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Tribunal adia julgamento de acusado de explorar herdeira da L'Oréal
DANIELA FERNANDES
DE PARIS PARA A BBC BRASIL
A Justiça da França adiou nesta quinta-feira o julgamento do fotógrafo François-Marie Banier, acusado ter se aproveitado de uma suposta perda das faculdades mentais da bilionária herdeira do grupo de cosméticos L'Oréal, Lilianne Bettencourt, a fim de obter receber doações de quase 1 bilhão de euros (cerca de R$ 2,2 bilhões).
O adiamento, para uma data ainda não definida, foi anunciado após o surgimento de 21 horas de gravações clandestinas, relacionadas ao caso, feitas pelo mordomo da octogenária.
Segundo o Tribunal de Nanterre (comuna nos arredores de país), responsável pelo caso, o adiamento é necessário para analisar o material.
O Ministério Público decidiu recorrer da decisão do tribunal, e o recurso deve ser apreciado no prazo de um mês. Até lá, o caso fica bloqueado, e a Justiça não pode dar início às investigações sobre a autenticidade e o conteúdo das gravações.
O caso, que até antes da revelação das gravações resumia-se a uma disputa judicial movida pela filha, Françoise Meyers-Bettencourt, para preservar o patrimônio familiar, acabou se transformando em um grave escândalo político na França.
Ilha e contas na Suíça
As gravações do mordomo, feitas entre maio de 2009 e maio de 2010 e anexadas ao processo por Françoise, contêm conversas entre a bilionária e seus assessores, sobretudo com o gestor de sua fortuna, Patrice de Maistre.
As conversas sugerem a prática de evasão fiscal e também citam o atual ministro do Trabalho, na época ministro do Orçamento, Eric Woerth.
Ele está sendo acusado pela oposição de estar ciente, na época, de supostas operações para driblar o fisco por parte da empresária, já que sua esposa, Florence, trabalhava na Clymène, empresa que administra a fortuna de Bettencourt.
Segundo as gravações, reveladas pelo site jornalístico Mediapart, a maior acionista da L'Oréal não teria declarado ao fisco francês duas contas na Suíça que totalizam 78 milhões de euros e o fato de também ser proprietária de uma ilha no arquipélago de Seicheles, no Oceano Índico.
Nos áudios, divulgados pela imprensa francesa, são sobretudo os assessores que falam, lembrando a herdeira de suas contas e sugerindo operações financeiras.
Bettencourt, que seria surda, segundo seu próprio advogado, Georges Kiejman, responde por monossílabos e de maneira quase inaudível.
Após a revelação, Bettencourt, cuja fortuna é estimada em 16 bilhões de euros, informou em um comunicado que irá "regularizar a totalidade dos bens familiares que estão no exterior, em colaboração com a Receita".
Política
O papel desempenhado pelo ministro Woerth, que enquanto ocupou a pasta do Orçamento era responsável pela luta contra a fraude fiscal, vem movimentando a imprensa francesa e a classe política do país nas últimas duas semanas.
As conversas entre a herdeira da L'Oréal e seus assessores também revelam doações para campanhas eleitorais de membros do governo, no valor de até 7,5 mil euros, conforme prevê a lei, incluindo o presidente Nicolas Sarkozy e o próprio Woerth.
O ministro, que também é tesoureiro do partido governista UMP, afirmou "nunca ter recebido dinheiro a título pessoal" e alegou que as doações a membros do UMP foram feitas no contexto da "vida política" francesa e "são totalmente legais".
Woerth afirmou também nunca ter "impedido nem solicitado" um controle fiscal do patrimônio de Bettencourt.
A esposa do ministro pediu demissão em 25 de junho da Clymène, afirmando ter "subestimado o conflito de interesses" que poderia ter surgido em função do cargo de seu marido no governo.
O jornal Le Monde publicado na tarde desta quinta-feira revela que Woerth jantou com a herdeira da L'Oréal em janeiro de 2008. O ministro confirmou o fato e afirmou que "tanto a direita quanto a esquerda já almoçaram ou jantaram com a família Bettencourt".
François Baroin, atual ministro do Orçamento, declarou na quarta-feira que irá solicitar uma investigação da Inspeção Geral das Finanças sobre o papel de Woerth no caso Bettencourt.
Os deputados socialistas pediram a criação de uma CPI para investigar o caso.
O enfraquecimento do ministro do Trabalho é um problema para o presidente Sarkozy. É ele quem está conduzindo a polêmica reforma da aposentadoria na França.
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