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Pacote de estímulo ignora a economia verde, dizem críticos
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DENISE MENCHEN
DO RIO
O pacote de estímulo à economia lançado pelo governo federal é alvo de críticas de economistas e empresários, que consideram que o país perdeu a oportunidade de colocar a indústria automobilística no rumo do desenvolvimento sustentável.
O setor foi beneficiado com redução de IPI, maior disponibilidade de crédito e juros menores nos financiamentos para o consumidor.
A avaliação é que, ao incentivar as vendas de automóveis, ônibus e caminhões, o governo deveria ter exigido dos fabricantes investimentos em eficiência energética, redução das emissões de gases do efeito estufa e uso de materiais reciclados em seu processo produtivo, com metas de médio e longo prazo.
As únicas contrapartidas acertadas, porém, foram a redução dos preços ao consumidor final e o compromisso de não demitir funcionários.
"A medida vai esvaziar os pátios das montadoras para encher as ruas das cidades", critica Ricardo Abramovay, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP.
"Enquanto o mundo discute a transição para a economia verde, o que o Brasil está fazendo é estimular a síntese da velha economia, e isso a um mês da Rio+20", diz, citando a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável que ocorre de 20 a 22 de junho no Rio.
SEM BANHEIRAS
Ele lembra que, em 2009, o governo americano condicionou a ajuda a montadoras ao ganho de eficiência energética dos motores, com metas traçadas até 2020. Para ele, o pacote brasileiro poderia ter feito a mesma exigência, além de prever investimentos em infraestrutura para o transporte coletivo.
Para a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, Marina Grossi, o país perdeu a oportunidade de consolidar uma posição de liderança no desenvolvimento sustentável, que ela diz ter sido conquistada "por acaso" -- fruto da matriz energética limpa e da riqueza da biodiversidade nacional.
"Para caminharmos em direção a uma economia mais verde, um passo importante é redirecionar incentivos e subsídios", diz, destacando que o país manda sinais trocados com medidas como a anunciada nesta semana.
"Ao mesmo tempo em que tem um plano de mudanças climáticas, uma lei de resíduos sólidos e vai incluir critérios de sustentabilidade nas suas compras, o governo toma ações como essa", afirma.
Na avaliação da economista, isso acaba gerando um "sentimento de frustração" nos empresários que já incorporaram as preocupações com a sustentabilidade. Ela considera, porém, que esse sentimento é insuficiente para desencorajar as empresas com visão estratégica.
O presidente do Instituto Ethos, Jorge Abrahão, diz que as medidas de estímulo à economia são importantes, mas que é preciso pensar em seus impactos. "Os produtos brasileiros vão ser valorizados quando forem identificados como sustentáveis. O governo poderia ser um indutor desse processo."
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