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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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É preciso agir de maneira mais forte para cativar os torcedores no Brasil

A média de público do Campeonato Paulista subiu 35% em comparação com o ano passado. Está em 8.800 pagantes por partida.

Na quarta-feira (8), o Maracanã recebeu 61 mil espectadores para Flamengo x San Lorenzo, o maior público do Brasil em 2017.

Um pouco mais cedo, o Camp Nou registrou o maior número de torcedores em qualquer estádio do mundo neste ano: 96 mil.

Covardia!

O número de espectadores no Brasil cresce de maneira tímida e, ainda que seja expressivo o índice de 35% no Paulista, é preciso agir de maneira mais forte para cativar torcedores que fogem todos os dias para os torneios internacionais.

O menino João Filipe, morador do Méier, no Rio, divide-se entre a paixão de seu pai, o Flamengo, e a de seu coração, o Barcelona. Quando terminou o primeiro tempo contra o Paris Saint-Germain, João Filipe telefonou para seu pai, já no Maracanã para Flamengo x San Lorenzo.

O menino estava esperançoso com o placar de 3 a 0.

No final da partida, eufórico com os 6 a 1.

João Filipe jamais esquecerá o dia em que viu o Barcelona produzir a maior virada da história da Liga dos Campeões.

Aos poucos, o futebol se aproxima da NBA. Qualquer amante de basquete torce pelos Knicks, ou Lakers, ou Celtics, Miami Heat... Uma geração ainda gosta do Chicago Bulls, por causa de Michael Jordan.

Alguém torce por algum clube brasileiro?

No futebol, ainda não é assim.

Mas a reação instantânea à virada do Barcelona, quarta-feira, com a explosão de comentários nas redes sociais indica como o fervor pelos clubes estrangeiros espalha-se em progressão geométrica.

Entre as pessoas acima dos 25 anos, há quem tenha seu time estrangeiro e também um brasileiro. Quem está na faixa de dez anos, como o menino João Filipe, já torce mais pelo Barcelona do que pelo Flamengo, pelo Corinthians, Palmeiras, São Paulo...

O aparente absurdo de ser fã de um clube de outro país é tão explicável quanto o Corinthians ter mais torcedores no Mato Grosso do que o Mixto.

Crédito: Ronny Santos - 21.fev.2017/Folhapress Torcida na partida entre São Paulo e São Bento pelo Paulista
Torcida na partida entre São Paulo e São Bento pelo Paulista

Fica mais grave quando o melhor jogo do fim de semana está distante das manchetes, por ser jogado no sábado, caso do clássico de ontem entre Palmeiras e São Paulo. Quando você sai às ruas e o comentário na padaria é sobre a disputa pelo título espanhol é porque se está perdendo a guerra.

Não é de se menosprezar o trabalho da Federação Paulista, que faz subir 35% a presença de espectadores. Mas é preciso mais. As ações precisam passar pelos clubes. Encerrar de vez a lenda de que no passado os campos estavam sempre lotados e diagnosticar a realidade.

Sempre houve aqui público grande em jogo grande e pequeno em jogo pequeno. O único desafio a esta lógica histórica no Brasil são os planos de sócios-torcedores com milhagem. Palmeiras e Corinthians têm levado 30 mil por partida, porque só terá acesso ao bilhete numa eventual final de Libertadores quem for também às partidas micadas, contra São Bento e Ferroviária.

Quem vai ao estádio cria relação íntima com seu clube. É o único jeito de evitar que o torcedor de poltrona exerça seu livre direito de escolher um time estrangeiro para torcer.

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