Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
03/02/2011 - 10h49

Oposição acusa Chávez de manter juíza como presa política

CLAUDIA JARDIM
DA BBC BRASIL, EM CARACAS

Organizações de defesa dos direitos humanos e opositores acusam o governo de Hugo Chávez na Venezuela de manter como presa política uma juíza que ordenou a libertação de um banqueiro acusado de fraude, há pouco mais de um ano. Os grupos afirmam que o caso de Maria Lourdes Afiuni levanta suspeitas sobre a independência do Judiciário venezuelano.

A juíza tem conseguido adiar repetidamente o início de seu julgamento, por considerar-se uma vítima de perseguição do presidente Chávez, afirmando que a Justiça não será imparcial em seu caso.

"Sou uma juíza sequestrada por ordem de Chávez", disse Afiuni em entrevista à BBC Brasil.

Nesta quinta-feira, Afiuni, 47, que sofre de câncer, obteve prisão domiciliar --uma das reivindicações que a defesa da magistrada venezuelana vinha fazendo nos tribunais.

Afiuni foi acusada de corrupção e abuso de autoridade há 13 meses, após ter decretado a libertação do banqueiro Eligio Cedeño, acusado de evasão fiscal, fraude bancária, contrabando e obtenção ilegal de divisas. Opositores de Chávez dizem que Cedeño era considerado inimigo do governo, por ter se oposto abertamente à política fiscal do país.

Cedeño ficou aguardando por três anos na prisão por sua primeira audiência na Justiça, o que excede os limites legais do país --de dois anos. Após a libertação, Cedeño deixou o país e está buscando asilo político em Miami.

De acordo com o Ministério Público, Cedeño foi libertado às 11h da manhã em Caracas e à tarde chegava a Miami, nos Estados Unidos.

"Viajar para Miami não é assim tão fácil. Havia toda uma estrutura do lado de fora que faz o Ministério Público presumir que isso estava planejado", afirmou à BBC Brasil a Procuradora-Geral da República, Luisa Ortega Díaz, responsável pelo indiciamento da juíza.

Afiuni foi presa minutos depois de Cedeño ter deixado o país, e logo depois acusada pelo Ministério Público de corrupção, abuso de autoridade e complô para evasão.

No dia seguinte à sua prisão, o presidente venezuelano Hugo Chávez disse que Afiuni deveria ser condenada a "30 anos de prisão" por ter libertado o banqueiro. "Se vamos ter juízes delinquentes, salve-se quem puder", afirmou então Chávez.

PRISÃO DOMICILIAR

De acordo com a Justiça venezuelana, a principal acusação contra Afiuni é a de que ela teria sido subornada para facilitar a libertação do banqueiro. O Ministério Público, no entanto, reconhece não ter encontrado provas materiais que comprovem que Afiuni teria recebido dinheiro para colocar Cedeño em liberdade.

"O Ministério Público comprovou que houve promessa e compromisso [de pagamento]. O que não determinou é onde estava o dinheiro", afirmou Ortega Díaz.

A Procuradora-Geral da República questiona o fato de a juíza ter libertado Cedeño mesmo sabendo que seu sócio, Gustavo Arraiz, do Consórcio Movistar, havia sido condenado a seis anos de prisão, depois de confessar participação na operação que incluía compra fraudulenta de dólares.

Ortega Díaz alega ainda que Afiuni realizou a audiência sem a presença dos procuradores do Ministério Público --que neste caso era a parte acusadora.

'PRESO POLÍTICO'

Em sua cela de 2x3 metros no Instituto Nacional de Orientação Feminina (INOF), Afiuni diz que não se submeterá a julgamento por um crime que não cometeu.

Afiuni argumenta ter libertado Eligio Cedeño por considerar que o banqueiro havia sido preso "arbitrariamente".

"Considerei-o como um preso político depois de ver seu histórico, depois de três anos de prisão", afirmou.

As ONGs de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional e Human Rights Watch condenaram a prisão de Afiuni. Em Caracas, um grupo de estudantes opositores deu início a uma greve de fome para exigir a libertação do que consideram ser presos políticos, entre eles Afiuni.

O representante da Venezuela na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA), German Saltron, afirma, entretanto, que a prisão de Afiuni mostra que a Justiça no país passou a ser aplicada para "crimes de colarinho branco que nunca iam para a prisão neste país".

"Aqui banqueiros, políticos e juízes cometem delitos e quando são julgados, dizem que são perseguidos políticos", afirmou ele à BBC Brasil.

Para ele, há uma "campanha" articulada entre a oposição e organismos internacionais para "satanizar" o governo Chávez.

Apesar de ter cela especial e contar com privilégios que outras detentas não têm, Afiuni disse à BBC Brasil temer por sua segurança porque ela foi responsável pela condenação de várias daquelas detentas. "Há casos que fui eu quem determinei a prisão, outros não, mas para essas presas eu represento o símbolo de repressão", afirma.

Afiuni e seus advogados acusam o juiz Ali Paredes, que chefia o caso, de ser favorável ao governo Chávez.

"Qualquer juiz que assumir meu processo, mesmo que não seja Paredes, vai acatar a decisão do presidente", disse a juíza, ao argumentar não confiar na independência da Justiça do país, da qual ela fazia parte há pouco mais de um ano.

+ Livraria

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página