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Polícia de SP pedirá íntegra de vídeos da Jovem Pan que equipe de Tarcísio mandou apagar

Entidade ligada a jornalistas classificou episódio como tentativa de censura

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São Paulo

A Polícia Civil de São Paulo pedirá a íntegra dos vídeos do tiroteio em Paraisópolis feitos por um cinegrafista da Jovem Pan e que a equipe de Tarcísio de Freitas (Republicanos) mandou apagar.

O pedido para que a investigação policial tenha acesso ao conteúdo completo das imagens, segundo a Folha apurou, foi feito por policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), dirigido por Elisabete Sato, logo após reportagem publicada pelo jornal.

Conforme áudio revelado pela Folha, um cinegrafista da emissora, que pediu para não ser identificado, fazia imagens da campanha de Tarcísio e recebeu a ordem de um integrante da equipe do candidato para apagar os vídeos após a troca de tiros que terminou com um suspeito morto em Paraisópolis, na zona oeste, no último dia 17.

Integrantes da Polícia Civil dizem reservadamente que a destruição de provas é considerada grave, até porque imagens ajudam os investigadores a entender a dinâmica de ataques.

Na ocasião, policiais à paisana trocaram tiros com suspeitos, deixando uma pessoa morta.

Candidato Tarcísio de Freitas busca abrigo após tiroteio em comunidade
Candidato Tarcísio de Freitas busca abrigo após tiroteio em comunidade - Reprodução/GloboNews

O advogado Ariel de Castro Alves, do grupo Tortura Nunca Mais, oficiou a Ouvidoria da Polícia para apurar o caso. Ele cita reportagem da Folha sobre ordem da equipe de Tarcísio para que cinegrafista apagasse imagens.

"A versão de autoridades policiais investigativas de que alguém da comunidade poderia ter retirado a suposta arma que estaria em poder do homem baleado pelos policiais causa estranhamento, em razão da grande quantidade de agentes que estavam nas proximidades onde a vítima foi baleada e morta", cita, entre diversos pontos que afirma merecerem investigação.

A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) divulgou nota dizendo que a solicitação para apagar as imagens "é claramente uma tentativa de censura e um atentado à liberdade de imprensa".

"Não há base legal para a ação dos membros da campanha do candidato. A Fenaj espera que o candidato venha a público manifestar-se em favor do livre exercício do jornalismo e informar a sociedade sobre as medidas tomadas no âmbito da sua campanha", diz a nota.

No dia do tiroteio, Tarcísio estava na sede de um projeto social que inaugurou um polo universitário na favela de Paraisópolis.

Após a troca de tiros, o cinegrafista da Jovem Pan e outros profissionais de imprensa foram levados em uma van da campanha a um prédio usado pela equipe de Tarcísio.

No local, houve perguntas ao profissional sobre o que ele havia filmado e a ordem para que ele apagasse as imagens. "Você filmou os policiais atirando?", questionou um integrante da campanha. "Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras", respondeu o cinegrafista.

O membro da campanha ainda perguntou se ele havia filmado as pessoas que estavam no local onde o evento com Tarcísio foi realizado. "Você tem que apagar", disse o segurança

A Folha apurou, no entanto, que as imagens já tinham sido enviadas à Jovem Pan. No momento logo após o tiroteio, a emissora passou a exibir imagens do local do tiroteio, da ação da polícia e da retirada às pressas da equipe de Tarcísio.

Procurada e informada sobre o teor da reportagem, a emissora se manifestou por meio de nota.

"A Jovem Pan exibiu todas as imagens feitas durante o tiroteio. O trabalho do cinegrafista permitiu que a emissora fosse a primeira a noticiar o ocorrido no local. Não houve contato da campanha do candidato Tarcísio com a direção da emissora com o intuito de restringir a exibição das imagens e, por consequência, o trabalho jornalístico."

Após a publicação da reportagem, Tarcísio disse que o "momento de tensão" pode ter levado um integrante da equipe a pedir ao cinegrafista para apagar as imagens para "preservar a identidade de pessoas que fazem parte da nossa segurança".

"Talvez a pessoa que tenha pedido para apagar teve esse cuidado [de preservar a identidade dos seguranças da campanha]. É muito ruim revelar a identidade de pessoas que acabam de se envolver com criminosos", afirmou.

Em seguida, Tarcísio disse que "a imprensa passa a ser sensacionalista com isso". "O interesse [da imprensa] é fazer sensacionalismo, é dar uma causada."

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