aqueles que querem nos fazer retroceder."

Ela também lembrou aos líderes do partido que os Irmãos da Itália aderiram à resolução do Parlamento Europeu de 2019 que condenou todas as ditaduras do século 20. Ela disse que essa é uma posição que não pretende questionar.

Dois membros da juventude, Elisa Segnini e Flaminia Pace, que foram destaque na reportagem, deixaram seus cargos oficiais após a divulgação, mas não foram expulsas do movimento, disse Donatella Di Nitto, porta-voz dos Irmãos da Itália.

Segnini deixou seu emprego com um parlamentar do partido, e Pace renunciou ao seu cargo no Conselho da Juventude Italiana. Di Nitto disse que Segnini e Pace não fariam comentários e acrescentou que não houve outras renúncias ou expulsões "por enquanto".

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