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Vexame em Israel

Comitiva que gasta verba pública em busca de spray deveria aprender sobre vacina

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Comitiva brasileira enviada a Israel em busca de um spray nasal testado contra a Covid-19 - Ministério das Relações Exteriores de Israel

Na sequência de descalabros da gestão da pandemia de Covid-19 pelo governo Jair Bolsonaro, a viagem de uma comitiva a Israel em busca de um spray nasal que está em fase inicial de testes seria apenas ridícula se não consumisse dinheiro público já escasso.

Comandado pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o grupo oficial de dez integrantes desembarcou naquele país no sábado (6) com objetivo principal de assinar um memorando para trazer tal droga ao Brasil —conforme declarado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que faz parte da trupe.

Ocorre que o remédio, chamado EXO-CD24 e dado como possivelmente “milagroso” pelo chanceler, ainda está na chamada fase 1 de pesquisa clínica. Não se sabe se a droga, que é usada contra o câncer de ovário, é segura e eficaz para pacientes de Covid-19.

A previsão é que a etapa inicial dos experimentos com o spray em Israel —com apenas 30 pessoas— seja concluída em 25 de março. Tudo correndo bem, o desempenho da droga contra o coronavírus será então testada nas etapas seguintes com amostras maiores.

Não tem cabimento, portanto, uma viagem oficial por um produto cuja pesquisa clínica está apenas começando. Para uma ideia, somente em drogas aplicadas por inalação contra a Covid-19 há 35 experimentos em humanos no mundo. A pesquisa de Israel está entre as mais incipientes delas.

O vexame da incursão em Israel é maior por se tratar do país recordista mundial em vacinação na crise sanitária. Mais da metade da população israelense já foi imunizada, ante menos de 5% no Brasil.

Lá, os membros da comitiva foram instados a fazer distanciamento social e a usar máscaras faciais —práticas que renegam aqui.

Na charlatanice bolsonarista, o spray passou a ocupar parte do espaço cedido pela cloroquina, antimalárico com o qual se despendeu energia e recursos públicos humanos e orçamentários.
Fez-se tudo isso mesmo diante de centenas de pesquisas concluídas em todo o mundo que constataram a ineficácia do medicamento.

Enquanto isso o governo de Jair Bolsonaro fracassa miseravelmente em providenciar o único instrumento capaz de conduzir à superação da pandemia —a vacina. Ao menos esse ensinamento deveria ser absorvido em Israel, se os enviados mostrassem alguma disposição para o aprendizado.

editoriais@grupofolha.com.br

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