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02/06/2011 - 08h51

"Por que um latino não pode ajudar a Europa?", diz mexicano candidato ao FMI

JOÃO FELLET
DA BBC BRASIL, EM BRASÍLIA

Candidato à direção do Fundo Monetário Internacional (FMI), o presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens, diz que a América Latina está sub-representada no órgão e que a eleição de um não europeu ao cargo máximo do Fundo pode ajudar a solucionar a crise econômica na Europa.

"Alguém que venha de outra região do mundo, com um ponto de vista mais objetivo, poderia trazer ideias e soluções que os europeus podem não considerar. Se um europeu pôde comandar a ajuda do FMI à América Latina anos atrás, por que um latino-americano não pode ajudar a Europa a sair da crise?", questiona Carstens, em entrevista à BBC Brasil.

Evaristo Sa-01º.jun.2011/France Presse
Presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens, diz que a América Latina está sub-representada no órgão
Presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens, diz que a América Latina está sub-representada no órgão

Em campanha internacional por sua candidatura, Carstens se reuniu nesta quarta-feira em Brasília com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. A vinda do mexicano ocorre dois dias após visita similar da ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, também candidata à direção do FMI.

Mantega disse que o governo só anunciaria seu voto após se reunir com todos os candidatos --por ora, contudo, apenas o mexicano e a francesa se lançaram à disputa.

O Fundo deve escolher o sucessor do francês Dominique Strauss-Khan, preso em maio nos Estados Unidos acusado de agredir sexualmente uma camareira, até o dia 30 deste mês.

Leia os principais trechos da entrevista com Carstens, que já ocupou a presidência do Comitê de Desenvolvimento do Banco Mundial e foi o diretor-executivo do FMI para México, Espanha, Venezuela e América Central.

BBC Brasil: Quais seriam suas principais metas caso seja escolhido o novo diretor-gerente do FMI?
Agustín Carstens - A principal seria manter uma instituição coesa e legítima. Uma instituição para 187 membros, em que todos se sintam representados e sejam igualmente tratados.
Além disso, o FMI precisa ampliar seu entendimento sobre o papel da liquidez na economia global. As interrupções bruscas na liquidez têm sido um grande fator no desencadeamento da crise atual. O Fundo deve adaptar seus instrumentos para responder melhor a essas interrupções e precisa ampliar sua vigilância no setor financeiro. Hoje sabemos que esse setor pode ser um elo muito frágil e gerar muitas consequências negativas para os países e para o setor econômico global.
O senhor conversou sobre o aumento da participação de países emergentes no Fundo com o ministro Mantega? Concorda com a opinião dele?
Carstens - Sim, nós compartilhamos completamente as visões. Tanto México quanto Brasil apoiam esse movimento em direção a uma participação maior de mercados emergentes nas cotas do fundo (participação dos países no capital do FMI). Os dois países já tiveram um aumento recente nas suas participações, mas novos passos precisam ser dados.

Alguns analistas dizem que, devido à proximidade entre Estados Unidos e México e a alguns de seus trabalhos anteriores, sua gestão no FMI tende a ser "ortodoxa". Como responde a esses comentários?
Primeiro gostaria de saber o que ortodoxo significa (risos). Ao longo de minha carreira, aprendi que a coisa mais valiosa num funcionário público é ser pragmático. Mas não há fórmulas que funcionam todo o tempo, então também é preciso pensar de outra forma para alcançar os resultados desejados. Ser diretor-gerente do FMI implica ajudar os países, e essa ajuda costuma se dar num ambiente bem incerto. Portanto, é preciso ser flexível e ter a cabeça aberta para contemplar soluções diferentes.

Alguns defensores da candidatura da ministra francesa Christine Lagarde dizem que, já que o Fundo tem lidado diretamente com a crise europeia, é desejável que um europeu comande o órgão. O que acha do argumento?
Acredito que alguém que venha de outra região, com um ponto de vista mais objetivo, poderia trazer ideias e soluções que os europeus podem não considerar. Especialmente se essa pessoa tiver experiência no gerenciamento de crises, o que eu tenho.
Quando a América Latina estava em maus lençóis, o Fundo nos ajudou substancialmente, embora fosse gerido por um europeu. Se um europeu pôde comandar a ajuda à América Latina, por que um latino-americano não pode ajudar a Europa a sair da crise?

O senhor acredita que pode vencer, apesar do apoio recebido por Lagarde entre os países europeus?
É um desafio. Estamos tentando quebrar uma tradição de 65 anos (desde então, todos os diretores-gerentes do FMI são europeus), mas só há competição porque os países decidiram que devemos promover um processo transparente e baseado no mérito. E acho que tenho méritos para me tornar o diretor-gerente do Fundo.
Brasil e México disputam um papel de liderança na América Latina. Isso pode ser um entrave para que o governo brasileiro apoie sua candidatura?
Acho que há mais coisas a nos unir do que a nos separar. Aliás, uma das coisas em que tanto eu quanto o ministro Mantega concordamos completamente é que precisamos ampliar a voz e a representação da América Latina no Fundo independentemente do resultado deste processo. A região está sub-representada no Fundo, e com a minha vitória daria um grande passo adiante. Mas, mesmo se não chegarmos lá, precisamos ganhar mais representatividade por outros meios.

Quais são os maiores desafios que a economia mundial enfrentará nos próximos anos?
Há vários. Primeiro, precisamos efetuar outras reformas no setor financeiro. Fizemos progresso substancial no planejamento das reformas sobre controle de liquidez, formas de facilitar a solução de problemas financeiros, de ajudar instituições financeiras importantes sob risco. Agora precisamos implementá-las, para que o sistema financeiro não seja o elo mais frágil da cadeia.
Outra questão é a crise na Europa, onde vários países enfrentam problemas na sustentabilidade de suas dívidas. E também há o desafio de combinar a
estabilização em diferentes regiões do mundo com a capacidade para criar empregos. A falta de emprego nos EUA, na Europa, ou mesmo no norte da África e no Oriente Médio é um problema. Precisamos encontrar meios de alcançar resultados de longo prazo em termos de estabilidade macroeconômica, mas, ao mesmo tempo, maximizar a geração de empregos.

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