Emissões de poluentes do Google crescem 50% com avanço da inteligência artificial

Ambição da big tech de zerar emissões até 2030 é ameaçada pela tecnologia, intensiva em energia

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Camilla Hodgson Stephen Morris
Londres e San Francisco | Financial Times

As emissões de gases de efeito estufa do Google aumentaram 48% nos últimos cinco anos devido à expansão de seus data centers que sustentam sistemas de inteligência artificial, colocando em dúvida seu compromisso de atingir o "net zero" —zerar a emissão líquida de poluentes— até 2030.

A poluição da empresa do Vale do Silício totalizou 14,3 milhões de toneladas de carbono equivalente em 2023, um aumento de 48% em relação à base de 2019 e um aumento de 13% desde o ano passado, disse o Google em seu relatório ambiental anual divulgado nesta terça-feira (2).

O Google disse que o aumento destaca "o desafio de reduzir as emissões" enquanto investe na expansão de grandes modelos de linguagem e em infraestrutura, admitindo que "o impacto ambiental futuro da IA" é "complexo e difícil de prever".

Logo do Google - Steve Marcus - 10.jan.2024/Reuters

A diretora de sustentabilidade do Google, Kate Brandt, disse que a empresa permanece comprometida com a meta de 2030, mas enfatizou a natureza "extremamente ambiciosa" do objetivo.

"Ainda esperamos que nossas emissões continuem a aumentar antes de diminuir em direção ao nosso objetivo", disse Brandt.

Ela acrescentou que o Google está "trabalhando muito duro" para reduzir suas emissões, inclusive assinando acordos de energia limpa. Brandt também disse que há uma "tremenda oportunidade para soluções climáticas habilitadas pela IA".

Enquanto gigantes da tecnologia como Google, Amazon e Microsoft traçam planos para investir dezenas de bilhões de dólares em IA, especialistas em clima levantam preocupações sobre os impactos ambientais desses sistemas intensivos em energia.

Em maio, a Microsoft admitiu que suas emissões haviam aumentado quase 33% desde 2020, em grande parte devido à construção de data centers. No entanto, o cofundador da Microsoft, Bill Gates, argumentou na semana passada que a IA ajuda a impulsionar soluções climáticas.

Enquanto isso, restrições à geração e transmissão de energia já estão representando um desafio para as empresas que buscam expandir a tecnologia.

Analistas da Bernstein disseram em junho que a IA "dobraria a taxa de crescimento da demanda de eletricidade nos EUA e o consumo total poderia superar a oferta atual nos próximos dois anos".

No relatório desta terça, o Google disse que suas emissões relacionadas à energia em 2023 —que vêm principalmente do consumo de eletricidade dos data centers— aumentaram 37% em relação ao ano anterior e representaram um quarto de suas emissões totais de gases de efeito estufa.

As emissões da cadeia de suprimentos do Google —a maior parte, representando 75% de suas emissões totais— também aumentaram 8%. O Google disse que elas "continuarão a aumentar no curto prazo" como resultado, em parte, da expansão da infraestrutura necessária para executar sistemas de IA.

O Google se comprometeu a atingir o zero líquido em todas as suas emissões diretas e indiretas de gases de efeito estufa e usar somente energia limpa até 2030.

No entanto, a empresa alertou no relatório de terça-feira que o "cancelamento" de alguns projetos de energia limpa durante 2023 reduziu a quantidade de energias renováveis às quais tinha acesso.

Enquanto isso, o consumo de eletricidade dos data centers da empresa havia "superado" a capacidade do Google de disponibilizar mais projetos de energia limpa nos EUA e na região da Ásia-Pacífico.

O consumo de eletricidade dos data centers do Google aumentou 17% em 2023 e representou aproximadamente 7-10% do consumo global de eletricidade dos data centers, estimou a empresa. Seus data centers também consumiram 17% mais água em 2023 do que no ano anterior, disse o Google.

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