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30/12/2010 - 02h45

No século 21, favela ganha novo foco no cinema brasileiro

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INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Ao longo do tempo, o cinema tem representado a favela como lugar de vício e virtude, de criação cultural sofisticada e malandragem, de crime e honestidade. Com maior ou menor profundidade, conforme o filme, esses aspectos dão conta de uma sociedade que sonhou em criar uma espécie de lugar à margem para seus pobres, desde que em 1888 os escravos foram libertados.

A questão não é pequena, remete a um só tempo à péssima distribuição da renda nacional, à incapacidade de governança das elites (ou antes, à sua capacidade de preservar certo estado de coisas por tanto tempo), à inventividade que, apesar de tudo, esses pobres demonstraram e acabaram por impor na forma de música.

Todos esses aspectos aparecem nos filmes brasileiros desde pelo menos 1932, quando Octavio Gabus Mendes realizou "Mulher". Humberto Mauro subiria o morro, literalmente, poucos anos depois para filmar o hoje perdido "Favela dos Meus Amores".

Divulgação
Wagner Moura no papel já eternizado do coronel Nascimento, em cena do filme; favela voltou com força às telas do Brasil
Wagner Moura no papel já eternizado do coronel Nascimento, em cena do filme; favela voltou com força às telas do Brasil

A tensão morro/cidade, sempre crescente, ressurge com força na bela chanchada "Depois Eu Conto" (1956?), de José Carlos Burle, onde uma boate aberta na favela se torna a coqueluche de todo o Rio.

Com a chegada do cinema novo, a abordagem dos aspectos sociais e culturais na favela se acentua. Mas nesse momento o samba já havia chegado ao asfalto e fazia sucesso em shows como "Opinião" ou "Rosas de Ouro". O negro, sua favela e suas músicas pareciam enfim vislumbrar ao menos uma integração simbólica nessa sociedade tremendamente desigual.

Com o tempo, porém, esse sonho desgastou-se por excesso de uso, de idealização e mesmo de vitimização do favelado.

O que muda tudo e leva a uma nova tematização da favela, na virada do século 21 é a emergência da droga e o domínio brutal exercido pelo crime organizado.

São vários os trabalhos que se esforçam por colocar em relevo as pessoas "de bem" e as atitudes criativas que tomam em circunstâncias adversas, caso de "Uma Onda no Ar" (2002), que trata da criação de uma rádio pirata numa comunidade de Belo Horizonte.

Mas quem estourou, no mesmo ano, foi "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, onde se narra a história de dois meninos, um que consegue se safar da atração que o crime exerce, outro que entra de cabeça na criminalidade mais brutal.

Quem, no entanto, parece ter pego na veia a questão da favela tal como se formula hoje foi José Padilha com "Tropa de Elite". Pode-se discutir ao infinito os dois filmes sobre a ação do Bope e seu capitão Nascimento. Com eles, o morro não é mais caso de cultura ou distribuição de renda. O problema central é de polícia. De polícia e de corrupção (corrupção policial sobretudo).

"Tropa de Elite" faz tudo voltar ao começo: a questão da favela não é bem a favela, mas o fato de a sociedade ter acreditado, o quanto pôde, que deixando os seus pobres à margem evitariam o contágio da "boa" sociedade com a outra. Parece que não deu certo. Não é por acaso que "Tropa 2" se tornou o filme nacional mais visto de todos os tempos.

 

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