O presidente Lula (PT) inaugurou nesta quinta-feira (4) uma obra hídrica em Arcoverde (255 km do Recife), comparou a chegada da água a localidades do agreste pernambucano a um milagre e disse que adversários usam o nome de Deus em vão.
Lula ainda se dirigiu aos ministros e deputados presentes na solenidade e os incentivou a visitar os canais da transposição do rio São Francisco. "É a segunda grande coisa que você vê da Lua: você vê o muro da China e você vê o canal do São Francisco, que é uma obra de mais de 640 quilômetros."
Falando de improviso, o presidente fez um discurso recheado de referências religiosas. Relembrou as dificuldades que enfrentou por falta de água na infância em Caetés (PE), disse ter obsessão pela questão da água no Nordeste.
"Esse é um milagre que aconteceu com um cara que viveu a seca. Com sete anos, eu saí de Caetés para São Paulo com uma mãe e oito filhos para não morrer de fome e sede. Esse nordestino, que saiu daqui para não morrer de sede, volta e faz a transposição do rio São Francisco", afirmou.
Na sequência, se dirigindo aos apoiadores, Lula disse que o voto deles para presidente foi um ato de fé, de coragem e da crença de que um milagre estava para acontecer: "O homem lá de cima disse eu vou ajudar os nordestinos através de um nordestino".
Depois, ao fazer referência direta aos seus opositores, afirmou que enfrenta uma máquina de mentiras, de ódio e de fake news.
"Uma fábrica podre, parece um bando de lixo, parece uma fossa que só fala mentira, só prega ódio, só conta falsidade. A gente não pode acreditar porque Deus não é mentira, Deus é verdade. E ninguém pode utilizar o nome de deus em vão como eles usam todo santo dia."
O presidente falou ainda sobre a construção de universidades e escolas técnicas em seus governos, disse que a educação não era uma prioridade das elites e que o país foi "amaldiçoado pela ganância de uns poucos que tem muito dinheiro e não querem ajudar os muitos que não tem dinheiro."
Ao cumprimentar os ministros presentes do evento, Lula afagou o Rui Costa (PT), da Casa Civil, em meio a investigação da Polícia Federal sobre compra de respiradores em 2020, quando era governador da Bahia. "Esse aqui, que é chefe da Casa Civil, é como se fosse um primeiro-ministro. [...] É o cara que mais atende [os políticos] com os pedidos lá em Brasília", disse.
Nesta quarta (3), o UOL revelou que Rui Costa foi citado em delação da empresária Cristina Preste Taddeo sobre suposta fraude na compra de equipamentos na pandemia. Ele nega envolvimento em irregularidades.
Mais tarde, o presidente foi a Goiana, na zona da mata de Pernambuco, onde participou da inauguração de uma fábrica para produção do medicamento fator VIII recombinante, no Complexo Industrial da Hemobrás.
Em discurso, o presidente exaltou o SUS (Sistema Única de Saúde), prometeu mais investimento em pesquisa e disse que vai fazer mais em sua gestão do que os governos Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).
"Fiquem certos que a gente vai fazer aquilo que não foi feito nos últimos seis anos neste país depois do impeachment da Dilma e depois dessa tranqueira que vocês sabem quem é", afirmou.
Pela manhã, lado da governadora Raquel Lyra (PSDB), com quem trocou afagos no discurso, Lula participou da cerimônia de inauguração da Estação Elevatória de Água Bruta de Ipojuca e do trecho entre Belo Jardim e Caruaru da Adutora do Agreste de Pernambuco.
A Adutora do Agreste é uma obra do Governo de Pernambuco com aportes da União. O governo federal investiu R$ 1,2 bilhão no projeto, e o estado aplicou R$ 200 milhões.
A nova estação elevatória vai ampliar o número de cidades atendidas pela adutora de 6 para 9, levando água para uma população estimada em 615 mil pessoas.
Quando todo o projeto estiver finalizado, incluindo a segunda etapa, serão 1.500 km de adutoras que levarão água da transposição do rio São Francisco para abastecimento de cerca de 2 milhões de pessoas e 68 cidades do agreste de Pernambuco.
À noite, o presidente participou no Recife da sanção da lei que institui o Sistema Nacional de Cultura, chamado de "SUS da Cultura". A proposta tinha sido aprovada em março pelo Congresso.
Lula fez críticas, sem mencionar diretamente, ao governo Bolsonaro. Ele disse que houve retrocessos na cultura "num momento histórico em que a ignorância comandava o nosso país".
Também apontou que houve negacionismo na área da cultura. O presidente associou a situação ao cenário da pandemia da Covid-19, quando o governo Bolsonaro pôs em xeque a efetividade das vacinas, por exemplo.
"O que seria do mundo se o mundo fosse igual ao que os negacionistas queriam que fosse o Brasil?", afirmou.
"Mesmo com a maioria mais conservadora, o Congresso teve a competência de entender que a cultura faz parte da alma de uma nação", acrescentou Lula, ao cumprimentar os parlamentares.
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