Morre aos 89 anos Severino Cavalcanti, ex-presidente da Câmara dos Deputados

Político pernambucano apresentava problemas cardíacos

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Recife

O ex-presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcanti (PP), 89, morreu na madrugada desta quarta-feira (15) em sua casa no Recife.

De acordo com familiares, Severino tinha problemas cardíacos. O político morreu enquanto dormia. “Ele usava marcapasso e sentia dores nos ossos”, afirmou José Maurício Cavalcanti, um dos três filhos do político, que exerce o cargo de secretário-executivo da Casa Civil no governo Paulo Câmara (PSB), em Pernambuco.

No último dia 10, o político recebeu familiares em casa para comemorar 64 anos de casamento. "Fomos para lá, todos de máscara e sem chegar muito perto. Ele estava bem", diz o filho.

Severino tem uma longa trajetória política por Pernambuco. Pelos extintos PFL e PPB, exerceu o mandato de deputado federal por três mandatos.

O “rei do baixo clero”, como ficou conhecido em 2005, aproveitou-se de um racha na base do PT e venceu a disputa naquele ano à presidência da Câmara contra o candidato oficial do governo Lula, Luiz Eduardo Greenhalgh.

Até aquele momento, Severino, com a ajuda da oposição, impôs a maior derrota política do petista no governo. Ele havia construído sua candidatura com a promessa de elevar salários e de melhorar as condições financeiras de atuação dos colegas deputados.

Antes de se tornar presidente, fez parte da mesa diretora da Casa por oito anos. Também ocupou a corregedoria da Câmara.

Passou apenas sete meses no comando da Câmara. Neste período, barrou pedidos de abertura de impeachment contra o então presidente Lula, que vivia um bombardeio de acusações em razão do chamado “mensalão”.

Três meses após chegar ao posto máximo da Casa, uma frase ficou famosa ao tentar emplacar no governo petista o nome de um conterrâneo, o engenheiro pernambucano Djalma Rodrigues, na diretoria de Exploração e Produção da Petrobras.

“O que o presidente [Lula] me ofereceu foi aquela diretoria que fura poço e acha petróleo. É essa que eu quero”. A frase teria sido dita por ele a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff.

O cargo, segundo relatos de Severino, tinha sido ventilado por Lula durante ida a Roma para entrerro do papa João Paulo 2º.

Em setembro de 2005, Severino acabou sendo acusado por Sebastião Buani, dono de um restaurante na Câmara, de receber R$ 10 mil reais por mês para que o estabelecimento pudesse funcionar. O episódio ficou conhecido como “mensalinho”.

Em 21 de setembro, diante das denúncias, acabou renunciando ao mandato de deputado federal e deixou a presidência.

Em sua breve passagem como presidente, foi alvo de protestos por se posicionar contra projetos de lei em favor do reconhecimento dos direitos civis dos homossexuais.

Em seu discurso de despedida, no mesmo dia em que anunciou a renúncia, disse que iria voltar e seria absolvido pelo povo. “A queda do presidente do baixo clero, lógico, é a vitória dessa elitezinha que fez tudo para derrubá-lo e ridicularizá-lo", afirmou, referindo-se a si mesmo.

Mas a população não o absolveu. Em 2006, Severino tentou voltar a Brasília e foi derrotado nas urnas. Dois anos depois, foi eleito novamente prefeito de João Alfredo, no interior de Pernambuco, sua cidade natal.

Na campanha, usou o então presidente Lula como principal cabo eleitoral. Em março de 2008, em um evento público no Recife, Lula retribuiu as ajudas de Severino e fez um afago ao político.

Dirigindo-se ao ex-deputado do PP, que estava na plateia, o petista afirmou que as elites paulista e paranaense tinham o derrubado do poder.

"Elegeram o Severino. Não levou muito tempo e perceberam que ele não era oposição, e trataram de derrubar o Severino com a mesma facilidade com que o elegeram”, discursou Lula.

Poucos meses depois, usando o slogan "o candidato de Lula", Severino obteve 52,31% dos votos e derrotou o nome do PSDB na disputa pela prefeitura de João Alfredo.

Durante a campanha, costumava sacar o celular e mostrar aos eleitores uma foto ao lado da maior estrela petista. Foi o último cargo eletivo que ele ocupou. Exerceu o mandato de janeiro de 2009 a dezembro de 2012.

Ele foi enquadrado na chamada Lei da Ficha Limpa e impedido de concorrer à reeleição em João Alfredo. A Justiça Eleitoral entendeu que, por ter renunciado ao mandato de deputado para não ser cassado, o político tornou-se inelegível. Na época, não quis recorrer da decisão.

Em 2017, o ex-deputado foi condenado em 2º instância por improbidade administrativa por ter empregado uma neta em seu gabinete, de 2003 a 2005, sem que ela trabalhasse no local.

​Integrante da UDN (União Democrática Nacional), partido que havia liderado oposição a Getúlio Vargas, havia comandado o município pela primeira vez em 1964.

Na biografia de Severino como deputado estadual consta a denúncia que levou o governo militar a expulsar do Brasil o padre italiano Vito Miracapillo, em outubro de 1980.

O religioso, ligado à ala progressista da Igreja Católica, atuava em Ribeirão, no interior de Pernambuco, e havia se recusado a celebrar uma missa na cidade alusiva à Independência. Após denúncia formalizada por Severino Cavalcanti, o então presidente da República, João Baptista Figueiredo, assinou a expulsão.

Antes de se consolidar no PP, passou por diversos partidos. Em 1966, entrou para a Arena (Aliança Renovadora Nacional), sigla de sustentação da ditadura militar. Em 1980, foi para o PDS e, em 1987, para o PDC (Partido Democrata Cristão), onde permaneceu até 1990, quando entrou no PL (Partido Liberal).

Ficou pouco no PL, apenas até 1992, quando foi para o PPR. Em 1994, transferiu-se para o PFL e logo em seguida para o PPB, onde permaneceu até 2003, quando o partido mudou o nome para PP.

Nas redes sociais, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), disse que a morte dele deixa uma lacuna na política de Pernambuco.

O sepultamento do corpo aconteceu na tarde desta quarta-feira (15), em João Alfredo. Não houve velório para evitar aglomerações na cidade. O político deixa a esposa, três filhos, seis netos e dois bisnetos.

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