Descrição de chapéu América Latina Bolívia

Militares tentam dar golpe de Estado na Bolívia

General mobiliza tropas para tomar sede do governo em La Paz, fracassa e é preso, mas acusa presidente Luis Arce de forjar autogolpe

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São Paulo

Militares das Forças Armadas da Bolívia tentaram dar um golpe de Estado no país nesta quarta-feira (26) e chegaram a tomar a praça em La Paz onde fica o palácio presidencial, com soldados adentrando o prédio liderados por um general que havia sido destituído do cargo na terça-feira (25).

O presidente boliviano, Luis Arce, ordenou que o general Juan José Zúñiga desmobilizasse as tropas imediatamente e em seguida demitiu os três chefes das Forças Armadas e nomeou seus substitutos. O novo comandante do Exército, José Wilson Sánchez, repetiu a ordem para que as tropas se retirassem.

Depois de horas de tensão, os soldados obedeceram e deixaram a Praça Murillo, incluindo Zúñiga. A polícia assumiu o controle do local, onde fica a sede da Presidência da Bolívia. O general, por sua vez, foi preso pelas autoridades bolivianas, mas disse que a ação foi incentivada pelo próprio Arce, que teria arquitetado um autogolpe para aumentar sua popularidade. Ele não apresentou, contudo, evidências que comprovem sua acusação.

Soldado em veículo blindado é visto na Praça Murillo, onde fica o palácio presidencial da Bolívia, em La Paz - Aizar Raldes - 26.jun.24/AFP

"O país enfrenta uma tentativa de golpe de Estado", disse Arce, enquanto as tropas golpistas ainda ocupavam a Praça Murillo . "Hoje, mais uma vez, o país enfrenta interesses que querem acabar com a democracia na Bolívia. Eu convoco o povo boliviano a se organizar e se mobilizar contra o golpe de Estado e a favor da democracia."

Vídeos na internet mostraram um blindado do Exército se chocando contra a entrada do palácio presidencial e soldados entrando no prédio. Antes disso, tropas foram vistas marchando pelas ruas da capital.

Zúñiga havia dito no início da tarde que "por enquanto" reconhecia Arce como chefe das Forças Armadas, mas que haveria uma troca ministerial no governo. Ele havia sido removido do posto de comandante do Exército depois de fazer ameaças contra o ex-presidente Evo Morales.

"Os três chefes das Forças Armadas viemos expressar nossa discordância. Vai haver um novo gabinete de ministros, com certeza as coisas vão mudar, mas nosso país não pode continuar desse jeito", disse Zúñiga à mídia local depois que suas tropas tomaram a Praça Murillo.

Ele afirmou ainda que libertaria "prisioneiros políticos", incluindo a ex-presidente Jeanine Áñez, condenada a dez anos de prisão em junho de 2022 por ter organizado um golpe de Estado contra Evo em 2019.

Áñez, porém, não endossou a aventura golpista. Ela se pronunciou por meio do X para condenar a tentativa de golpe de Zúñiga. "Repudio completamente a mobilização militar que tenta subverter a ordem constitucional. Arce e Evo devem ser removidos por meio do voto em 2025. Nós, bolivianos, defenderemos a democracia". Não está claro se a fala foi publicada por uma equipe, uma vez que a ex-presidente está presa.

De acordo com a imprensa boliviana, Zúñiga entrou no palácio, conversou com Arce e depois saiu do prédio. Antes de se retirarem, as tropas golpistas, fortemente armadas, dispararam bombas de gás contra civis que tentaram entrar na praça.

Zúñiga fez um curto pronunciamento antes de entrar no palácio presidencial. "Parem de destruir o país, parem de empobrecer o país, parem de humilhar o Exército", afirmou, insistindo que a ação tinha o apoio da população boliviana.

O general havia sido removido do cargo depois de uma série de ameaças contra Evo, dizendo que ele "não pode mais ser presidente desse país", fazendo referência aos planos do líder de esquerda de concorrer novamente nas eleições presidenciais de 2025. O ex-presidente pretende se candidatar contra Arce, seu afilhado político, mas de quem se distanciou nos últimos meses.

"Caso cheguemos a isto", disse Zúñiga em uma entrevista na segunda (24), "não permitirei que pisoteie a Constituição, que desobedeça o mandato do povo". Afirmou ainda que "as Forças Armadas são o braço armado do povo, o braço armado da pátria".

Evo respondeu que ameaças desse tipo não têm precedente na democracia e pressionou o governo Arce, dizendo que se a fala não fosse desautorizada pelo presidente e pelo ministro da Defesa, "estará comprovado que na verdade estão autorizando um autogolpe".

Com a Praça Murillo já de volta a algo mais parecido com a normalidade, Arce foi à varanda do palácio presidencial e fez um novo discurso. "Ninguém pode nos tirar a democracia que conquistamos", afirmou a apoiadores ao lado do vice-presidente, David Choquehuanca. Este, por sua vez, elogiou "a valentia" de Arce "quando havia um tanque na porta do palácio".

Os bolivianos presentes, depois de gritos de "democracia, democracia" e "golpistas não passarão", responderam cantando em coro o hino nacional.

Com Reuters

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