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Na morte do líder norte-coreano, um buraco negro de informação
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DA REUTERS
Poucos líderes nacionais morrem hoje em dia sem que ninguém fora de seu país saiba disso, sem nem mesmo uma menção no Twitter.
No entanto, aparentemente ninguém, o que inclui os serviços de inteligência sul-coreanos, estava ciente de que o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-il, havia morrido na manhã de sábado -até que a morte fosse revelada em um anúncio emocionado da TV estatal do país, nesta segunda-feira.
Reuters | ||
Kim Jong-il, líder norte-coreano falecido no último sábado |
Essa escolha de mídia mesma parece antiquada na Coreia do Sul, frequentemente citada como o mais conectado país do planeta, onde as notícias são cada vez mais distribuídas e dissecadas via celulares inteligentes e serviços de rede social.
Uma imagem noturna da península coreana registrada em 2002 mostra a Coreia do Norte como uma mancha escura, em forte contraste com o mar de luzes do próspero vizinho ao sul da fronteira mais militarizada do planeta. E, passada uma década, pouco mudou.
A morte de Kim parece ter sido mantida em segredo entre a pequena elite que controla o norte da Coreia. Não houve mensagens de Facebook ou Twitter, em um país onde as pessoas não têm Internet, para espalhar a notícia, ao contrário do acontecido na "Primavera Árabe".
Os internautas sul-coreanos, acostumados a um fluxo quase instantâneo de informações, ficaram quase tão chocados pela demora em divulgar a notícia quanto pela morte de Kim.
"A profundidade de informação que as fontes de inteligência sul-coreanas têm (sobre o Norte) é mais rasa que o Twitter", publicou o usuário Links_Arc, mencionando o popular serviço de microblogs. "É muito lastimável que o governo só tenha descoberto sobre a morte de Kim com dois dias de atraso."
"A política de hostilidade do atual governo para com o Norte resultou no fechamento dos canais de comunicação entre os países, e a China aumentou sua influência sobre Pyongyang", comentou o usuário EuiQKIM.
POUCOS TELEFONES
O controle do regime norte-coreano sobre a informação é relativamente facilitado pela infraestrutura de comunicação limitada do país, o que torna quase impossível um cenário parecido com o da Primavera Árabe, dizem analistas.
De acordo com dados da União Internacional de Telecomunicações, a Coreia do Norte contava com menos de duas assinaturas de telefonia móvel por 100 habitantes, no ano passado, ante 105 para a Coreia do Sul.
Enquanto 83% dos sul-coreanos dispõem de acesso regular à internet, ela continua indisponível no Norte, se excluirmos um pequeno número de ministérios do governo, hotéis e áreas diplomáticas da capital Pyongyang.
Os norte-coreanos que dispõem de celulares e acesso à internet são "pró-governo, pró-regime. Não teriam nada a ganhar se organizassem um levante. Assim, nesse sentido, o acesso não parece uma ferramenta útil de resistência ao governo", disse Cho Min, especialista do Instituto pela Unificação Nacional da Coreia.
As respostas dos blogs sul-coreanos à morte de Kim ilustram a facilidade com que mensagens sediciosas podem ser transmitidas a uma audiência de massa, hoje, e isso é algo que as autoridades norte-coreanas se esforçam por reprimir.
Muitos usuários do Twitter publicaram mensagens de condolência e até elogios a Kim, apesar da retórica favorável ao Norte poder representar violação dos regulamentos de segurança nacional da Coreia do Sul. "Oro pelo repouso do falecido Kim Jong-il", escreveu o usuário "heliumgas".
Agências que têm contatos em Pyongyang disseram que era provável que a morte de Kim levasse as autoridades a reforçar ainda mais seu controle das comunicações.
"Estamos antecipando que haverá um bloqueio de comunicações e viagens, nos próximos dias, enquanto as autoridades norte-coreanas agem para estabilizar a situação e preparam o período de luto", disse Geoffrey See, diretor executivo da Chosun Exchange, uma organização sem fins lucrativos sediada em Cingapura que promove intercâmbio acadêmico com a Coreia do Norte.
Mas há alguns sinais de que o controle do governo sobre as comunicações possa estar se afrouxando. Celulares vêm se tornando comuns entre os moradores de Pyongyang, e não apenas entre a elite, diz Simon Cockerell, da Koryo Tours, uma agência de viagens em Pequim que organiza viagens à Coreia do Norte.
Nos dois últimos anos, o uso de celulares "explodiu", segundo ele, e as pessoas usam aparelhos chineses de preço médio para trocar mensagens de texto, jogar e verificar informações sobre o clima.
A Coreia do Norte deve registrar este ano o milionésimo usuário de sua nova rede 3G de telefonia móvel, criada em parceria com o grupo egípcio Orascom.
O setor de telefonia móvel do Norte "atravessou os obstáculos, e o governo não conseguirá mais forçar um recuo sem pagar preço político pesado", afirmou o Nautilus Institute for Security and Sustainability em relatório no mês passado.
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