Empresas do Vale do Silício reforçam segurança após casos de espionagem chinesa

Google, OpenAI e Sequoia melhoram triagem de funcionários em meio à competição tecnológica entre EUA e China

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Tabby Kinder Stephen Morris Demetri Sevastopulo
San Francisco e Washington | Financial Times

Empresas do Vale do Silício intensificaram a verificação de segurança de funcionários à medida que autoridades dos Estados Unidos expressam maior preocupação sobre a ameaça de espionagem chinesa.

Gigantes da tecnologia como Google e startups de destaque como OpenAI aumentaram a triagem dos empregados, de acordo com várias pessoas que trabalham nas empresas.

A medida ocorre em meio a temores de que governos estrangeiros estejam buscando usar trabalhadores para acessar propriedade intelectual e dados.

Bay View Campus do Google em Mountain View, na Califórnia - Peter Dasilva - 16.mai.2022/REUTERS

Empresas de capital de risco como a Sequoia Capital, que investe em dezenas de startups, incluindo a xAI de Elon Musk, também incentivaram algumas empresas de seus portfólios a reforçar a triagem de funcionários após alertas de que agências de espionagem estão mirando programadores dos EUA, disseram os interlocutores.

A Sequoia dividiu seu próprio braço chinês no ano passado após quase duas décadas devido à pressão geopolítica.

Alex Karp, CEO da Palantir, a empresa de análise de dados de mais de US$ 50 bilhões voltada à indústria de defesa dos EUA, disse que a espionagem chinesa em empresas de tecnologia é "um grande problema", especialmente para fabricantes de software empresarial, grandes modelos de linguagem e sistemas de armas de fogo.

"Temos adversários inteligentes", disse Karp. "Nossos inimigos são culturas antigas lutando pela sobrevivência, não apenas agora, mas pelos próximos mil anos."

O esforço de segurança aprimorado ocorre à medida que autoridades dos EUA aumentaram os alertas para empresas sobre a ameaça da espionagem chinesa nos últimos dois anos.

Washington e Pequim estão envolvidos em uma crescente competição estratégica, com os EUA impondo controles de exportação para dificultar a obtenção e o desenvolvimento de tecnologias de ponta pela China, como inteligência artificial e chips avançados.

No entanto, também há preocupações sobre o aumento da xenofobia nas empresas de tecnologia dos EUA, dada a prevalência de trabalhadores qualificados de ascendência asiática.

H. R. McMaster, ex-conselheiro de segurança nacional dos EUA, que dá consultoria para empresas de tecnologia e firmas de investimento sobre os riscos de espionagem desde que deixou o governo, disse que a ameaça das agências de inteligência chinesas é "absolutamente real e persistente".

"As empresas com as quais converso e trabalho estão muito cientes disso agora e estão fazendo tudo o que podem para mitigar", disse.

O Google disse que tem "salvaguardas rígidas para evitar o roubo de informações confidenciais e segredos comerciais". A Sequoia se recusou a comentar. A OpenAI não respondeu aos pedidos de comentários.

Casos de espionagem chinesa existem há décadas, mas parecem ter se multiplicado nos últimos anos. Em março, promotores dos EUA acusaram um ex-engenheiro de software do Google de supostamente roubar segredos comerciais de IA enquanto trabalhava secretamente para duas empresas sediadas na China.

Tesla, Micron e Motorola foram alvo de "roubos flagrantes" de propriedade intelectual pela China nos últimos cinco anos, segundo os EUA.

Bill Priestap, ex-chefe de contra-inteligência do FBI que agora dirige a consultoria Trenchcoat Advisors, aconselha sobre o "risco impulsionado por humanos" de adversários estrangeiros.

Ele disse ter visto "níveis elevados" de casos nos quais grupos de inteligência de fora exploraram funcionários de empresas dos EUA para roubar ativos valiosos.

"Alguns empregadores perceberam que, ao contratar pessoas, precisam entender se elas têm vulnerabilidades das quais devem estar cientes", disse. "Manter laços com certos países significa que [um indivíduo] pode ser vulnerável a ser explorado, mesmo que não queira causar danos à empresa."

Algumas empresas de capital fechado surgiram para oferecer inteligência estratégica a empresas sobre ameaças de espionagem chinesa.

A Strider Technologies, com sede em Utah, lançada pelos gêmeos Greg e Eric Levesque em 2019, fornece uma ferramenta de dados às empresas para evitar que países visem seus funcionários e infiltrem fornecedores terceirizados.

Greg Levesque disse que a Strider viu um aumento recente na adoção de suas ferramentas por startups que trabalham em tecnologias emergentes como computação quântica, IA e biologia sintética "que estão no topo da lista de compras de países como a China".

O sistema da Strider usa IA para coletar dados sobre os métodos que agências de inteligência estrangeiras estão empregando para visar empresas e seus funcionários.

Por exemplo, ele rastreia centenas de "planos de talentos" chineses, que supostamente recrutam cientistas e professores estrangeiros e os incentivam a roubar tecnologias para avançar nos objetivos militares e econômicos da China. Priestap e McMaster são consultores da Strider.

Se um indivíduo for sinalizado pelo sistema da Strider, as empresas podem implementar triagem adicional, como investigações sobre os laços familiares ou financeiros de um indivíduo no exterior, bem como seu histórico de viagens para países onde os serviços de inteligência estrangeiros realizaram recrutamento.

"Estamos vendo isso em toda a lista Fortune 500", disse Greg Levesque. "Todos estão sendo alvo. Há uma batalha geopolítica em andamento, e a indústria é a linha de frente."

O departamento de justiça dos EUA em 2022 abandonou um programa controverso chamado "Iniciativa China" que foi iniciado durante o governo Trump após grupos de direitos civis criticarem o que consideravam um perfilamento racial.

O programa também foi alvo de escrutínio após vários casos contra acadêmicos, especialmente cientistas, com origens chinesas, terem desmoronado nos tribunais.

Mas a iniciativa também levou à condenação, entre outros, do professor de química da Universidade de Harvard, Charles Lieber. Descobriu-se que ele aceitou secretamente dinheiro da China por meio de um programa patrocinado pelo Estado projetado para ajudar o país a obter acesso ao conhecimento científico e expertise nos EUA e em outros lugares.

Em novembro, o diretor do FBI, Christopher Wray, realizou um evento público no Vale do Silício com seus homólogos da rede de inteligência Five Eyes, que inclui Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido e EUA. Ele instou as empresas de tecnologia a "enfrentar uma ameaça sem precedentes" da China.

Grupos do Vale do Silício que estão concorrendo a contratos com o departamento de defesa dos EUA foram encorajados a ampliar o escopo e a escala de suas diligências contra ameaças de espionagem chinesa.

Empresas de tecnologia comercial que trabalham com agências de defesa dos EUA são obrigadas a se submeter a rigorosas medidas de segurança.

Reportagem adicional de Hannah Murphy, em San Francisco

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