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Ricardo Viveiros

Real valorizado: menos juros e mais crescimento

Há evidências de que o mercado tem manipulado a alta do dólar para também elevar a inflação

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Ricardo Viveiros

Jornalista, professor e escritor, é doutor em educação, arte e história da cultura; autor, entre outros, de “A Vila que Descobriu o Brasil” (Geração), “Justiça Seja Feita” (Sesi-SP) e “Memórias de um Tempo Obscuro” (Contexto)

Em uma economia emergente como a do Brasil, a valorização do real é ferramenta correta para conter a inflação. Utilizar altos juros para esse fim significa um remédio amargo, que, além de aumentar os custos financeiros sobre os produtos, causa sequelas. De janeiro a junho deste ano, devido aos juros elevados, houve 1.014 pedidos de recuperação judicial por parte de empresas. Além das críticas direcionadas ao presidente do Banco Central , Roberto Campos Neto, pelos juros altos, é importante observar que, ao promover a desvalorização do real, ele está contribuindo para a alta da inflação.

Há evidências de que o mercado tem manipulado a alta do dólar com o intuito de também elevar a inflação. Ademais, entre maio e agosto deste ano, o BC aumentou nossas reservas cambiais em US$ 19 bilhões, o que contribuiu para a subida do dólar e, consequentemente, da inflação. Nesse cenário, o presidente do órgão parece estar mais a serviço do mercado financeiro do que da sociedade. Se não fosse isso, Campos Neto, em vez de aumentar as reservas cambiais, estaria reduzindo parte delas para valorizar o real e, assim, diminuir a inflação. O presidente do BC promove a alta inflacionária com a desvalorização da nossa moeda e, em seguida, dissimuladamente, usa o álibi da inflação para justificar a manutenção da taxa básica de juros (Selic) elevada, satisfazendo parceiros do mercado financeiro —sua origem e seu provável futuro.

Quanto à valorização do real ser danosa às exportações, não é verdade, pois não afeta os resultados das vendas para o exterior, uma vez que elas são realizadas em dólares. A rigor, reduz os custos com a logística e os insumos importados, enquanto os ativos em dólares dos exportadores também valorizam, contribuindo para que nossa economia torne-se uma das mais sustentáveis do mundo.

Ao reduzir nossas reservas cambiais em US$ 100 bilhões para o pagamento de parte da dívida pública federal, ainda manteríamos montante superior ao das quatro maiores economias europeias juntas. Isso, além de reduzir a dívida pública, seria suficiente para colocar em pouco tempo o dólar abaixo de R$ 4,50, o que promoveria a queda da inflação para a meta de 3% em cerca de oito meses. É recomendável manter as nossas reservas cambiais em, no máximo, 12% do PIB, o que favorece sua valorização e, por consequência, impede a alta da inflação e melhora nossa posição no ranking mundial.

Caso Gabriel Galípolo, como se comenta, venha a ser o presidente do Banco Central e adote a estratégia de substituir juros altos pela valorização do real no combate à inflação, os investidores estrangeiros se interessariam por colocar mais dinheiro no Brasil, porque obteriam lucros em suas operações —como ocorreu no governo anterior de Lula, quando a nossa moeda passou de R$ 3,54 por dólar, em 2003, para R$ 1,66, em 2010. Não é compreensível que os investidores estrangeiros ainda acreditem na estratégia de Campos Neto e do mercado financeiro de promover previsões pessimistas sobre o crescimento do PIB brasileiro e, assim, inibir o ingresso de dólares na economia nacional para promover a queda da inflação.

Para o bem do Brasil, no combate à inflação, o real valorizado é a solução!

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