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Americanos veem país mais seguro, mas menos respeitado após 11/9
ALESSANDRA CORRÊA
DA BBC BRASIL, EM WASHINGTON
Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos aponta que, para mais da metade dos americanos entrevistados, o país está mais seguro contra o terrorismo hoje em dia do que antes dos atentados de 11 de setembro de 2001.
No entanto, segundo o levantamento, realizado pelo Public Religion Research Institute em conjunto com o Brookings Institution, em Washington, quase sete em cada dez americanos dizem que os EUA são hoje menos respeitados no resto do mundo, e 77% afirmam ter menos liberdades pessoais.
Passados dez anos dos atentados realizados por extremistas islâmicos, a pesquisa sugere que a imagem da religião permanece prejudicada e que ainda há grande desinformação por parte dos americanos a respeito dos muçulmanos e suas crenças.
"Apesar de a maioria dos líderes ter se empenhado em traçar uma clara distinção entre 'terror', 'violência extremista' e 'jihadismo' de um lado e o Islã de outro, seus esforços foram apenas parcialmente bem-sucedidos", dizem os analistas William Galston e E. J. Dionne Jr, do Brookings Institution.
Três em cada dez americanos admitem não saber nada sobre as práticas e crenças religiosas dos muçulmanos, e quase metade dizem que os valores muçulmanos são incompatíveis com o estilo de vida americano.
Quase metade também afirma não se sentir confortável com a possibilidade de construção de uma mesquita perto de suas casas, e outros 45% afirmam sentir desconforto ao ver um grupo de muçulmanos ajoelhados rezando em um aeroporto.
Ao mesmo tempo, 88% dos americanos concorda que seu país foi fundado sobre a ideia de liberdade religiosa para todos, incluindo para grupos impopulares.
PARALELO
A pesquisa --feita por telefone entre os dias 1º e 14 de agosto com 2.450 pessoas nos Estados Unidos-- aponta ainda que 44% dos americanos acreditam que, quando pessoas cometem atos de violência em nome do Islã, elas estão agindo como muçulmanos.
"Para colocar esse número em perspectiva, somente 13% disseram que cristãos que cometem atos de violência em nome do Cristianismo estão agindo como cristãos", dizem Galston e Dionne no relatório que acompanha a pesquisa - que tem margem de erro de dois pontos percentuais.
Os dois analistas veem um paralelo entre as atitudes dos americanos em relação aos muçulmanos e aquelas destinadas a católicos e mórmons nos séculos 19 e 20, quando essas duas crenças representaram "um teste ao comprometimento com a liberdade religiosa" presente na fundação dos Estados Unidos.
"Quase um terço dos entrevistados disse acreditar que os muçulmanos americanos querem estabelecer a sharia como a lei do país", afirmam.
"Assim como uma parcela significativa de protestantes americanos também temia (no passado) que os católicos inserissem sua religião na lei americana se tivesse a oportunidade."
Os pesquisadores ressaltam, porém, que enquanto em alguns episódios passados a política de governo acompanhou o sentimento da população-- como na perseguição a alemães durante a Segunda Guerra ou a japoneses após o ataque a Pearl Harbor--, o fato de os ataques de 11 de setembro não terem provocado reações tão extremas reflete as mudanças culturais e legais pelas quais o país passou nas últimas décadas.
Os analistas salientam ainda que 54% dos americanos consideram os muçulmanos uma parte importante da comunidade religiosa do país.
"No braço de ferro entre o respeito pela diversidade religiosa e a memória do 11 de Setembro, as forças da abertura parecem ter vantagem, pelo menos quando se considera o país como um todo", dizem.
DIFERENÇAS PARTIDÁRIAS
Os números gerais, no entanto, escondem "grandes diferenças entre partidos, ideologias e grupos demográficos", afirmam os autores do estudo.
"Enquanto 58% dos americanos são muito ou razoavelmente favoráveis aos muçulmanos, esse percentual cai para 47% entre republicanos (ante 65% entre democratas) e apenas 44% entre simpatizantes do Tea Party (movimento que reúne vários grupos conservadores)", diz o relatório.
As diferenças partidárias e ideológicas também são percebidas quando se discute a opinião desfavorável que as pessoas em países muçulmanos têm sobre os Estados Unidos.
Entre os conservadores, apenas 15% dizem que essa opinião é justificada. Esse percentual sobe para 26% dos independentes e 40% dos liberais.
"É difícil resistir à conclusão de que as atitudes em relação aos muçulmanos se tornaram parte integral do conflito cultural que inunda a política americana atualmente", diz o relatório.
IMIGRANTES
Segundo os autores, a mesma divisão ideológica é verificada nas atitudes em relação aos imigrantes.
"Enquanto democratas e republicanos, liberais e conservadores, simpatizantes e não-simpatizantes do Tea Party concordam que os imigrantes estão provocando mudanças em suas comunidades e seu estilo de vida, as avaliações desse fato diferem bruscamente", afirmam os autores.
De acordo com o relatório, a maioria dos republicanos, conservadores e simpatizantes do Tea Party acreditam que as mudanças são para pior, enquanto a maior parte dos democratas, liberais e não-simpatizantes do Tea Party expressam visão positiva sobre essas mudanças.
A idade e o nível de educação também influenciam a percepção dos americanos em relação aos imigrantes.
Enquanto 68% dos jovens dizem que as mudanças trazidas pelos imigrantes são positivas, esse percentual cai para apenas 36% entre os americanos com mais de 65 anos de idade.
REFORMA
Os autores do estudo afirmam que a divisão partidária é uma das razões que tornam tão difícil a aprovação de uma reforma das leis de imigração dos Estados Unidos - prometida pelo presidente Barack Obama ainda durante a campanha, mas que enfrenta forte resistência no Congresso.
Mais de quatro em cada dez americanos consideram a imigração ilegal uma questão crucial enfrentada pelo país, e outros 35% dizem que é uma entre as questões mais importantes, enquanto apenas 40% dizem que o atual sistema de imigração funciona.
A pesquisa indica, porém, que apesar de mais da metade dos americanos ser favorável à possibilidade de regularizar a situação de imigrantes ilegais que estão há vários anos nos Estados Unidos, a maioria não tem opiniões fortes sobre o tema --e a maior parte dos que têm são contrários à reforma das leis de imigração.
Esses números, segundo os autores, não favorecem a ação no Congresso para pressionar por reformas.
"Eleitores com opiniões sobre imigração fortes o suficiente para serem levadas em consideração na hora de votar parecem mais dispostos a punir os apoiadores da reforma", diz o relatório.
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