Conheça história da garota piauiense que trocou o hábito religioso pela panela

Subchefe Lauanda do Guia Felix desistiu de virar noviça para se dedicar à cozinha do Norte da Itália

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São Paulo

Lauanda da Guia Felix não chegou a passar fome, mas quase. Numa manhã de abril de 2012, acordou com a mãe ajoelhada no chão batido, mãos em prece, pedindo socorro à Nossa Senhora da Guia, padroeira de Floriano, cidade piauiense onde nasceu —seu segundo nome é uma homenagem à santa.

As orações de dona Francisca pediam que a família de mãe solo não passasse fome. Naquele dia, não tinha o que comer. Quando a matriarca saiu para pedir dinheiro a uma tia, cruzou a pequena capela do bairro de Cajueiro, onde recebeu uma cesta básica.

Lauanda Felix, subchef do Simone Ristorante
Lauanda Felix, subchef do Simone Ristorante - Adriano Vizoni/Folhapress

"Nunca fiquei tão feliz em comer um cuscuz com café", conta Felix, hoje, aos 23 anos, subchefe do Simone Ristorante, dedicado à culinária do Norte da Itália no Itaim Bibi. "Ao mesmo tempo em que é reconfortante, também é uma lembrança traumática.

O encanto pela cozinha começou nas festas dedicadas à santa. Ela ajudava a matriarca no preparo de um prato típico, a panelada, um cozido feito com as vísceras bovinas e temperos fortes. "A cozinha se transformou no meu porto seguro", diz. A garota também tinha a incumbência de fazer propaganda dos pratos da mãe entre os romeiros.

Logo, foi trabalhar no restaurante da rodoviária. Aos fins de semana, ajudava as freiras da paróquia na missão de levar comida aos necessitados. "Quase virei noviça, mas minha fé me levou a outros caminhos."

Ao descobrir as ambições culinárias da filha, a mãe avisou: "Então é hora de trabalhar sério. Como mulher e filha minha, não vai ser bancada por macho. Nem por mim".Foi contratada pelo restaurante flutuante do rio Parnaíba. "Era o único de alto padrão."

Com o primeiro cartão de crédito, gastou R$ 400 numa passagem rumo a SP. Dois dias de ônibus, chegou com energia para encarar o que viesse. De ajudante de cozinha, logo virou subchefe de uma padaria no Itaim. Percebeu que alguma coisa acontecia no nº 677 da rua Pedroso Alvarenga. "Os caras da obra me falaram que ia ser um restaurante."

Ficou curiosa e mandou mensagem pelo Instagram. Quem respondeu foi o próprio chef, Simone Pietro Paratella. Currículo enviado, conversa agendada com ele e pronto: o início de turno não demorou um mês. "Muitas vezes, era como se fosse um pião rodando sem saber em que lado ancorar." Outras, saía do restaurante aos prantos. "Teve hora que me senti impotente ao lado de gente falando inglês, italiano." Numa noite de casa cheia, alcançou, nas palavras dela, um "momento extraordinário", quando conseguiu que sua equipe de quatro funcionários atuasse em total sintonia com o chef.

"Não à toa, quando saio do salão e estou prestes a chegar em casa, costumo passar na paróquia São José Operário, no Capão Redondo, para agradecer à Nossa Senhora."

Simone Ristorante
R. Pedroso Alvarenga, 677, Itaim Bibi, região oeste, tel. (11) 99234-0632, @ristorantesimone

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