Descrição de chapéu cracolândia

'Um olhar te faz querer fumar todo o crack do mundo', diz ex-frequentadora da cracolândia

Há oito anos longe das drogas, assistente social cozinha marmitas para entregar nas ruas

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Fernanda Balsalobre
São Paulo

"Eu me lembro do olhar do ser humano. Muita gente indo trabalhar, e as pessoas olhando com nojo, com medo." Aos 42 anos, a assistente social Bárbara Ezequiel não se esquece das pessoas que passavam por ela enquanto vivia na cracolândia, no centro de São Paulo.

"Com um olhar, um ser humano pode destruir você, acabar com o seu dia, fazer você ter vontade de fumar todo o crack do mundo", diz ela, que passou 16 anos nas ruas depois de experimentar cocaína aos 18 no banheiro de um bar com uma desconhecida.

Chegou ao crack depois de fugir de uma clínica de reabilitação em 2001 e ir morar com um namorado que havia conhecido lá dentro. "Um dia a minha cocaína acabou, e eu quis experimentar o crack que ele usava. Aí começou um caminho muito tortuoso."

A rotina se transformou no consumo de até 40 pedras da droga por dia –e nas tentativas de conseguir dinheiro para comprar mais. Ela conta que cometia pequenos furtos em mercados e lojas e que uma vez foi presa, acusada de ter roubado um carro com o namorado.

"Não foi a gente que roubou, mas uma mulher negra, usuária de crack, e um homem, com várias passagens, perto de um carro roubado, como vai provar que não roubou?"

A assistente social Bábara Ezequiel, 42, na casa em que vive com as três filhas, em São Paulo
A assistente social Bábara Ezequiel, 42, na casa em que vive com as três filhas, em São Paulo - Giovanna Stael/Folhapress

Ela conseguiu provar a inocência, mas o namorado teve de cumprir pena.

Apesar de ter passado por algumas clínicas de recuperação, Bárbara acredita que a fé e a igreja foram fundamentais para tirá-la daquela situação. "Antigamente eu não prestava para a sociedade porque eu era dependente química, hoje em dia as pessoas querem me criticar porque eu sou evangélica", diz no minidocumentário da TV Folha, também disponível em versão com audiodescrição. "Eu fico com a segunda parte que é bem mais saudável."

Longe das drogas, ela cursou faculdade e se formou assistente social. Enquanto faz entrevistas em busca de um emprego na área, cuida das três filhas e cozinha marmitas para entregar aos moradores de rua.

E ainda se emociona ao contar a própria história. "Eu vejo que eu não estou resumida no que eu fui, todo dia é uma nova chance, todo dia eu faço diferente daquilo que muita gente dizia para a minha mãe: que os traficantes iam me matar, que eu ia morrer de overdose. Pela sociedade minha vida já estava decretada, o meu final já estava certo."

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