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16/03/2013 - 14h41

Um palácio de 500 anos totalmente renovado

MARIA SHOLLENBARGER
DO "FINANCIAL TIMES"

Por algumas semanas cruciais a cada ano, durante o festival de cinema e as bienais alternadas de arte e arquitetura, Veneza se vê invadida pelos maiores e melhores nomes das profissões criativas (e também por nomes simplesmente endinheirados).

Isso resulta em uma mudança pronunciada no grau de sofisticação do perfil demográfico dos visitantes - um fator importante em uma cidade que às vezes enfrenta dificuldades para não sucumbir diante do turismo de massa.

O setor de hospitalidade de luxo parece estar repentinamente respondendo à altura: grupos locais, cadeias de hotéis boutique internacionais e redes multinacionais de hotelaria vêm estabelecendo novas posições ou consolidando presenças já estabelecidas.

O Danieli, por exemplo, no ano passado empreendeu uma ambiciosa renovação de suas suítes (o que implica claramente que suítes assinadas - e não reles quartos de casal - são requisito essencial para os novos habitués sazonais de Veneza).

Com projeto de Jean-Yves Rochon, elas foram reformadas com sutileza, mantendo o jeito de apartamentos privados (o piso secular do hotel continua a ranger reconfortantemente), mas atualizando-os com mobília refinada.

Do lado oposto do canal fica o Villa F, uma nova unidade na cadeia hoteleira de Francesca Bortolotto Possati, proprietária do Bauer Hotel. Inaugurada no final de 2011, os 11 apartamentos altamente privativos que a casa oferece ficam em um palazzo do século 16 na Giudecca, e Possati comandou em pessoa a restauração das vigas pintadas a mão que sustentam os tetos, dos afrescos e dos pisos dos terraços, bem como dos jardins que ocupam mais de um hectare.

A grande notícia deste ano é a reabertura do Gritti Palace, depois de 15 meses de reforma. O empreendimento impressiona tanto pela vastidão dos recursos utilizados quanto pelo esplêndido resultado final.

Um dos mais importantes palazzi no patrimônio histórico da cidade, o Gritti foi construído em 1475 e serviu de residência a Andrea Gritti, doge de Veneza de 1523 a 1538.

Divulgação
Fachada do palácio Gritti, em Veneza; local histórico passou por reformas
Fachada do palácio Gritti, em Veneza; local histórico passou por reformas

O palácio tem classificação muito elevada na Soprintendenza ai Beni Architettonici, a autoridade italiana que cuida da preservação do patrimônio arquitetônico do país, e por isso o processo de reforma foi incomumente complexo, envolvendo uma colaboração entre o designer Chuck Chewning, diretor de criação do Donghia (um estúdio de design sediado nos Estados Unidos mas controlado pela Rubelli, uma companhia têxtil veneziana fundada há 160 anos), funcionários da Soprintendenza, que coordenaram equipes de artesãos, restauradores e pintores certificados, e a Luxury Collection, uma divisão da Starwood Hotels, cadeia da qual o Gritti faz parte.

O projeto de reforma, com custo estimado em 35 milhões de libras, é uma entre as diversas renovações ambiciosas que a Luxury Collection está realizando em sua carteira de propriedades europeias, entre as quais os hotéis Alfonso XIII, em Sevilha; Prince de Galles, em Paris; e Danieli.

A Rubelli desempenhou papel central nesse esforço: suas sedas e brocados são definitivamente venezianos, e Chewning dedicou semanas a revisar os arquivos da empresa, que contém informações sobre mais de seis mil tecidos, onde encontrou designs encomendados para o Gritti no século 19.

Diversos deles foram reinterpretados criativamente (ou reproduzidos), e no total mais de 200 tecidos diferentes foram usados no hotel.

O brocado que reveste as paredes do restaurante Club del Doge, por exemplo, reproduz a capa de um doge do século 18, que consta dos arquivos da Rubelli. As paredes da Explorer's Library são revestidas de uma interpretação em brocado de um padrão que Chewning encontrou em um documento do século 17.

A sala também exibe um retrato de Andrea Gritti por um seguidor de Ticiano - uma das dezenas de quadros importantes e mais de 280 antiguidades para as quais novos lares foram encontrados em todo o imóvel.

Aqui também prevalece a tendência quanto a quartos maiores e mais grandiosos. O hotel originalmente tinha 91 quartos mas agora tem apenas 82, 21 dos quais são suítes. Diversas delas portam o nome de hóspedes famosos do Gritti; a suíte Peggy Guggenheim conta com uma biblioteca transformada pelo acréscimo de monografias raras; a suíte real Somerset Maugham tem cartas originais do escritor; a suíte presidencial Hemingway guarda a cadeira que o escritor norte-americano usou enquanto escrevia partes de "Do Outro Lado do Rio e Entre as Árvores".

Qualquer impressão de artificialidade é contrabalançada pela qualidade do trabalho artesanal, das cornijas rococós imaculadamente restauradas nos tetos aos candelabros Murano, passando pelos mármores de tonalidade e combinação perfeitas - verde menta, rosa pálido, cinza escuro - usados em todos os banheiros.

Por enquanto o Gritti atrai todas as atenções em Veneza, mas há novos concorrentes a caminho. O renomado hotelier Gordon Campbell-Gray ao que parece está investindo em uma propriedade na cidade, e em junho será inaugurado o Aman Grand Canal, no Palazzo Papadopoli.

Restaurado pela Dottor, uma companhia local, o Palazzo Papadopoli, propriedade do conde Arrivabene Valenti Gonzaga - que continuará a morar no piso superior - também oferece belos detalhes, pisos e afrescos de Tiepolo.

O arquiteto responsável pela renovação, Jean-Michel Galthy, veterano em projetos para a rede Aman, tende a ser mais austero no uso de cores e texturas do que é a norma em Veneza - mas é difícil resistir à opulência, nesta cidade: a elegância suntuosa do Gritti pode convencer alguns dos mais leais hóspedes da rede Aman a mudar de bandeira.

Quartos de casal a partir de 485 libras; www.thegrittipalace.com

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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