Isabelle Moreira Lima

Jornalista especializada em vinhos, editora executiva da revista Gama e autora da newsletter Saca Essa Rolha

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Isabelle Moreira Lima
Descrição de chapéu Dia dos Namorados

'Borbulhas de Amor' e outros vinhos para o Dia dos Namorados

A bebida deve ser leve, menos alcoólica e sem extravagância para não roubar a cena

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Alguém inventou que vinho combina com amor. Talvez tenha sido Eurípides, quando escreveu que se não há vinho, não há Afrodite, em "As Bacantes". O fato é que o mundo acreditou e mais de 2.000 anos depois não é difícil que achemos essa relação na literatura, no cinema, na música e na nossa vida cotidiana. É só pensar: quantas vezes você já pensou em tomar uma taça com alguém que estava no seu radar amoroso?

Estamos na semana do Dia dos Namorados e os que vão comemorar devem estar programando que garrafa vão abrir. Um dos segredos para ser feliz com o vinho é a harmonização: saber casar o vinho com a comida seria a definição mais tradicional dessa prática. Mas acho que é importante também pensar em como harmonizar com a ocasião.

Para a celebração do Dia dos Namorados, imagino que a bebida deva ser agradável para dar prazer, leve para não empanturrar, menos alcoólica para não embotar a cabeça, novidadeira para gerar assunto e expressiva para marcar o momento na memória, mas não extravagante a ponto de roubar a cena. E, claro, se há comida junto, vamos adicionar a harmonização com o prato a essa conta.

Entre as combinações clássicas de amor, o fondue foi o primeiro que me veio à cabeça. É curioso, muita gente aposta em tintos para esse prato, mas são os brancos que melhor casam com ele, considerando sua base de queijo. Bebidas feitas com chardonnay com pouca ou nenhuma passagem por madeira vão bem, assim como brancos das regiões do Douro, mais elegantes, e do Rhône, mais volumosos.

Já para as ostras eu indico os brancos minerais. Se você tem bastante dindin para investir, há três combinações bastante festejadas: a com o neozelandês Cloudy Bay, um sauvignon blanc bastante cítrico, que traz ainda notas tropicais e certa mineralidade; a com vinhos de Chablis, no norte da Borgonha, que são ultraminerais, com uma acidez vivíssima e podem trazer notas até de giz; e a com champagne blanc de blanc, feita geralmente com chardonnay.

Se o orçamento não permitir, não se acanhe e tente outros sauvignons blancs, chardonnays sem madeira e espumantes de outras partes do mundo, eles também vão funcionar.

Morangos com Champagne seco são outro clichê do amor e eu venho aqui para derrubar ídolos do altar e dizer que talvez não seja boa ideia. O melhor mesmo seriam os espumantes feitos com moscatel, que abundam no mercado brasileiro. Um Moscato d’Asti é a melhor sugestão da inglesa Fiona Beckett, especialista em harmonização do jornal inglês The Guardian.

Ferreira Gullar, no verso musicado por Fagner, falava em "fazer borbulhas de amor para te encantar". Pra mim não tem jeito: os hors concours do namoro são eles mesmos, os espumantes. Estão entre os vinhos mais coringas do mercado e são os mais fáceis de combinar com a comida.

Vinhedo na região de Champagne durante o outono - Pascal Rossignol/Reuters

Isso porque justamente as borbulhas (ou perlage, o termo técnico para elas) têm a capacidade de limpar o paladar entre uma garfada e outra, preparando o apetite para mais e mais, tudo isso sem pesar porque costumam ter ótima acidez, o que deixa a bebida mais equilibrada. Eles vão bem com pratos e também com o romance apenas, se for o caso.

Pelo apelo visual, o vinho rosé é outro bom candidato para o brinde dos enamorados. A boa notícia é que vai muito bem com pratos feitos à base de camarão e outros crustáceos, que são boa opção para um jantar romântico. Também não faz feio ao lado de carpaccio, alguns pratos de acento asiático e pode mostrar versatilidade com uma mesa variada de comidinhas para beliscar.

Agora se você não abre mão de beber um vinho tinto, sugiro ficar nos mais leves, com menos corpo, menos álcool e mais acidez, para que a noite possa continuar sem contratempos depois do jantar.

Vai uma taça?

No clima Eurípides, a sugestão de borbulha é o Viapiana Espumante Exóticos Sur Lie (R$ 132 na loja online da vinícola), feito com viognier e riesling itálico e com notas de pera e pão, que tem uma figura clássica grega no belo rótulo. Ele traz as leveduras na garrafa, o que lhe dá um aspecto turvo e um caráter um pouco mais rústico, mas é delicioso e é justamente o que imagino quando falo que vai render assunto.

O vinho Viapiana Espumante Exóticos Sur Lie
O vinho Viapiana Espumante Exóticos Sur Lie - Divulgação

Para quem gostou da ideia de abrir um branco para o fondue, a dica é o Flor de Crasto Branco (Qualimpor, R$ 89), que é produzido no Douro e é uma boa amostra de qualidade da vinícola Quinta do Crasto: tem corpo, é redondo e elegante.

E para quem não abre mão do tinto, aqui vai um achado dos achados: o francês Le Petit Comptoir (Wines4U, R$ 130), que é feito com 60% de merlot e 40% de cabernet franc, em solo argilo-calcário de Pomerol, margem direita de Bordeaux. Se você acha que a região clássica só faz vinho de château careta, esse vinho de pequeno produtor vai surpreender. Moderninho, é delicioso, desce fácil e justamente não vai pesar e atrapalhar a noite.

Le Petit Comptoir, vinho da região de Bordeaux
Le Petit Comptoir, vinho da região de Bordeaux - Divulgação

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