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PSDB inicia novo capítulo de briga por candidatura após saída de Doria

Presidente do partido quer apoio a Simone Tebet, mas outra ala mira candidato próprio, de preferência Eduardo Leite

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Brasília e São Paulo

Após o ex-governador João Doria (PSDB-SP) desistir de disputar a Presidência da República, o PSDB inaugurou um novo capítulo de embates no partido sobre quem deve ser o candidato dos tucanos ao Palácio do Planalto.

A divergência se dá entre o apoio à candidatura de Simone Tebet (MDB-MS) e a tese de que outro nome do próprio PSDB deve ser lançado para se contrapor à polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O debate ficaria explícito nesta terça-feira (24) em reunião da executiva do partido, que acabou cancelada pelo presidente da sigla, Bruno Araújo.

Uma das razões para o cancelamento foi justamente evitar dar palanque a argumentos contrários à candidatura de Tebet no dia seguinte à desistência de Doria.

O governador Joao Doria (PSDB-SP) ao anunciar que desistiu da candidatura à Presidência da República ao lado do presidente do PSDB, Bruno Araújo, e da mulher Bia Doria. - Eduardo Knapp/Folhapress

"Não tendo a candidatura de Doria, o PSDB agora caminha para a construção com a Simone. Não vai haver discussão em relação a outra candidatura do PSDB. A reunião poderia reacender discussões inócuas para o momento", diz o secretário-geral do partido, Beto Pereira (MS).

"O PSDB tem um acordo político em torno de uma candidatura única (PSDB/Cidadania/MDB). Qualquer outra discussão é um desserviço à verdade dos fatos, desrespeito às reiteradas decisão coletivas e, mais grave, ao país", escreveu Araújo em redes sociais na noite desta segunda.

O PSDB também quer aguardar reunião da executiva do MDB, nesta terça, para verificar se o nome de Tebet será referendado.

O encontro da executiva tucana foi remarcado para o dia 2 de junho, quando as discussões dentro do PSDB devem ser retomadas.

De um lado, um grupo capitaneado pelo deputado Aécio Neves (PSDB-MG) defende que o partido tenha candidato próprio, posição já externada pelo parlamentar anteriormente.

A ideia é ressuscitar o nome do ex-governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB), sob o argumento de que ele reúne condições para ser candidato à Presidência e porque ele foi o segundo colocado nas prévias do partido. Se Leite não topar, essa ala de tucanos defende pensar em outra alternativa interna.

Esse grupo vai se contrapor ao que quer o presidente do PSDB, Bruno Araújo, que defende apoiar a candidatura de Simone Tebet ao Planalto.

Aécio divulgou uma nota na noite desta segunda defendendo candidatura própria e dizendo que "partido está em condições de analisar outros nomes" do PSDB para tentar liderar a chamada terceira via.

O deputado também criticou o adiamento da reunião da executiva desta terça.

"Lamento que a reunião da executiva nacional tenha sido adiada. Espero que possamos nos reunir o mais rapidamente possível para debatermos de forma clara e democrática os caminhos para o nosso futuro. O PSDB nunca teve dono e não será agora, nesse momento grave da vida nacional, que terá", disse na nota.

O ex-senador José Aníbal também é do grupo que defende uma candidatura própria e diz que o PSDB pode discutir os nomes de Leite e do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) para representarem o partido.

"O candidato à Presidência que estava posto na conversa entre PSDB, Cidadania e MDB era o Doria. Agora nós queremos que o PSDB tenha outro candidato, inclusive podemos continuar a conversa com MDB. É essa a vontade que estou colhendo do Brasil inteiro", diz Aníbal.

Após a desistência de Doria, o ex-governador Eduardo Leite publicou mensagem nas redes sociais na qual elogiou o gesto do tucano e diz que foi "importante" e "merece respeito". "O PSDB teve candidato legítimo, oriundo das prévias, que agora faz gesto pela unificação da terceira via sob liderança de outro partido", afirma.

Entre os argumentos usados pelo grupo de Aécio está o de que existe um risco de o próprio MDB não homologar a candidatura de Tebet. A direção do MDB rechaça essa hipótese e diz que levantamentos apontam que a maior parte do partido está com a senadora.

