Descrição de chapéu Eleições 2022

Lula discute ampliar alianças na 1ª reunião geral de campanha e admite falhas nas redes

Campanha petista também quer usar Alckmin para atrair tucanos após desistência de Doria

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São Paulo e Rio de Janeiro

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) se reuniram nesta segunda-feira (23) pela primeira vez com a coordenação geral da pré-campanha para discutir o papel que cada partido da coligação terá, a conjuntura atual e os próximos passos.

A ampliação das alianças —para além do campo da esquerda— foi um dos principais temas levantados por aliados do petista. Além da busca por partidos como PSD, MDB, Avante e Pros, houve quem defendesse atrair a chamada terceira via e candidaturas como a de Ciro Gomes (PDT) e de Simone Tebet (MDB).

Integrantes da coordenação da pré-campanha de Lula também indicaram que, após a desistência de João Doria (PSDB) da disputa presidencial, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice do petista, deverá atuar na conquista do apoio de tucanos já no primeiro turno.

Lula admitiu também ser necessário melhorar a atuação da campanha nas redes, mas disse que é a política que vai definir a eleição. Ele falou que foi cobrado a se manifestar sobre o indulto ao deputado Daniel Silveira, mas que não se deixaria pautar pelo discurso de Jair Bolsonaro (PL).

O encontro contou com a presença dos presidentes dos sete partidos (PT, PSB, Solidariedade, PSOL, PC do B, PV e Rede), além de representantes das siglas, como os ex-governadores Márcio França (PSB) e Wellington Dias (PT), o ex-ministro Luiz Dulci e o líder sem-teto Guilherme Boulos (PSOL).

Participaram também os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Paulo Rocha (PT), os prefeitos João Campos (PSB-PE) e Edinho Silva (PT-SP), os deputados federais Rui Falcão (PT-SP), Ivan Valente (PSOL-SP), Paulo Teixeira (PT-SP) e Reginaldo Leite (PT-MG).

A socióloga Rosângela da Silva, a Janja, esposa do petista, também esteve presente. A reunião ocorreu em um hotel em São Paulo.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o ex-presidente Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin em reunião da coordenação geral da campanha ao Planalto
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o ex-presidente Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin em reunião da coordenação geral da campanha ao Planalto - Marlene Bergamo/Folhapress

No começo do encontro, Marcos Coimbra, diretor do Instituto Vox Populi, fez uma apresentação sobre o cenário político.

Coimbra levantou três elementos em sua fala sobre pesquisas: uma "estabilidade inédita" dos índices de intenção de voto nas pesquisas, com favoritismo de Lula; consolidação de votos em torno do petista e do presidente Jair Bolsonaro; e uma tendência de antecipação para liquidar a fatura no primeiro turno.

Na reunião, ao descrever Alckmin como um "vice dos sonhos", Lula afirmou que não achava que encontraria um vice tão qualificado quanto José Alencar. Mas que, agora, teria mudado de opinião e que não teria vice melhor que o ex-tucano.

A expectativa de parte da pré-campanha do petista é que setor importante do PSDB irá aderir à candidatura de Lula, graças a um movimento encampado por Alckmin.

Lula também usou essa aliança com Alckmin como uma demonstração de sua disposição ao diálogo e, ao ser aconselhado a ampliar a negociação fora do arco da esquerda, disse estar disposto a conversar com todos os setores, incluindo agronegócio, mercado financeiro e indústria.

À imprensa a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, criticou Bolsonaro e afirmou que a campanha deste ano será "muito judicializada por conta das barbaridades que eles fazem".

"Espero que as instituições, principalmente o TSE [Tribunal Superior Eleitoral], tomem medidas firmes em relação a fake news e a propagação de fake news", disse.

Ela afirmou ainda que espera ter uma conversa com o TSE sobre o aplicativo de mensagens Telegram.

"Vai ter um escritório aqui? Tem algum representante? Vai ter regras sobre isso? Ou vai ser terra de ninguém, vai poder falar o que quiser, do jeito que quiser e todo mundo vira vítima?"

"Porque tem um momento em que nós somos as vítimas, mas depois as vítimas também passam a ser as instituições como está sendo o TSE e o Supremo Tribunal Federal. Eles têm responsabilidade em relação a isso para fazer com que esse processo eleitoral seja o mais limpo possível."

Gleisi disse ainda que a coordenação da pré-campanha ainda não discutiu uma eventual aproximação com o ex-governador João Doria. "Não somos contra conversar com ninguém que se coloca nesse campo democrático, mas isso ainda não foi discutido", disse.

