Descrição de chapéu O Futuro do Nordeste

Falta de novos atrativos e estrutura precária afastam turistas estrangeiros

Especialista defende criação de distritos turísticos, que concentrem em um único espaço compras, lazer e gastronomia

Alain Baldacci, presidente do Sindepat (Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas), Rafael Felismino, assessor de gestão estratégica da Embratur, e João Lima, articulador de gastronomia do governo do Ceará, durante o seminário, em Fortaleza - Keiny Andrade/Folhapress
Gabriel Bosa
Fortaleza

A falta de novos atrativos turísticos, os acessos precários e preços elevados são os principais entraves ao turismo no Nordeste. Apesar das belezas naturais, a região deveria buscar novos nichos para atrair visitantes, principalmente os estrangeiros.

Essas foram algumas das conclusões dos especialistas que integraram a terceira mesa de debates do seminário o Futuro do Nordeste, organizado pela Folha, com patrocínio do Banco do Nordeste, do Governo do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza, nesta quinta-feira (22), em Fortaleza.

As atrações clássicas da região, como praias e altas temperaturas, não têm o mesmo apelo turístico de antigamente, segundo Alain Baldacci, presidente do Sindepat (Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas).

“As novas gerações procuram experiências cada vez mais dinâmicas e interativas. O turista de hoje não é o mesmo de ontem. Com a internet, a concorrência é global, qualquer um tem acesso a um aplicativo com um celular.”

Para Baldacci, o país deveria investir em distritos turísticos, ambientes que concentrem em um único espaço diverso atrativos, como centros de compras, áreas de lazer e descanso, gastronomia e segurança.

“Um distrito turístico pode ser baseado em parque temático e tecnologia. O turista busca sensações e experiências que ele não consegue fazer no cotidiano. O turismo tradicional não é embarcado com essa tecnologia”, afirmou.

A diversificação de atrativos para outros segmentos também foi afirmada por João Lima, articulador de gastronomia do governo do Ceará, como abertura a novos visitantes.

Segundo o especialista, o setor de bares, restaurantes e lanchonetes arrecada 25% do total que é gasto pelos turistas no Ceará. “A gastronomia é uma parte importante na cadeia do turismo. Hoje é uma tendência em todo o mundo, com proporções que não tinha anos atrás”, disse.

Como exemplo da força do segmento, Lima mencionou o investimento que o Peru fez na divulgação da culinária típica. Segundo ele, em 15 anos, o país passou de 600 mil para 5 milhões de turistas ao ano.

Em casos nacionais, ele destacou a criação da Frente da Gastronomia Mineira como forma de propaganda da culinária de Minas Gerais e a representação de 12% do segmento no PIB do estado.

Segundo ele, o objetivo é fazer algo semelhante no Ceará. Uma das primeiras ações foi a inauguração de duas escolas sociais de gastronomia e hospedagem. A expectativa é que 1.500 pessoas sejam capacitadas nesses centros. “É preciso que se faça um levantamento dessa cadeia, dos números dela. E, com esses dados, fazer um planejamento estratégico.”

VOOS NADA COMPETITIVOS

A falta de conhecimento, estruturas deficitárias, preços elevados e a má qualidade dos serviços prestados foram elencados por Rafael Felismino, assessor de gestão estratégica da Embratur, como as principais razões de os turistas internacionais não visitarem o Brasil. “Temos poucos voos e com preços que não são competitivos”, afirmou.

Segundo ele, apesar de os voos com destino ao país terem aumentado 15% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, o número ainda é considerado baixo na comparação com outros destinos internacionais.

“Hoje nossos aviões estão cheios, mas cheios de brasileiros viajando. Para a companhia, tudo bem, para nós, não. Queremos trazer os turistas estrangeiros para cá, que gastem aqui.”

A Embratur é responsável pela divulgação dos atrativos brasileiros no exterior. Apresentar a imagem de um país seguro em meio a tantas notícias de violência urbana é um dos desafios da estatal, segundo Felismino.

“São questões profundas, mas o turismo precisa acontecer. Não podemos deixar de promover atividades enquanto arrumamos a casa.”

Apesar do desafio, o especialista afirmou que países europeus têm mais dificuldades em se mostrarem um local seguro do que o Brasil. “Em relação à segurança, a imagem da França é pior que a do Brasil, devido aos ataques terroristas.”

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