Descrição de chapéu Eleições nos EUA

Saída de Biden reduz chance de avalanche pró-Trump nos EUA, diz ex-assessor de Obama

Nick Zimmerman avalia que Kamala Harris pode avançar em estados fora da rota eleitoral do atual presidente

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Rio de Janeiro

Ex-assessor na Casa Branca durante o governo Barack Obama, o consultor Nick Zimmerman disse que a saída de Joe Biden da disputa presidencial nos Estados Unidos diminui a probabilidade de uma avalanche eleitoral do Partido Republicano no pleito de novembro.

O atual presidente anunciou no domingo (21) que desistiu de concorrer e disse apoiar sua vice, Kamala Harris.

31.Out.22/Divulgação Wilson Center.
Nick Zimmerman, ex-diretor para Brasil e Cone Sul no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca durante o governo Obama. - Divulgação/ wilsoncenter

Segundo ele, caso Biden permanecesse no páreo, estava se desenhando nos EUA um cenário em que Donald Trump poderia vencer a disputa e seus aliados republicanos conseguirem o controle também da Câmara e do Senado.

"Com a Kamala, voltamos um pouco para a dinâmica da ‘normalidade’ da campanha pré-debate [que desencadeou a crise no comitê de Biden], em que uma avalanche em favor de Trump e seus aliados no Congresso, como alguns analistas falavam, ficou menos provável", disse Zimmerman à Folha.

"Mesmo que o Trump ganhe, o Congresso fica mais apertado, justamente por agora os democratas terem uma candidata que parece mais cheia de gás. Ela mobiliza as campanhas legislativas. Há candidatos no Congresso, como Elissa Slotkin, [democrata de Michigan], que durante esse tempo estava com um desempenho nas pesquisas melhor do que Biden. Tendo uma candidata [à Casa Branca] que pode aproximar essa brecha, fortalece esses nomes democratas. Vai ter um impacto, a corrida pelo controle do Congresso ficou mais apertada".

Zimmerman é atualmente sócio da consultoria Dinámica Americas, especializada nas relações dos EUA com a América Latina. Ele viajou ao Rio para participar de um evento paralelo do G20, organizado no BNDES.

No governo Obama, ele foi diretor para assuntos de Brasil e Cone Sul no Conselho de Segurança Nacional de 2014 a 2016.

De acordo com Zimmerman, Kamala tem possibilidade de buscar votos em estados que antes estavam fora da rota eleitoral traçada por Biden. "Em teoria, há mais estados pêndulos possíveis para a Kamala do que para Biden, que estava concentrado no rust belt (Cinturão da Ferrugem), no caso Wisconsin, Michigan e Pensilvânia".

"Kamala deve atrair com mais força certos eleitores da base democrata, como jovens, afro-americanos e mulheres, que poderiam abrir oportunidades nos estados do chamado sun belt (Cinturão do Sol). Ela até poderia perder em algum estado do rust belt, mas teria como compensar."

Ele cita o exemplo da Carolina do Norte, estado vencido por Trump em 2020, e hoje governado por um dos cotados a vice de Kamala. "O governador [Roy] Cooper é muito popular. Se ele for escolhido, por exemplo, esse estado poderia voltar a estar em disputa."

Questionado sobre a avaliação de parte de analistas nos EUA de que Kamala enfrenta problemas de competitividade, Zimmerman afirma que ainda é cedo para fazer esse diagnóstico.

"O vice-presidente nos Estados Unidos normalmente não atrai muita atenção. Então, é um jogo para ser jogado ainda. Eu aconselharia cautela para qualquer pessoa que ache que ela tem uma reputação muito bem fixada na população americana —positiva ou negativa".

O especialista afirma que o momento agora é de luta entre republicanos e democratas para moldar e definir a narrativa da campanha.

Nesse sentido, diz Zimmerman, os republicanos tratam Kamala como uma espécie de "czar fracassado" da fronteira, por causa da atuação dela no tema no mandato de Biden.

"Só que ela nunca teve responsabilidade política para a fronteira. O trabalho dela era fazer a arrecadação de fundos, de investimentos públicos e privados, num momento em que a migração fugia das características tradicionais de ser proveniente essencialmente da América Central e México" declara.

"Ela pegou muito o fenômeno do estreito de Darién, Venezuela, Cuba, ela não estava trabalhando naquela época com os países que estavam mandando mais migrantes para o país".

"É uma tentativa dos republicanos de definir a Kamala para o povo americano antes mesmo de a campanha começar. Do outro lado, o Partido Democrata tem insistindo no passado de Kamala, que ela defendeu o povo quando foi promotora na Califórnia, que puniu crimes e protegeu famílias. E o que poderia ser melhor do que o contraste entre um condenado na Justiça e uma promotora?"

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