A deputada seguiu dizendo que a coligação trabalha para ampliar alianças com figuras políticas e demais partidos, entre eles PSD, MDB, Avante e Pros. E disse que será uma eleição "disputada e dura".

"Sabemos como eles jogam com as fake news, violência, tentativa de mudar de foco aquilo que é essencial, que é a vida do povo (…) é a democracia contra o autoritarismo."

Antes do encontro começar, aliados de Lula afirmaram que era possível antecipar o resultado das eleições para o primeiro turno e disseram que era preciso ampliar as alianças.

Presidente do Solidariedade, o deputado federal Paulinho da Força afirmou que é possível atrair partidos da chamada terceira via. "Como a terceira via vem definhando a cada dia que passa, acho que é possível ampliar as alianças nesses partidos que os candidatos não pegaram no tranco e nem vão pegar" disse.

Para ele, Alckmin poderá atuar na ampliação das alianças. "Ele tem espaço hoje no Brasil inteiro e pode trabalhar para fazer isso e além da esquerda, ir além do centro. A eleição vai se estreitar cada dia mais, eu não acredito em segundo turno. Por isso precisamos fazer que a candidatura do Lula seja a de quem quer tirar o Bolsonaro e reconstruir o Brasil", disse.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que mantém diálogo com candidaturas de nomes como Ciro Gomes e Simone Tebet e que é preciso "sentar à mesa com todos os partidos em defesa da democracia".

"O resultado dessas eleições não será aceito por Jair Bolsonaro. Derrotá-lo no primeiro turno é uma necessidade para a democracia brasileira, é civilizatória. Não sei se conseguiremos, não quero subestimar", disse o parlamentar.

À saída da reunião, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, relatou ter recomendado sinais de amplitude já na elaboração do programa de governo. Segundo Siqueira, ninguém sugeriu a quem procurar. Mas Lula citou espontaneamente o nome do presidente da Fiesp, Josué Gomes.

Ainda no almoço, segundo relatos, Lula afirmou que procuraria o ex-senador José Aníbal (PSDB). Petistas apostam ainda na aproximação com tucanos como os ex-governadores Tasso Jereissati e Marconi Perillo, além do ex-prefeito Arthur Virgílio Neto.

Guilherme Boulos, que presidirá a federação PSOL-Rede, disse que é preciso discutir estratégias de mobilização da pré-campanha.

"Essa vai ser uma campanha de mobilização pelo nível de polarização, pela forma odiosa como Bolsonaro tenta trazer o debate. Vamos precisar de mobilização da sociedade para que o Lula consiga uma vitória forte, expressiva e que também não dê margem nem brecha para qualquer alucinação golpista", afirmou.

O prefeito de Recife, João Campos (PSB), afirmou ainda que as eleições irão exigir "desprendimento de todos nós" e que Alckmin trará "legitimidade".

"A própria figura dele fala por si. Ele tem um perfil muito conciliador, é uma pessoa que consegue ter legitimidade e ser muito respeitada em segmentos importantes da sociedade. A máxima de uma eleição é a capacidade de juntar. Vence quem junta, quem agrega, inclusive, os diferentes.

Ainda hoje, será realizada reunião de trabalho com representantes dos partidos sobre áreas temáticas da pré-campanha, como agenda, finanças, comunicação, mobilização e programa de governo.

Cada um desses temas será discutido em pequenos grupos. A ideia é que eles dialogem com a coordenação da pré-campanha ao longo deste ano.

Na próxima semana, Lula e Alckmin deverão seguir para agendas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina —será a primeira viagem da dupla. ​

Segundo o deputado federal Ivan Valente (PSOL), que participou do encontro, Lula lembrou que tem sido cobrado a apresentar novidades em seus discursos, em vez de falar de sua gestão passada.

O ex-presidente disse, no entanto, que o novo hoje é a volta da valorização do salário mínimo e da retomada do papel do estado como indutor do crescimento social e econômico. Lula voltou a se manifestar contra a privatização de Eletrobras e Petrobras.

Na parte da tarde, uma segunda reunião ocorreu entre representates dos partidos para tratar de áreas temáticas da pré-campanha: estavam previstos debates sobre comunicação, plano de governo, finanças, agenda e mobilização. Os três últimos tópicos, no entanto, não foram abordados pela falta de tempo e deverão ser retomados em reuniões futuras.

A ideia é que cada um desses assuntos seja discutido em pequenos grupos formados por representantes dos sete partidos, que irão dialogar com a coordenação da pré-campanha ao longo deste ano.

Na próxima semana, Lula e Alckmin deverão seguir para agendas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina —será a primeira viagem da dupla.

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