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Reserva de mercado tornou indústria nacional de informática um nascedouro de clones

Incentivos são essenciais para que indústria brasileira seja competitiva em nível global

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Rodolfo Fücher

Presidente do conselho da Associação Brasileira das Empresas de Software

Quando falamos em competitividade, algumas pessoas podem não entender o real impacto em seu cotidiano. Mas, obviamente, sentem no bolso quando precisam comprar seu companheiro do dia a dia —seja um celular, um laptop ou um desktop.

Para entendermos a evolução do mercado brasileiro de informática, precisamos voltar até 1984, quando a primeira lei sobre Informática no Brasil, a Lei Federal nº 7.232/84, estabeleceu a reserva de mercado para o ramo.

O objetivo era induzir o investimento do governo e setor privado na formação e especialização de recursos humanos voltados à transferência e absorção de tecnologia em montagem microeletrônica, arquiteturas de hardware, desenvolvimento de software básico e de suporte, entre outros. Só que o que visava fortalecer e incentivar o desenvolvimento se revelou um fracasso retumbante.

Jovem testa jogo durante o BIG Festival, em São Paulo
Jovem testa jogo durante o BIG Festival, em São Paulo - Divulgação BIG Festival

Poderíamos ter tido uma indústria vibrante ainda nos anos 1980, mas a lei de reserva do mercado acabou tornando o setor um nascedouro de clones, sem desenvolvimento de tecnologia local.

O NE-Z80, fabricado pela Revista Nova Eletrônica (ligada à famosa Prológica), e o TK 80, produzido pela Microdigital, são clones do Sinclair ZX80, um pequeno computador doméstico apresentado ao mercado britânico em fevereiro de 1980, que ficou famoso por custar menos de 100 libras. Outro exemplo foi o modelo TRS-80, fabricado nos EUA pela Tandy Corporation e vendido nas famosas lojas Radio Shack, que também foi copiado pela Prológica. Por aqui, o equipamento recebeu o nome de CP 500, e foi um grande sucesso de vendas.

Também surgiram na mesma época inúmeras cópias do Apple II, criado por Steve Jobs. Logo na sequência, vieram os PCs desenvolvidos pela IBM, com o diferencial de arquitetura aberta, o que incentivou o mercado a produzir modelos semelhantes. No entanto, eles chegavam a custar dez vezes o valor de um importado, e a política de reserva de mercado proibia a importação de equipamentos caso fosse identificado um similar nacional.

Como havia no mercado inúmeros clones, os modelos mais cobiçados tinham sua importação proibida. O altíssimo valor praticado no Brasil inviabilizava o acesso, acarretando em um atraso tecnológico no país.

A Elebra, famosa por fabricar as impressoras Emilia, chegou a ter 5.000 empregados. Como a Prológica, foi um bom exemplo do fracasso da política de informática da época. Quando a reserva de mercado acabou, sem incentivos ou planos para a indústria brasileira se tornar competitiva, o resultado foi a falência de praticamente todo o setor no Brasil.

Aos poucos, as multinacionais passaram a produzir aqui, e políticas adequadas de incentivos permitiram o surgimento de novos players.

​É inquestionável a importância da tecnologia na competitividade de qualquer negócio, como também de um país. Perdemos décadas com a política de reserva de mercado, tornando-se clara a importância de incentivos para que a indústria brasileira seja de fato competitiva em nível global, sem protecionismo.

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