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Ricardo Patah: Desalentados e a greve dos caminhoneiros de Temer

Perspectiva de criar empregos ficou mais distante

Ricardo Patah, presidente da UGT, durante debate na Folha sobre sindicalismo, em 2014
Ricardo Patah, presidente da UGT, durante debate na Folha sobre sindicalismo, em 2014 - Eduardo Knapp - 30.abr.14/Folhapress

Em meio às oceânicas crises que infernizam diariamente a vida nacional, surgiram personagens novos no nosso desastrado cotidiano, sem que o País se desse conta disso: são cerca de 5 milhões de desalentados. O nome é assustador e angustiante. Até recentemente, integravam o universo de 13 milhões de pessoas desempregadas. Agora, desistiram de tudo.

E o que mais assusta é que a greve dos caminhoneiros do perigosamente perdido governo Temer aumente ainda mais esse exército de trabalhadores sem rumo. A economia regrediu com a paralisação, e a perspectiva de se aumentar os postos de trabalho ficou ainda mais distante. Nosso país parece ter sido sequestrado por um grupo (governo federal, parte do Congresso, empresários, banqueiros etc.,) e não consegue caminhar sem tumultos perigosos, como esse dos motoristas.

A bem da verdade, as reivindicações do setor eram corretas. O governo Temer, que já tinha o problema na mão desde outubro passado, não deu a mínima importância. Deixou as coisas rolarem até a explosão do conflito que pôs em risco nossa frágil democracia, como se nossos graves problemas pudessem ser resolvidos com um golpe. Já tivemos essa experiência, e seus resultados nefastos são conhecidos de todos.

Para resolver os problemas dos caminhoneiros, o governo cortou verbas da saúde e da educação, tirando benefícios sociais de trabalhadores pobres e aposentados. Mas não mexeu, por exemplo, com as emedas parlamentares. Só nos primeiros quatro meses deste ano, já foram liberados quase R$ 2 bilhões para deputados e senadores. Se o roteiro for seguido à risca, até o fim deste ano cada um vai receber R$ 14,8 milhões. Serão R$ 8,8 bilhões no total. Quase o custo da greve dos caminhoneiros.

Os desalentados foram manchete desta Folha no dia 18 de maio. O IBGE informa que o número de desalentados (ou desesperançados) é o maior já registrado. Cresceu de forma absurda desde 2014, transformando-se no mais novo drama dos trabalhadores desempregados.

Já somos o país da informalidade, do "bico", do trabalho intermitente e por conta própria, da pejotizacão. Temos cerca de 34,3 milhões de pessoas nessas modalidades, contingente superior aos 33,3 milhões de ocupados em vagas formais (dados do IBGE).

Durante a reforma trabalhista, o governo propagandeou que seriam criados milhões de empregos, o que não aconteceu, como vimos acima. A UGT (União Geral dos Trabalhadores) realizou, no último 1° de maio, seminário sobre a Quarta Revolução Industrial. Participaram especialistas da USP (Universidade de São Paulo) e da Unesp (Universidade Estadual Paulista). A principal discussão girou em torno das mudanças em curso nas relações trabalhistas, motivadas especialmente pela flexibilização e pela era digital.

A automação vai mexer com 16 milhões de brasileiros até 2030, segundo especialistas do setor. Essas mudanças já vêm ocorrendo em muitos países há mais de 20 anos, mas o Brasil ainda não acordou para esse problema. Vivemos uma constante crise política, econômica, social e moral e não conseguimos reagir. Nosso país parece um gigante abatido.

Klaus Schwab, autor do livro "A Quarta Revolução Industrial", tem uma frase assustadora sobre essa imobilidade: "Neste novo mundo, não é o peixe grande que come o pequeno, mas é o peixe rápido que devora o lento".

A grande chance de mudarmos tudo vem com as eleições de outubro. O voto de cada um de nós deve ajudar a fazer uma grande revolução, fortalecendo a nossa democracia. Ou fazemos isso ou corremos o risco de olharmos para os desalentados e dizer: nós seremos vocês amanhã!

Ricardo Patah

Formado em direito e administração, é presidente nacional da UGT (União Geral dos Trabalhadores)

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