Chef eslovena Ana Ros põe tempero italiano na culinária local

Restaurante Hisa  Franko usa produtos regionais em receitas sofisticadas

Sardinha e acompanhamentos apresentados em um prato verde claro sobre uma mesa branca
Sardinha com limão confitado, alcachofras e alho-selvagem do Hiša Franko, na Eslovênia - Suzan Gabrijan/Divulgação
JOSIMAR MELO

Quando a chef Ana Roš sai de seu restaurante na região do rio Soča, na Eslovênia, e sobe o vizinho monte Kolovrat, ela se sente em um terraço mediterrâneo, de onde pode avistar o mar Adriático, a costa que vai da Croácia até Veneza, os barcos ancorados no golfo de Trieste.

No oeste da Eslovênia, na pequena cidade de Kobarid, essa chef mistura a cultura local –expressa, por exemplo, nos pequenos produtores de vinhos do vale e queijos da montanha– com a do nordeste da Itália, cuja fronteira está a poucos quilômetros dali. E transforma tudo isso em receitas sensíveis.

Nem sempre foi assim. O restaurante e hotel Hiša Franko existe há três gerações da família de seu marido, Valter Kramer, mas até conhecê-lo Ana preparava-se para uma carreira diplomática.

Foi quando o casal decidiu assumir a propriedade: Valter como sommelier e mestre afinador de queijos (os dois produtos descansam na mesma zelosa adega), e Ana como chef autodidata que desde então não parou de se aperfeiçoar.

À mesa, os produtos da região abundam. Encostado no restaurante, um riacho alimenta trutas ali mantidas. Elas vêm do rio Soča, de um azul infame, inclusive a rara truta-mármore, mas também a arco-íris e a marrom.

Os queijos Tolminc e Nanoški vêm da montanha, feitos com leite cru da mesma raça de vacas que hoje também fornecem a carne. Os cabritos vêm de Drežnica; os cordeiros, do pasto vizinho, e as ervas e flores, da horta atrás da casa.

A cozinha do Hiša Franko (que significa a casa de Franko, o pai de Valter), pelas mãos de Ana tem apresentação sofisticada e sabor local.

Mas, para mim, os melhores pratos são os que, além de evocar a Eslovênia, trazem uma marca pessoal de atrevimento, uma acidez surpreendente e provocante --como o timo glaceado em mel com maçã da região, raiz-forte e água de sauerkraut (chucrute); ou a truta com cassis, leitelho (soro de leite) e trigo sarraceno.

Impossível não apreciar, também com esse toque provocante, a truta-mármore, tão rara, servida com ervilhas, amêndoas cruas, morangos e uma profusão de ervas; ou a sardinha com limão confitado, alcachofras e alho-selvagem.

Pratos mais cálidos são reconfortantes, como ravióli de lúpulo selvagem e tutano com caldo de presunto cru, óleo de leveduras e avelãs; ou a dobradinha com favas, jus de pato, queijo, urtigas fritas e cogumelos morilles.

O mesmo se pode dizer de duas sobremesas: o merengue de nozes com kefir de 21 dias, pera em camomila, sorvete de mel silvestre e pólen; e o leite defumado com telha de miolo da maçã, creme inglês de cominho e pão caramelizado.

O menor menu da chef Ana –eleita melhor chef mulher na edição 2017 do prêmio World's 50 Best  Restaurants– tem seis passos (€ 85 ou R$ 343,91), e o maior, 11 (€ 120, R$ 485,52). Serão 11 razões para voltar a essa linda região.

Hiša Franko

ONDE Staro selo 1, Kobarid, Eslovênia, tel. +386 5 389 4120

SAIBA MAIS hisafranko.com

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