Ex-premiê espanhol diz que prisão de Lula é problema para democracia 

Socialista Felipe González diz que petista deveria poder ser candidato

Diogo Bercito
Jerusalém

O ex-premiê espanhol Felipe González afirmou nesta quarta-feira (11) que a ausência de Luiz Inácio Lula da Silva como candidato nas eleições de outubro “é um problema de grande impacto para o sistema democrático”. Lula foi preso no sábado.

O ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe González e o ex-presidente Lula durante seminário em SP em 2015 - 22 - jun-2015/Reuters

“Acredito que sua exclusão da disputa eleitoral deixaria uma parte significativa da população brasileira órfã de representatividade”, disse em uma nota o socialista González, que liderou a Espanha de 1982 a 1996. “Isso poderia dificultar a superação da crise política.”

O comunicado de González --que se refere a Lula como “amigo”-- registra também que, apesar da Lei da Ficha Limpa, o ex-presidente deveria poder ser candidato à Presidência até que receba uma “sentença firme”.

“Lula nunca questionou o sistema constitucional do Brasil. Pelo contrário. A alternância que levou a seu triunfo eleitoral reforçou o sistema. Sem falar de sua tarefa como presidente mais popular e com mais projeção do Brasil no mundo.”

Apesar de já ter deixado o poder, o ex-premiê espanhol González segue sendo uma importante figura política na Espanha, e uma das mais respeitadas até hoje por seu papel na transição democrática que seguiu a ditadura de Francisco Franco (1939-1975). Ele é um dos líderes carismáticos do Partido Socialista Operário Espanhol.

“O Brasil é um país-chave para a América Latina e para a comunidade de emergentes e com um papel crescente na ordem (ou desordem) mundial”, segundo a nota de González. “Devemos esperar que supere a crise política e volte a ter o papel que lhe corresponde.”

As declarações de González se somam às críticas feitas na sexta-feira (6) pelo partido de esquerda Podemos. Em um comunicado, seu porta-voz no Parlamento Europeu, Miguel Urbán, afirmou que a condenação de Lula era “mais um passo na senda antidemocrática que o Brasil está vivendo nestes últimos anos”.

O Podemos já havia feito no passado outras acusações ao governo brasileiro, referindo-se ao presidente Michel Temer como “golpista” e à sua administração como “ilegítima”.

Essas declarações têm peso porque outro eurodeputado do Podemos, Xavier Benito, é vice-presidente da delegação europeia para negociar um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. O partido hoje pede que as tratativas sejam paralisadas.

“O Brasil não cumpre as condições democráticas mínimas, como demonstram estes fatos recentes”, Benito escreveu na sexta-feira.

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