Um estúdio de tatuagem carioca encerra nesta sexta-feira (29) a sexta edição de um projeto que oferece, gratuitamente, tatuagens hiperrealistas de reconstrução de aréolas para mulheres que passaram por cirurgia de retirada dos seios para tratamento de doenças como câncer de mama.
Criado em 2017 e realizado anualmente pelo casal Yurgan e Anne Barret, o Y Rosa também faz cobertura de cicatrizes, pigmentação de sobrancelhas e outros serviços, executados por Yurgan e por parceiros do projeto. Com a aplicação de um anestésico local, o processo de tatuagem no seio é indolor e dura cerca de 30 minutos.
Em 2021 o Y Rosa recebeu 49 inscrições, das quais 30 pessoas foram efetivamente atendidas. Entre as que não chegaram ao estágio final, estão casos sem autorização médica e pessoas que passaram pela cirurgia de reconstrução recentemente. Elas foram colocadas em uma lista de espera para a próxima edição do evento.
Em suas primeiras edições, o Y Rosa chegou a ser realizado duas vezes no ano e também foi levado para fora do Rio, plano que o casal pretende retomar após a pandemia. Yurgan, 40, que conheceu a mulher no estúdio que hoje administram juntos, o Yurgan Tattoo, perdeu a avó ainda jovem para um câncer de mama.
"Em alguns casos criamos uma réplica da aréola que as mulheres já têm. Outras pedem para fazer alguma coisa mais bonita, um desenho de flores... Separo um bom tempo de atendimento, e sentamos para entender o que a pessoa quer fazer", diz.
Em 2020, o câncer de mama respondeu por 29,7% da incidência geral da doença sobre mulheres, ocupando o topo da lista —em segundo lugar está o câncer no intestino, com 9,2% dos casos gerais.
Além de sofrer com os impactos na autoestima provocados pela queda de cabelos e sobrancelhas, reações comuns durante a quimioterapia, muitas pacientes são submetidas a cirurgias para remoção dos seios.
Algumas recorrem a cirurgias de reconstrução, que podem também refazer aréolas e mamilos. Mas muitas tentam evitar novos procedimentos invasivos após o tratamento.
"Quando fiz a mastectomia total no seio direito, pedi à mastologista que mantivesse a aréola, mas o câncer também atingiu [a região], então tive que retirá-la. Isso tinha um significado muito grande para mim como mulher", diz a funcionária pública Adriana Torres da Silva, 41, uma das participantes desta edição do Y Rosa.
Cerca de 66 mil novos casos da doença são esperados em 2021, com risco estimado de 61 casos a cada 100 mil mulheres, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Se identificada em estágio inicial e tratada corretamente, a doença apresenta um prognóstico positivo em grande parte dos casos.
Um levantamento do Google publicado pela BBC mostrou que, neste ano, o volume de buscas sobre o câncer de mama chegou a seu ponto mais alto desde 2004. É comum que a busca aumente no mês de outubro, quando tem início a campanha internacional de conscientização para a detecção precoce da doença. Criado no início da década de 1990, o movimento Outubro Rosa pretende compartilhar informações sobre esse tipo de câncer a fim de reduzir a sua mortalidade.
Diante do anúncio da campanha do Y Rosa, algumas clientes relatam ter desconfiado se o serviço seria, de fato, gratuito. O preço médio de uma tatuagem similar às que são feitas por Yurgan é de R$ 2.000. Após o primeiro contato com o estúdio e analisando fotos de edições anteriores, o medo dá lugar à contagem regressiva. Durante a semana escolhida para a execução, o estúdio fica majoritariamente dedicado ao Y Rosa.
A administradora Lúcia Polila, 51, diagnosticada com síndrome de Polland aos 15, procurou Yurgan após passar por seis cirurgias para reconstruir o seio esquerdo. Na expectativa de um capítulo final na luta contra a doença, ela foi a segunda pessoa a ser atendida pela edição de 2021.
"Quando eu vi o trabalho dele, tive certeza que iria completar o serviço do cirurgião. É o que faltava para que eu conseguisse olhar para os meu seios no espelho e me admirar", diz ela.
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