Integrantes do MDB inclusive acusam Aécio de agir para favorecer a candidatura de Bolsonaro ao tumultuar a terceira via. Apesar disso, líderes emedebistas admitem que pode não ser fácil aprovar o nome da parlamentar.

Após o pronunciamento de Doria, Araújo, que acompanhou a fala do ex-governador paulista, afirmou que uma candidatura presidencial própria do partido é um "assunto vencido, no sentido de que a aliança é absolutamente fundamental".

Araújo disse à imprensa nesta segunda-feira que a coligação com MDB e Cidadania em torno de um candidato único vai avançar. "O PSDB está firme nessa coligação."

A manter-se a indicação do presidente tucano, o partido não terá candidato a presidente pela primeira vez desde a redemocratização. ​

Os próximos passos, segundo Araújo, são a discussão de programa conjunto e de alianças nos estados, além da escolha de um vice. "É natural é que vice seja do PSDB, mas é um processo de construção", disse.

O dirigente também deu um recado para as alas do PSDB que ainda defendem a candidatura própria tucana.

"O Brasil não precisa neste momento de mais divisão interna no nosso campo. O gesto de João Doria nos obriga moralmente a todos nós. Quem fizer um movimento diferente desse está demonstrando que tem mais compromisso com si mesmo do que com o projeto de Brasil. Vamos seguir firmes no sentido de uma candidatura que una, no mínimo, esses três importantes partidos", disse.

Araújo minimizou as divisões internas no PSDB a respeito da adesão ao MDB. "Claro, como presidente do PSDB, eu gostaria muito que nós tivéssemos uma candidatura própria, mas há algo maior do que tudo isso, maior do que a vontade de João Doria, maior do que a minha vontade. A vontade agora é coletiva", disse Araújo.

​As divergências seriam abordadas nesta terça, quando estava marcada uma reunião da executiva do partido. O encontro havia sido convocado por Araújo para que o PSDB chancele o nome de Tebet.

Araújo, porém, cancelou o encontro e seus aliados disseram que não havia mais o que deliberar na reunião. Isso porque, dizem eles, o objetivo seria optar por Doria ou Tebet e o ex-governador paulista já abriu mão da disputa.

"Depois do anúncio de hoje do Doria, a reunião se tornou inócua naturalmente", disse o líder do PSDB na Câmara, Adolfo Viana (BA).

Mesmo que posteriormente a executiva tenha de se manifestar e resolva por apoiar a emedebista, um grupo de tucanos já prepara o argumento de que só a convenção partidária pode decidir por formalizar alianças com outros partidos.

Ou seja, a briga dentro do ninho tucano pode perdurar até julho, com a tentativa de uma ala da sigla de encampar um nome próprio, de preferência o de Leite.

Doria anunciou que se retirava da campanha em declaração nesta segunda. De acordo com aliados, ele bateu martelo sobre a decisão na noite de domingo (22), por volta das 21h.

Pesou na decisão do ex-governador a avaliação de que o PSDB o deixaria sem dinheiro para tocar a própria campanha porque a cúpula tucana levaria adiante a ideia de encampar a candidatura de Tebet.

A desistência de Doria ocorre depois de a cúpula do partido executar um roteiro que previa escolher o nome da senadora emedebista como a representante da terceira via para rifar o nome de Doria de uma vez por todas, como mostrou a Folha.

Essa estratégia foi criticada por Aécio, que defendia que a cúpula do partido se reunisse com Doria para apontar a ele os problemas da candidatura para que ele desistisse, o que acabou ocorrendo.

Mas Aécio espera que a desistência de Doria libere os tucanos para rediscutirem o melhor caminho para a eleição presidencial —na sua visão, Leite.

CANDIDATOS DO PSDB DESDE 1989

  • 1989 Mário Covas
  • 1994 Fernando Henrique Cardoso
  • 1998 Fernando Henrique Cardoso
  • 2002 José Serra
  • 2006 Geraldo Alckmin
  • 2010 José Serra
  • 2014 Aécio Neves
  • 2018 Geraldo Alckmin
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